O ex-presidente da Câmara de Ribeirão Preto, Walter Gomes (PTB), deixou o Centro de Detenção Provisória (CDP) de Serra Azul no início da manhã desta sexta-feira, 3 de novembro, em direção a um hospital particular na Zona Sul de Ribeirão Preto, onde foi submetido a uma cirurgia para corrigir um desvio de septo. Ele chegou com os pés e as mães algemados e escoltado pos dois agentes penitenciários e dois policiais militares. Não houve contratempos e o petebista, alvo da Operação Sevandija, deve ter alta entre a tarde deste sábado (4) e domingo (5).
A informação é de seu advogado de defesa, Júlio Mossin. Preso na Operação Sevandija há quase um ano, desde 14 de dezembro, Walter Gomes passou por cirurgia no início da tarde de ontem, depois que melhorou de um quadro de pressão arterial elevada que impedia o procedimento, e segue em recuperação. A Justiça permitiu que a mulher do ex-vereador o acompanhasse no hospital, mas demais visitas estão proibidas, assim como o ingresso com telefone celular ao interior do quarto.
A defesa chegou a pedir autorização para que o ex-presidente da Casa de Leis usasse roupas comuns no dia da operação, mas a solicitação foi negada pelo juiz Lúcio Alberto Enéas da Silva Ferreira, da 4ª Vara Criminal de Ribeirão Preto, onde tramitam as ações penais da Sevandija. Assim que receber alta, o ex-presidente do Legislativo deve ser levado de volta ao CDP de Serra Azul. A Justiça ainda deve se posicionar em relação a um pedido de prisão domiciliar em favor do réu. O Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) ainda não deu parecer sobre a solicitação.
Na solicitação, a defesa diz que além dos cuidados que o ex-vereador deverá ter durante o pós-operatório, ele também sofre de hipertensão arterial sistêmica, com predisposição a enfarte agudo do miocárdio. Segundo Mossin, o pedido é baseado e em relatório médico da unidade prisional. O laudo aponta que Walter Gomes, após a cirurgia, corre o risco de contrair infecções recorrentes, crises hipertensiva e de pânico com insônia, o que leva a uma vida penosa com atendimentos médicos frequentes.
No relatório ao que o Tribuna teve acesso, a defesa afirma ainda que o ex-presidente da Câmara, durante as crises, é atendido com cuidados respiratórios, inalações, calmantes e medicamentos para crise hipertensiva, o que lhe causa ainda mais sofrimento. Além do risco de enfarte, das crises de pânico e insônia e dos problemas respiratórios, Mossin ressalta que é dever do Estado garantir ao preso o “respeito à sua integridade física e moral e que a prisão domiciliar é necessária tendo em vista o princípio da dignidade da pessoa humana”.
De acordo com a força-tarefa da Operação Sevandija, Gomes e outros oito parlamentares da base aliada da ex-prefeita Dárcy Vera (PSD) se beneficiaram da indicação de cabos eleitorais para ocupar cargos terceirizados na prefeitura de Ribeirão Preto. Além disso, os ex-parlamentares são acusados de receber propina para aprovar projetos de lei de interesse da ex-chefe do Executivo. Dono da Atmosphera Construções e Empreendimentos, o empresário Marcelo Plastino também era réu no caso, mas morreu em novembro de 2016. Ee mantinha uma estreita relação com a Companhia de Desenvolvimento Econômico (Coderp) e venceu várias licitações.
Durante a investigação, o ex-presidente da Câmara foi filmado em um encontro com Plastino, em que aparece recebendo das mãos dele um envelope dentro de uma revista. Para a Sevandija, o empresário entregou dinheiro de propina ao ex-vereador. Na primeira fase da operação, cédulas de R$ 2 apreendidas pela Polícia Federal em um cofre no apartamento de Plastino apontaram indícios de uma suposta contabilidade do esquema de propina, operado na Câmara e na prefeitura.
Gomes também é acusado de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio. Segundo a Polícia Federal e o Gaeco, o ex-vereador se desfez de bens não declarados à Justiça e que estavam em nome de terceiros. Quando a Sevandija foi deflagrada, agentes da PF e do Gaeco apreenderam R$ 14,2 mil em dinheiro no gabinete do ex-presidente da Câmara. Ele nega a prática de qualquer ato ilícito. Na terça-feira, 31 de outubro, ele depõs no Fórum Estadual de Justiça. Não respondeu às 62 perguntas feitas pelo promotor, mas disse ao juiz que é inocente.