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Viúva Negra revela sua origem

Por Mariane Morisawa, especial para o Estadão

Para quem se acostumou a ver até três longas-metragens da Marvel por ano, ficar dois sem nenhuma estreia parece uma eternidade. Mas os fãs sofrendo de abstinência vão ter seu jejum quebrado nesta quinta, 8, com a estreia de Viúva Negra, dirigido por Cate Shortland (Lore, a Síndrome de Berlim), nos cinemas e no Disney+, com pagamento adicional de R$ 69,90. A produção, originalmente planejada como abertura da Fase 4 do Universo Cinematográfico Marvel, foi adiada três vezes por causa da pandemia e viu séries como WandaVision, Falcão e o Soldado Invernal e Loki tomarem-lhe a frente.

Mas o que é um ano de atraso para uma personagem que merecia e exigia sua própria história desde seu surgimento nos cinemas, em Homem de Ferro 2 (2010)? A Natasha Romanoff de Scarlett Johansson chegou chegando, uma agente da S.H.I.E.L.D. capaz de se infiltrar nas Indústrias Stark e lutar como poucos. Depois disso, se tornou membro dos Vingadores, aparecendo em seis outras produções da Marvel, mais uma cena pós-crédito de Capitã Marvel, que tirou de Viúva Negra o status de ser o primeiro filme da Marvel dedicado a uma super-heroína.

A demora foi tanta que o filme chega quando – atenção para spoiler de dois anos – Natasha já morreu, em Vingadores: Ultimato (2019). Viúva Negra, na verdade, se passa entre Capitão América: Guerra Civil (2016) e Vingadores: Guerra Infinita (2018), quando os Vingadores estavam separados. Em fuga, a heroína vai até Budapeste, onde tem um reencontro explosivo com sua irmã, Yelena (Florence Pugh). Natasha também vai precisar da ajuda de seu pai, Alexei (David Harbour), e sua mãe, Melina (Rachel Weisz), remexendo feridas do passado.

Porque, além de mostrar uma lacuna na história, Viúva Negra também é uma chance de conhecer melhor a personagem e suas origens – um pouco o papel que as séries vêm tendo no UCM. “Eu quis mostrar a versão humana, complicada e falível de Natasha, alguém que tem dificuldades de ser heroína, se acha não merecedora e é insegura”, disse Cate Shortland em entrevista ao Estadão, por videoconferência.

É uma cena de sua infância que abre o filme, quando Alexei, Melina e as pequenas Natasha e Yelena precisam deixar Ohio às pressas, abandonando o “sonho americano” em direção à Cuba e depois a Rússia. Na verdade, são uma família de mentira, uma célula dormente de espiões russos nos EUA. As meninas são treinadas pelo programa Sala Vermelha. Alexei se torna o Guardião Vermelho, uma espécie de Capitão América do outro lado.

Então não se trata de uma reunião de família feliz, embora haja humor. “É quase como se estivéssemos desconstruindo a sitcom de família”, disse Shortland. “Você sabe: com o pai na cabeceira, a mãe que é parte do sistema que submeteu as filhas a histerectomias para não engravidarem. Quis discutir quais são as partes despedaçadas de nós mesmos que precisamos aceitar para sobreviver e prosperar. Para mim, o filme fala de mulheres que não são vítimas, mas sobreviventes.”

A Sala Vermelha criada pelo General Dreykov (Ray Winstone) é, na verdade, uma máquina de opressão de meninas e mulheres, que viram assassinas robóticas.

Meninas, afinal, são “o único recurso natural que o mundo tem de sobra”. Um filme da Viúva Negra não podia ser não feminista. “Mas eu queria fazer com humor. Espero que os homens também riam”, disse Shortland. “E que nossos olhos estejam mais abertos ao final, algo realmente importante para o estúdio. Bob Iger (presidente executivo e presidente do conselho da Disney) nos incentivou a ir fundo na ideia de empoderamento feminino.”

É de se lamentar que Viúva Negra só tenha chegado agora, mas talvez só pudesse mesmo ser feito, da forma como foi, um misto de thriller de espionagem com drama familiar e personagens femininas consistentes, neste momento. “Filmes como Pantera Negra, Mulher Maravilha e os de Kathryn Bigelow criaram espaço para diretoras como eu, além, claro, do movimento MeToo”, disse Shortland. “Só que também sei que nem tanto mudou para a mulher comum. Meu desejo é que essas mulheres riam, se divirtam com o espetáculo, mas também saibam que estamos ouvindo e que elas são importantes.”

Mais ainda porque todo mundo precisa de um pouco inspiração depois de quase um ano e meio de pandemia. “Espero que o filme também sirva para dar coragem às pessoas para serem mais vulneráveis umas com as outras”, disse Shortland. “E que, nos reencontros com nossas famílias, pensemos dois segundos antes de cair numa discussão e sejamos mais indulgentes.”

Em teoria, Viúva Negra é a última vez que veremos Scarlett no papel de Natasha. Claro que, em se tratando de Marvel, tudo é possível. Mas os fãs podem ficar tranquilos, porque, mesmo que o filme seja quase independente dos outros do UCM, ele prepara terreno para a continuação da história, com a inclusão de uma nova personagem.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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