A Literatura do Paraguai se desenvolveu com base em dois idiomas: o guarani nativo e o espanhol herdado da colonização (castelhano). Em parte pode ser considerada ramo da Literatura Hispânica, porém, sob influências locais, pode ser considerada original. Integra, também, a Literatura latino-americana. Entre as escolas literárias hispano-americanas, a paraguaia é uma das menos conhecidas, sendo que boa parte das obras produzidas até o século XIX não possuem indicação de autor. No período entre a independência do país (maio de 1811) e o final da Guerra do Paraguai (março de 1870) é possível identificar poucos autores, dos quais o principal foi Natalicio de María Tavalera (1839-1867). Talavera, considerado o primeiro poeta paraguaio após a independência do Paraguai, viveu 28 anos e, em homenagem, a data de sua morte, 11 de outubro, foi instituída como o Dia do Poeta Paraguaio. Tendo atuado como soldado e correspondente em seu país, nele também foi pioneiro no jornalismo nacional, fundando, com amigos, a revista “La Aurora” (1860), enviando notícias da guerra em forma de crônicas para os jornais locais e publicando diversos trabalhos nos periódicos “Guerra del Paraguay”, “El Seminario” e “La Intelectualidad Paraguaya”.
Na guerra, buscando fazer os combatentes esquecerem as dificuldades e tristezas do front e fortalecer o ânimo e a resiliência, criou, auxiliado pelo coronel paraguaio Juan Crisóstomo Centurión Y Marttínez (1840- 1909), jornalista, educador, tradutor, diplomata e político de elevada cultura, o jornal “Cabichu’i”, voltado à sátira e ao cartum. Impresso pela “Imprensa Del Ejercito”, no quartel general paraguaio de Paso Pacu, durante a Guerra do Paraguai (1865-1870), o jornal contou, também, com o padre Fidel Maíz (1828-1920) como redator, considerado um dos melhores oradores de seu tempo, de escrita brilhante e culta.
De acordo com estudiosos do assunto, este periódico paraguaio teve 95 edições, publicadas entre 13 de maio de 1867 e 20 de agosto de 1868, extinguindo-se na cidade de San Fernando em decorrência do abastecimento de papel e da falta de mãos especializadas no Paraguai.
Circulando duas vezes por semana, trazia notícias, poesias, diálogos em guarani, além de ilustrações e caricaturas de importantes personagens que participaram da guerra contra o Paraguai. Distribuído em todo o território paraguaio, sua fama alcançou os acampamentos argentinos, uruguaios e brasileiros, constituindo-se importante fonte de pesquisa voltada para os estudos da história política e militar do Paraguai, assim como do Uruguai, Argentina e Brasil. Tavalera faleceu vítima da peste de cólera que devastou os campos durante a Guerra da Tríplice Aliança.
Uma vez que os contextos político, econômico e cultural no Paraguai, como a longa ditadura militar e sua censura (1954-1989), foram fatores que influenciaram a produção literária no país, muitos de seus escritores foram exilados e acabaram produzindo mais fora da pátria. Exemplos disso? A poesia de Elvio Romero (1926- 2004) e Hérib Campos Cervera (1905-1953), numerosa em Buenos Aires (Argentina) por ocasião de, ambos, se encontrarem exilados. Ademais, Augusto Roa Bastos (1917-2005), Rubén Bareiro Saguier (1930-2014), Gabriel Casaccia (1907-1980) e Josefina Pla (1909-1999) também podem ser citados autores paraguaios de destaque. Na década de 1980, incentivos editoriais favoreceram o surgimento de novos autores e o país, até então conhecido como celeiro de grandes poetas, viu emergir importantes vultos no campo narrativo, gênero, até então, ainda tímido no local. De Elvio Romero, temos “Fogo Primário”: “Mirar-te é ver colinas, mirar-te assim deitada e despida, situando planicies de areia nas axilas, despida e dividindo a brancura dos lençóis, mirar-te é ver que escuras origens te povoam, que o ar te aliena por urnas ineficaces, se te amo despida…”.
De Hérib Campos Cervera, temos “Um homem frente ao mar”: “É igual a mim: sinto-o com minha angústia e meu sangue, Formoso de tristeza, vai ao encontro do mar, para que o sol e o vento o areje de agonia. Paz na fronte quieta; o coração em ruinas; quero viver ainda para morrer por mais tempo”. De Augusto Roa Bastos, temos “Da mesma carne”: Deixei ao poente a franja tutela da cigarra; um povo como uma árvore ardente, madeira que em minha caixa óssea e de memória constrói sua guitarra dolente no mais vivo de minha escória”.
De Rubén Bareiro Saguier, temos “Despertar”: “Porque alguém teceu a madrugada de sereno flamante e de limão dormido. Porque alguém foi bordando alternos peixes sobre o dorso do rio e desenredando o novelo de folhas neblinosas… Porque alguém tocou a trompa do dia.” De Josefina Pla temos “Biografia”: “Segui o caminho em que me lançaram, dormi na cama que me deram, lavei o rosto nas chuvas das tormentas que vieram, comi um pão feito com a farinha que meus próprios ossos moeram, e bebi água do azul frio do poço inverso que é o céu. Seguindo o croquis do tesouro no baú do bucaneiro, cheguei ao jardim das cinzas para saber que sou correio, de algum segredo já extinto, de não sei qual caduca folha, poeirento mensageiro errado, sem outra opção que seu retorno.