André Luiz da Silva *
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Existem canções que são repetidamente apresentadas na escola, ficam entronizadas em nosso imaginário e mesmo sem querer acabamos cantando durante toda vida e, ainda, passamos para nossos filhos e netos. Rapidamente posso citar, Borboletinha, Escravos de Jó, Alecrim Dourado, A Canoa virou, A Barata Diz Que Tem e Marcha Soldado. Mas havia algumas que, mesmo sem entender, éramos obrigados a repetir, ensaiar e cantar fervorosamente nas solenidades cívicas, entre as quais: “Sete de Setembro, data tão festiva, foi a Independência dessa terra tão querida. É uma grande data para o meu Brasil, que hoje está liberto cheio de encantos mil. Viva, viva, viva a Independência do Brasil, do Brasil!”. Para arrematar, pintávamos reproduções do lindo quadro de Pedro Américo e imaginávamos nosso herói Dom Pedro em um garboso cavalo branco, desembainhando sua espada e conclamando sua tropa de elite a expulsar os portugueses, dando a vida se necessário. Hoje sabemos que a independência não foi daquele modo e como o próprio artista tentou justificar:“ A realidade inspira, mas não escraviza o pintor”.
Nos bancos escolares também aprendemos que o movimento de emancipação brasileira em relação à Portugal foi antecedido por lutas e movimentos internos como a “Inconfidência Mineira” e o destacado Tiradentes, no entanto, pouco ou quase nada sabíamos, das guerras pela Independência do Brasil na Bahia, por exemplo, que duraram de fevereiro de 1822 até julho de 1823, e tinham por característica unificar negros libertos e escravizados, senhores de engenho, profissionais liberais, professores, militares estrangeiros, entre outros. Somente agora passamos a conhecer as figuras de Joana Angélica, Maria Felipa, Maria Quitéria, João das Botas, Corneteiro Lopes, Tambor Soledade, Cacique Bartolomeu Jacaré, Pedro Labatut, Lima e Silva e Loro Cochrane.
Após o grito da independência surgia um país em busca de soberania e autonomia, capaz de conduzir seu próprio caminho e as decisões econômicas, políticas e socias. Nada foi automático, o processo não foi fácil e de cara o país enfrentava uma estagnação econômica e endividamento externo. Para consolidar a independência de Portugal o país se tornava dependente da Inglaterra.
Passados mais de dois séculos, continuamos com grandes problemas. Se não existe a escravidão oficial, explodem casos de escravidão contemporânea e exploração dos trabalhadores; a desigualdade social continua gritante; sofremos com problemas de infraestrutura e a dependência tecnológica em vários setores. Ocorre que, talvez, o maior problema seja unificar o povo em torno de um projeto de crescimento e desenvolvimento sustentáveis, com uma sociedade mais tolerante e a compreensão de que o Brasil é de todos os brasileiros.
Foi justamente esse o destaque no encerramento do discurso do presidente Lula pelo Dia da Independência. Ele citou o desenvolvimento econômico com inclusão social e conclamou os brasileiros e brasileiras a “trabalhar juntos para, a cada dia, transformar em realidade nosso sonho de um Brasil mais desenvolvido, mais justo, mais solidário e mais independente”.
Por mais utópico que pareça, é possível construir essa sociedade, sem renunciar aos nossos pensamentos, crenças e ideologias, mas é necessário dar o nosso melhor. Então um dia essa mãe gentil saberá cuidar de todos os seus filhos, especialmente os mais necessitados. Quem assumir esse compromisso poderá continuar lotando os desfiles, ostentando bandeiras e vestindo as cores do país. Com respeito, cidadania e igualdade podemos bradar ao mundo “É uma grande data para o meu Brasil, que hoje está liberto cheio de encantos mil. Viva, viva, viva a Independência do Brasil, do Brasil!”.
* Servidor municipal, advogado, escritor e radialista