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Vocalista da Nação Zumbi, Jorge Du Peixe lança tributo a Luiz Gonzaga

Por Danilo Casaletti, Especial para o Estadão

Em 1971, a gravadora RCA Victor lançou o LP O Canto Jovem de Luiz Gonzaga. Na capa, uma foto em que o rei do baião aparece sem seu chapéu de vaqueiro e sua capa de couro, em frente a um arranha-céu espelhado. No repertório, músicas de Edu Lobo, Dori Caymmi, Nelson Motta, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Nonato Buzar, entre outros compositores de duas gerações após a sua.

Uma das faixas do álbum era uma regravação de Asa Branca, a toada que foi seu grande sucesso em 1947, com participação de seu filho, Luiz Gonzaga Jr., que despontava na naquele momento com um dos nomes do Movimento Artístico Universitário, o MAU. A música que fechava o disco era a melancólica Bicho, Eu Vou Voltar, de autoria de seu antigo parceiro Humberto Teixeira. A letra falava em uma promessa de retorno às paradas de sucesso, respeitando a geração de Tom (Jobim), Caetano, Gil, Chico (Buarque).

Era uma tentativa da gravadora de aproximar Gonzagão a uma geração que, após a era do rádio, na qual ele foi um dos destaques, havia se ligado na bossa nova, na MPB e na Tropicália – e, posteriormente, no pop/rock nordestino que traria Alceu Valença, Zé Ramalho, Elba Ramalho, entre outros. O curioso é que todos esses gêneros beberam da fonte – e das músicas – do mestre nascido em Exu, no sertão Pernambucano, provando que Gonzaga era não apenas um ídolo do passado, mas uma ponte para o futuro.

Essa mesma conexão aparece agora no álbum Baião Granfino, que o cantor e compositor Jorge Du Peixe, vocalista da banda pernambucana Nação Zumbi, acaba de lançar, em investida solo. Com 11 faixas compostas e cantadas por Gonzagão e parceiros, 20 músicos participantes, o álbum chega às plataformas digitais pelo selo Babel.

A ideia do tributo nasceu do encontro de Du Peixe com o produtor Fábio Pinczowski em 2017, quando o cantor participou do programa Clubversão, da HBO, cantando o clássico Manhã de Carnaval (Luiz Bonfá/Antônio Maria) na companhia do baterista Wilson das Neves (1936-2017).

A intenção de ambos – Pinczowski assina a produção musical do álbum – era pegar a célula harmônica do baião de Gonzaga e usá-la em diferentes variações, sobretudo contemporâneas. Assim, Qui Nem Jiló, por exemplo, parceria de Gonzaga e Teixeira de 1950, ganhou uma versão african pop com uma pegada também de hip hop, na definição de Du Peixe.

Dentro do ambiente em que a Nação e Du Peixe se criaram, está Rei Bantu, composição assinada por Luiz Gonzaga e Zé Dantas lançada em 1950. A canção é um maracatu, mesmo ritmo que, no início de década de 1990, Chico Science (1966-1997) e a Nação eletrificaram e levaram para o mundo, que fala das origens africanas nas quais o gênero está fincado, assim como também o baião de Gonzaga. Na criação de Du Peixe, Rei Bantu ainda ganhou toques de maxixe. Os músicos Pupillo (bateria, ex- Nação), Mestrinho (sanfona), Swami Jr (violão) e Carlos Malta (pífanos) participam da faixa.

A faixa O Fole Roncou, que tem participação especial da cantora paraibana Cátia de França, preserva sua vocação rock’n’ roll. “Luiz Gonzaga não tinha medo da guitarra. Ia para cima. Essa música é rock, é soul, funk. É muito louco isso. Tanto ele quanto Jackson do Pandeiro eram destemidos nesse sentido”, diz Du Peixe.

A participação de Cátia, de 74 anos, considerada a primeira guitarrista mulher da Paraíba, e talvez o nome mais esquecido – ou injustiçado – da chamada Geração Nordestina dos anos 1970, tem uma relação afetiva com a memória de Du Peixe, que a assistia tocar em shows ao ar livre em Recife na adolescência.

O nome da artista foi sugerido primeiramente por Pinczowski para fazer coro em algumas faixas. “Eu disse, pera aí: agora você levantou uma bola que eu vou chutar. Quero ela cantando comigo! Ela topou na hora. Eu fiquei muito feliz. Quando tudo isso passar (a pandemia) vou comer uma galinha à cabidela com a Cátia”, afirma Du Peixe. A integração dos dois na faixa é total. No final da gravação, Cátia diz, entre risadas. “Rapaz, eu ouvia Luiz Gonzaga com Elba cantando essa música e me arrepiava. Isso é eterno!”.

Das menos conhecidas do repertório de Gonzaga, estão o bolero Acácia Amarela e a toada Cacimba Nova. Du Peixe diz que se emocionou ao gravar a segunda, que fala de paisagens do sertão e conta histórias de vaqueiros. Da primeira, ele destaca o coro formado por Maria Beraldo, Naolana Lima e Lívia Nestrowski.

Para Du Peixe, Gonzaga é “familiar”. Além da música, sempre presente em sua infância e adolescência, ele lembra de uma cena que lhe marcou: a comoção das pessoas quando o corpo do artista chegou ao aeroporto de Recife – Du Peixe era funcionário da extinta companhia aérea Vasp – para depois ser transportado para Exu, onde foi enterrado.

“A pandemia trouxe muita saudade para as pessoas. O disco é um mergulho nas emoções e nas paisagens de Gonzaga. É mais do Brasil para o Brasil. E isso é importante nesse momento escroto em que estamos vivendo, com o país sendo administrado dessa forma. Precisamos acabar com isso o quanto antes – e arte é um caminho”, diz Du Peixe, que segue à frente da Nação Zumbi que deve lançar um novo álbum no próximo ano.

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