Na Idade Moderna, a invenção da imprensa por Gutenberg (1450) elevou em rapidez, e em quantidade, a circulação da informação escrita para a sociedade. Os livros, mais baratos e portáteis, passaram a favorecer a possibilidade de leitura, em especial, a silenciosa, praticada nos lares e nas universidades, com a Igreja perdendo espaço, e poder, por causa dos novos valores que os impressos chegaram a causar. O livro impresso tornava-se o caminho para aqueles que queriam expor suas idéias, aventuras, sonhos, paixões e reclamações aos outros. O impacto disso na literatura? De aristocrática e cortesã tornou-se um instrumento de universalização para temas da humanidade.
A agilização do processo produtivo, seguida do conseqüente barateamento do livro, permitiu ao livro ganhar popularidade e mercado rapidamente. Na Itália, sapateiros, tintureiros, pedreiros e donas-de-casa, entre outros, reivindicavam o direito de interpretar as escrituras, por exemplo, levando, por conseqüência, à criação do Índice Católico dos Livros Proibidos. Pelo mundo? De elites eruditas ao cidadão mais simples, todos passaram a ter, pela primeira vez, elevada quantidade de assuntos (religiosos, científicos, clássicos greco-romanos, relatórios de viagens e outros) retratados em obras impressas indutoras de mudanças decisivas à reorientação do cotidiano.
Iniciado na Itália, o Barroco foi um período do século XVI marcado pela crise dos valores Renascentistas. Ocorrendo em suas águas a Reforma Protestante e a Contrareforma, trouxe consigo o início das bibliotecas modernas, as quais, segundo especialistas, eram as primeiras “a usar o sistema de estantes de madeira encostadas na parede”. Um exemplo? A Biblioteca Ambrosiana, de 1609, em Milão, que acrescentou galerias e escadas para o acesso às prateleiras mais altas. Ainda nesse período, segundo estudiosos do assunto, “as bibliotecas barrocas e rococós, símbolos da Contrarreforma, como a que o rei de Portugal dom João V mandou construir na Universidade de Coimbra, foram erguidas nos países católicos”. A biblioteca privativa, por sua vez, tornava-se, então, um lugar sagrado no contexto da habitação. Verdadeiro retiro do mundo, oferecia, aos seus freqüentadores, a oportunidade de “viajar, conhecer novos lugares, vivenciar e experimentar sensações sem sair, afinal, do seu lugar”. Ou, em outras palavras, permitia-lhes conquistar liberdade longe do olhar dos outros.
No longo reinado de 43 anos, um dos maiores da história de Portugal, D. João V (1689-1750), o rei português que privilegiava o conhecimento e que promoveu uma política cultural sem paralelo em todo o país, autorizou ser erguida, em 1717, o que se intitulou na época “Casa da Livraria”. Esta, com seus dourados e madeiras exóticas, frescos e milhares de livros raros e antigos, ordenados em estantes até ao teto, veio a se chamar Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra. Trezentos anos depois, obra-prima do Barroco, esta biblioteca é considerada a mais bela Biblioteca Universitária do mundo, com um espólio inestimável de valor incalculável. Visitada todos os anos por 200 mil pessoas, teve seu público ampliado ainda mais depois da Universidade de Coimbra ter sido eleita Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 2013.