Murilo Bernardes
O Campeonato Paulista já tem data para recomeçar. A decisão de voltar, porém, não agradou a todos. O Botafogo, que integra a primeira divisão do estado, é um dos times que reclamaram do reinício precoce das partidas de futebol.
O posicionamento do clube, contudo, não está sendo levado a sério pela FPF e também por parte de sua torcida – desde que virou S/A o Pantera vive uma relação de amor e ódio com o torcedor. Por ser um dos integrantes da zona de rebaixamento quando a competição foi paralisada, a decisão de ir contra o reinício das atividades ganhou tom de tentativa de “virada de mesa” nos bastidores.
O Botafogo, entretanto, se apoia na opinião médica para criticar a postura adotada pela federação. Alexandre Vega, médico do clube, chamou a retomada de “crime” e afirmou que os profissionais da saúde envolvidos com o futebol não estão sendo ouvidos nas tomadas de decisões.
“É um crime retornar o campeonato neste momento. Estamos todos nós, os médicos, pedindo para que as pessoas se distanciem, e agora querem voltar com o futebol para agrupar as pessoas, então acho isso um grande absurdo. Não vejo a menor condição de jogar futebol neste momento, nós médicos estamos sendo enganados por um poder para permitir a aglomeração. O médico hoje só serve para ir à linha de frente, porque ninguém escuta a gente. É um absurdo voltar o Campeonato Paulista agora”, afirmou Vega em entrevista à Rádio CBN.
Outra questão levantada por Vega é de que o retorno das partidas não foi discutido nas reuniões com a cúpula médica dos clubes paulistas. Segundo ele, os encontros trataram apenas da formatação de protocolos e não de um possível retorno dos jogos.
“Tem uma falha muito grande. Participamos de um protocolo de retorno para voltar primeiramente aos treinos e a seguir voltar com o campeonato. Porém, o retorno ao futebol não foi ordem dos médicos, que fique bem claro. Eu falei várias vezes que o ideal era voltar em setembro ou outubro, quando a pandemia acabasse. Eu, Alexandre Vega, médico do Botafogo-SP, participei de várias reuniões e não foram determinadas datas, mas sim os protocolos elaborados”, disse.
Maioria na A1, minoria na A2
Se na primeira divisão o Botafogo atuou como “lobo solitário” na briga com a FPF, na Série A2 as coisas parecem caminhar de forma diferente. A maioria dos clubes está descontente com o programado retorno das partidas em agosto e vai pleitear junto à federação a modificação do regulamento. Os clubes querem ao menos 30 dias de preparação e o cancelamento do rebaixamento nesta edição da competição.
Ao contrário dos times que estão na elite do futebol paulista, os clubes da segunda divisão tem menos poder financeiro e tiveram de se desfazer dos seus jogadores durante a pandemia. Vários vão precisar se remontar para voltar a jogar em agosto.
Presidente do Rio Claro, Dayvid Medeiros, confirmou em entrevista a ESPN que os times integrantes da A2 têm interesse em rediscutir as regras do campeonato.
“Nós vamos ter que rediscutir as regras porque a situação é bem diferente. Não temos a mesma estrutura e o mesmo o orçamento das equipes da A1. Ainda temos de nos adaptar ao protocolo da Federação e fazer os testes. É importante discutir os testes para que a Federação arque ou ajude nos custos. Mas principalmente temos de planejar como reconstruir os times. Ficamos com seis jogadores, sem elenco”, afirmou Medeiros.
Retorno contaminado
A volta do futebol no estado de Santa Catarina durou apenas seis dias. Após diversos casos serem confirmados entre jogadores, comissão técnica e funcionários dos clubes, o Governo do Estado decidiu paralisar o campeonato novamente.
A justificativa para o “surto” de casos na retomada foi o não cumprimento dos protocolos aprovados pelas autoridades de saúde do estado. Clubes como Avaí e Chapecoense – que registrou 14 novos casos – foram notificados pela Superintendência de Vigilância em Saúde pelo descumprimento do decreto.
Presidente da Comissão Médica da FPF, Moisés Cohen, afirmou que é possível ter jogadores infectados na volta do Paulistão. Porém, Cohen destacou que as contaminações não devem acontecer na mesma proporção que em Santa Catarina.
“Nós temos que diminuir este risco o máximo possível, mas temos que ter consciência de saber conviver com o vírus, porque ele não vai embora de hoje para amanhã. A vida segue. Pode acontecer [no Paulistão], sim, mas temos que tentar tomar as providências justamente para evitar uma situação dessas”, ponderou.
A FPF traçou diretrizes para a retomada dos treinos e também dos jogos. A ideia é que atletas e funcionários sejam testados à exaustão, inclusive ficando isolados em concentração para retomar as partidas.
“O grande cuidado que estamos tomando no Paulistão é concentrar os atletas, ter um controle maior e mais de perto. A gente não deve ter surpresas grandes, porque os jogadores estão treinando e sendo testados, mas também não podemos fechar essa porta. Infelizmente, na medicina, e particularmente nesta questão da Covid-19, nem sempre dois mais dois é quatro. Temos que prestar atenção, mas ao mesmo saber que um caso ou outro pode acontecer. Não tem jeito, pode acontecer”, admite Moisés Cohen.
O Botafogo reestreia no Campeonato Paulista no dia 23 de julho, às 20h, diante do Guarani, no estádio 1º de Maio, em São Bernardo. O Tricolor fecha sua participação no estadual no domingo (26), em duelo contra o Red Bull Bragantino.