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Você entraria num Uber-robô?   

Conceição Lima *

Sinceramente, eu não saberia nem estimar quantas respostas positivas ou negativas essa inusitada pergunta iria suscitar. Tenho a leve intuição de que seriam muitos “NÃO” e nem mesmo sei explicar o porquê. Todavia, a questão é pertinente. Recentemente houve um alerta do CEO da UBER, Dara Khosrowshahi, de que os motoristas de aplicativo provavelmente serão substituídos na próxima década. Eis que essa profissão, uma das mais procuradas em todo o mundo, só vai durar, no máximo, mais uma década. Depois disso, a Inteligência Artificial (IA) e seus veículos autônomos vão tomar conta do cenário.

Aliás, o CEO da UBER não foi nada modesto em recente entrevista dada ao Wall Street Journal (Nova Iorque):”Daqui a 15 ou 20 anos, o veículo autônomo vai dirigir melhor do que qualquer motorista humano”.É claro que essa revolução não vai acontecer da noite para o dia, acreditam os especialistas. Será um processo gradual, mas inevitável. O primeiro passo já foi dado. Nos países de primeiro mundo muitos veículos autônomos já estão sendo utilizados para a as corridas de aluguel, como é o caso da Waymo, que vem tomando conta das ruas de São Francisco (USA). A próxima etapa seria a massificação da tecnologia, que monopolizaria rotas mais concorridas, como as vias aeroporto/cidade, o que já acontece em Las Vegas com os carros da Tesla. Portanto, não é de se estranhar que dentro de dez anos já tenhamos, pelo menos, uma rede híbrida de motoristas humanos e robôs. A partir daí, somos nós que perderemos espaço e não o oposto.

Convém que os motoristas de aplicativos, incluindo os brasileiros, já comecem a colocar a barba de molho (e os usuários também).Alguns já estão pensando nisso, aliás. Por incrível que pareça, numa corrida de meses atrás aqui em Ribeirão Preto, num papo lascado com um deles (sempre aproveito minhas corridas para dialogar com motoristas – assim como eu –tagarelas),o mesmo pôs-se a contar uma querela havida com um outro companheiro de UBER.O colega, muito queixoso da empresa, queria porque queria incitar uma greve. Mas o meu sensato (melhor dizer, esperto) motorista de ocasião retrucou: “Deixa de bobagem, fulano! Daqui uns dias a UBER nem de motorista vai precisar mais! Os carros vão ser tudo autônomos! E eu já estou dando os meus pulos! Quero ter nem que seja uma pequena frota desses carros para alugar para a UBER. Eu mesmo vou ficar à toa, só vendo os carros trabalhar para mim!”

Dei uma sonora gargalhada e, internamente, me surpreendi. Um rapaz simples, nem tão jovem assim, sem grandes escolaridades… Mas, muito antenado! Com certeza, vai se dar muito bem na era vindoura da IA. Mais futurista que eu até! Não sei se tenho coragem de entrar num carro sem motorista humano. Nem nesses eu confio de verdade! Quem sabe, eu possa fazê-lo em relação às futuras máquinas superinteligentes! Isso veremos mais adiante.

Apenas um detalhe a lamentar. Não só os motoristas de aplicativo, mas muitos profissionais vão fatalmente perder seus empregos para a IA. A propósito, pesquisadores brasileiros chegaram à conclusão de que mais da metade das ocupações que existem hoje no Brasil devem desaparecer em cerca de duas décadas. Segundo o estudo, 58,1% dos postos de trabalho vão deixar de existir em decorrência das avançadas tecnologias que estão surgindo no mundo atualmente. Quando se leva em conta os empregos informais, o número aumenta para 62%.

Sorte do “meu” motorista de aplicativo, que já sonha com uma frota própria de carros-robôs, visto que as primeiras pessoas a se tornarem pioneiras nas suas áreas usando IA vão se destacar. Mas, em breve, isso também vai deixar de ser uma novidade, pois, em pouco tempo todos a estarão usando. É que as novas posições de trabalho começam a acontecer de sobra é para profissionais capazes de liderar projetos que utilizam Inteligência Artificial.  Quem desejar, pois, uma carreira à prova do qualquer futuro, seja ela qual for, terá mesmo de se converter à cartilha da IA.

* Professora de ensino superior aposentada, escritora e palestrante, é membro eleito da Academia Ribeirãopretana de Letras e fundadora da Academia Feminina Sul-Mineira de Letras 

 

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