A febre do momento é baixar um aplicativo para celulares que faz a projeção de nosso rosto em uma provável velhice. Influenciado pelos inúmeros colegas que propagaram a ação, acabei tentado a vislumbrar meu futuro próximo, mas não fiquei empolgado com o excesso de rugas e com a escassez capilar. No fundo, minha maior preocupação é ser um ancião saudável.
A brincadeira surge no momento em que um assunto extremamente sério está sendo discutido no Congresso Nacional: a reforma da previdência social. Aprovada em primeira votação na Câmara dos Deputados, foi apresentada pelo governo como a solução para todos os problemas da nação. De seu lado a oposição alerta sobre a situação de penúria que os mais pobres poderão experimentar.
Minha geração cresceu com a ilusória teoria de que o Brasil seria um país eternamente jovem. Como sempre faltou planejamento e não estamos preparados para o aumento da expectativa de vida da população. As famílias estão desestruturadas para acolher, faltam vagas em asilos, a poupança, os benefícios e aposentadorias já não fazem frente ao elevado custo com medicamentos. O cenário é realmente preocupante!
Atropelados pelas vultosas propagandas oficiais e pelas milionárias liberações de emendas parlamentares, os brasileiros assistem passivamente à aprovação de uma reforma que, até pode ser necessária, mas cuja forma e extensão não foram amplamente debatidas com todo o conjunto da sociedade.
Enquanto comemora a vitória na primeira batalha, o governo continua colecionando polêmicas entre as quais, a volta do trabalho infantil, a indicação de um filho como embaixador e de um ministro “terrivelmente evangélico” para o STF. Fugindo do princípio constitucional de estado laico, existe uma tentativa de vincular governo á religião, mas um injustificável esquecimentode fundamentosbásicos como o cuidar dos mais necessitados, dos órfãos e das viúvas, partes integrantes da adoração a Deus.
Salvo engano, em um país com quase 13 milhões de desempregados e que pretende que as pessoas trabalhem até os 65 anos, o foco e a prioridade do governo deveriam ser na geração de emprego e renda para todos e no fortalecimento da rede protetiva e de cuidados com os atuais 21.872 milhões de idosos e dos futuros. Para nosso povo, viver mais tempo deveria ser uma boa notícia, mas virou problema econômico pessoal e coletivo.
Curtir as novidades tecnológicas é muito bom. Instantes de humor também são necessários, mas a maior preocupação do brasileiro comum, neste momento, deve ser como garantir uma velhice com mais dignidade, pois diante da dor, da miséria e do abandono não há filtro capaz de disfarçar.