Aqui, em Ribeirão Preto, tivemos personagens que marcaram época. Escrevo hoje sobre o fotografo Conti. Era uma figura, muito avançado para seu tempo, lá nos anos de 1970, um bon-vivant, sempre elegante. Parecia um mágico. Tirava leite de pedra. Do nada, de repente, ele aparecia na cidade com uma novidade e logo, logo, pelos quatro cantos de Ribeirão, todos ficavam sabendo.
Foi ele que introduziu a permuta publicitária em Ribeirão Preto, numa época em que não tínhamos TV. Ele comparecia a todos os programas das rádios locais, vendia o seu peixe e em troca tirava fotos de todos. Noutra feita, ele teve a sacada de plastificar carteirinhas de estudantes. Foi o maior sucesso – qual estudante que não queria ter a sua? Todos queriam, foi uma loucura.
A mente criativa de Conti estava sempre a mil, do nada ele tirava um coelho da cartola. Um belo dia, pintou no pedaço com um ônibus, do qual fez um laboratório fotográfico. Contratou o saudoso radialista Porto Alegre, um ser humano de primeira. Portinho viajava para cidades vizinhas vendendo a ideia aos prefeitos, que embarcaram na novidade e por um tempo faturaram um bocado.
Conti estava em todos acontecimentos sociais. Festa naquela época com sua presença era glamour garantido. Naquele tempo, casava-se mais. A grande atração da cerimônia, claro, eram os noivos, mas o protagonista acabava sendo ele, que levava como auxiliares três ou mais fotógrafos.
A igreja, lotada, e Conti, com seu reluzente terno branco, locomovia-se por ela toda. Os convidados o acompanhavam com o olhar pra ver se ele ia aprontar alguma coisa. Conti era o cara. Certa vez, comprou um avião de dez lugares. Tinha dias em que convidava amigos para ir até o Guarujá comer camarão, um bate e volta na companhia do bon-vivant.
Quando estourou a corrida do ouro em Serra Pelada, uma luz acendeu em sua cabeça. Foi lá, comprou e fez de um simples hotel uma luxuosidade. Foi um acontecimento, roupas de cama da mais pura seda, tudo muito chique. Contratava lindas moças como atração, e a frequência era de endinheirados do Brasil todo. Conti encheu malas de dinheiro e voltou pra Ribeirão Preto como o “rei da cocada preta”.
No começo da rua Álvares Cabral havia o Cine São Jorge, já desativado, montou ali uma magnífica casa de shows. Para sua inauguração, contratou uma orquestra de tangos de Buenos Aires. A casa estava superlotada, a calçada daquele quarteirão estava bufando de gente. D repente, chega uma limusine preta e dela desce Conti, de fraque e cartola. Abriu-se um corredor no meio do povo e ele entrou na casa sendo aplaudido como se fosse um artista.
Conti foi sócio do Restaurante JR, na esquina da avenida Nove de Julho com a rua São José, onde hoje é o Habib’s. Certa vez Sócrates contou-me que sempre ia lá com vários amigos e gastavam muito. Isso fazia a alegria do dono, que mesmo com a casa lotada, dava um jeito. Em pouco tempo o garçom lhe dava um toque para entrar.
Certa vez, viu que uns jovens armaram o maior sururu quando ele e sua turma ocuparam uma mesa. O Magrão chamou o garçom e ele explicou que o Conti, quando soube que o Sócrates estava lá fora com uma galera, verificou as comandas das mesas e mandou a fechar a conta daquele que gastava menos. Parece que os clientes não gostaram, e no bate-boca Conti disse: “Mesa que não gasta dá prejuízo pra casa”.
Sócrates, constrangido, foi até lá, disse que não sabia que agiam assim quando ele chegava e, pediu ao Conti para que não fizesse mais isso, que esperaria lá fora a sua vez. Em seguida, convidou os rapazes para sentarem à sua mesa por sua conta. Todos foram, aquilo virou uma muvuca, os caras adoraram, passaram a borracha e tudo terminou numa boa.
Sexta conto mais.