Localizado na parte sudeste da América do Sul, o Uruguai é um país com cerca de 3,5 milhões de habitantes. Tendo por capital a cidade de Montevidéu, estima-se que entre 88% e 94% da população possua ascendência europeia ou mestiça. Segunda menor fronteira do Brasil com outro país sul-americano, sua única fronteira terrestre é com o estado brasileiro do Rio Grande do Sul, no norte. Faz fronteira com a Argentina apenas em alguns bancos de água doce, enquanto que a sudeste fica o oceano Atlântico. O Uruguai é o segundo menor país da América do Sul, sendo somente maior que o Suriname. Tendo conquistado sua independência do Império do Brasil entre 1810 e 1828, após guerras que envolveram Espanha, Portugal, Argentina, além do próprio Brasil, é, atualmente, uma democracia constitucional, onde o presidente cumpre o papel de chefe de Estado e chefe de governo. Considerado um dos países economicamente mais desenvolvidos da América do Sul, com um dos maiores PIB per capita da mesma, o Uruguai também foi pioneiro em medidas relacionadas aos direitos civis e democratização da sociedade: foi o primeiro país a legalizar o divórcio em 1907 e, em 1932, o segundo país da América a conceder às mulheres o direito ao voto. Em 2007, também foi o primeiro país sul-americano a legalizar uniões civis entre pessoas do mesmo sexo, bem como, a permitir a adoção homoparental. Em 2013, tornou-se a segunda nação sul-americana a aprovar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, além de o primeiro do mundo a legalizar o cultivo, a venda e o consumo de cannabis. Etimologicamente, o significado oficial de seu nome, na língua guarani, é “rio dos pássaros pintados”.
De conformação e estrutura distinta em relação aos demais países da América Latina, a população uruguaia apresentou decréscimo na taxa de fecundidade a partir de 1900, destacando-se por ser o país com a maior população longeva na região e por ter quase 94% da mesma vivendo em espaço urbanizado. O dinamismo populacional uruguaio também é verificado, nas últimas décadas, no quesito de emigrações para Europa (Espanha, Itália, França e Alemanha), Argentina, Estados Unidos. Identificado, também, como um dos poucos países não lusófonos em que o ensino da língua portuguesa é obrigatório, com o português sendo ensinado a partir do 6º ano de escolaridade, nele, a baixa presença de povos indígenas na população ocasiona, também, baixa representatividade das línguas indígenas no mesmo. Ao lado da população descendente de europeus (88%), os mestiços (2%), afro-uruguaios (4%) e raríssimos indígenas e asiáticos convivem com espanhóis, italianos, franceses, alemães, portugueses, britânicos, suíços, russos e polacos, entre outros. No Uruguai, considerado o país mais secular (guiado pelo princípio de separação entre instituições religiosas e instituições governamentais) das Américas, a liberdade religiosa é garantida pela constituição, com o catolicismo pontuando como sua principal religião (45,7%), seguido pelos cristãos não católicos (9%), animistas ou umbandistas (0,6%) e judeus (0,4%). Paralelo a isso, 30,1% da população declarando acreditar em um Deus sem pertencer a nenhuma religião e 14% declarando-se ateus ou agnósticos.
Dividido em 19 departamentos, cujas administrações locais replicam a divisão dos poderes executivo e legislativo, no Uruguai, cada departamento elege suas autoridades por meio de um sistema de sufrágio universal, ou seja, concedendo pleno direito ao voto de todos cidadãos adultos, independentemente de alfabetização, classe, renda, etnia ou sexo, salvo exceções menores. Sua cultura, marcadamente europeia na linguagem e nos costumes, cultiva a tradição gaúcha nascida nos pampas argentinos, uruguaios e rio-grandenses, também preservando a influência indígena na indumentária, nas danças e nos costumes gaúchos. Com taxa de analfabetismo praticamente nula, o Uruguai tem uma imprensa livre e atuante, além de variadas instituições culturais públicas e privadas. Tendo José Enrique Rodó (1871-1917), escritor modernista, como a figura literária nacional mais importante, o Uruguai apresenta Juan Zorrilla de San Martín (1855-1931), Juana de Ibarbourou (1892-1979), Delmira Agustini (1866-1914), Idea Vilariño (1920-2009), Horacio Quiroga (1878-1937), Juan José Morosoli (1899-1957), Juan Carlos Onetti (1909-1994), Mario Benedetti (1820-2009), Florencio Sánchez (1875-1910), Eduardo Galeano (1940-2015), Mario Levrero (1940-2004), Sylvia Lago (1932 – …), Jorge Majfud (1969- ) e Jesús Moraes (1955-…), entre outros, como figuras representativas do seu meio intelectual.
Rodó, em seu livro “Ariel” (1900), por exemplo, trata da necessidade de manter os valores espirituais durante o desenvolvimento material e técnico das sociedades, bem como, a resistência filosófica contra a dominação cultural exercida pela Europa e pelos Estados Unidos. De acordo com a crítica, “seu público foi a juventude do continente identificada com o personagem Ariel, um espírito que representa a liberdade e todo valor elevado e belo e que se opõe aos impulsos materialistas e egoístas da humanidade (representados no personagem Calibã); aparece em dualidade semelhante à de Caim e Abel. Pode-se afirmar que Ariel foi uma figura marcante no debate ideológico da época. Aparece, na parte final da obra, a representação da figura dos Estados Unidos como uma grande sociedade que é devorada pelo seu espírito utilitário e materialista. Rodó nega que esse modelo social seja o da América Latina. América devia representar beleza, liberdade e arte; devia estar associada ao gaúcho do Sul (Ariel) e não ao vizinho do Norte (Calibã)”. Ainda segundo especialistas, Ariel viria, trinta anos mais tarde, a ser representado em uma paródia, de vanguardistas brasileiros, como “Macunaíma” (São Paulo, 1928), de Mario de Andrade, cujo herói renuncia à civilização pela vida bárbara.