Rui Flávio Chúfalo Guião *
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Nesta minha recente viagem à França, em companhia de minha filha, duas netas, dois netos e meu genro, tivemos oportunidade de visitar vinícolas em duas das mais importantes regiões daquele país : a Tourraine ( região em redor de Tours ) e Bordeaux.
A primeira localiza-se às margens do rio Loire, lendário curso d’água, onde os reis e nobres edificaram castelos, hoje muito visitados pelos turistas.
A Maison Brédif, estabelecida em 1893, foi uma delas, contando com belas instalações e mais de dois quilômetros de caves esculpidas na montanha de calcário, que acompanha o rio. Uma temperatura constante de 18 graus preside a elaboração, amadurecimento em barris de carvalho e instalações de engarrafamento dos belos vinhos que produz. São vinhos brancos secos, muito agradáveis, ao lado de um cremant, que é o seu espumante. Na França, só os vinhos produzidos na região da Champagne podem ter este nome, os demais serão cremants ou blanc de blancs.
A segunda visita na região foi muito interessante, pois trata-se de uma micro-vinícola, a Le Clos de La Meslerie, propriedade de um antigo executivo americano de finanças, casado com uma pintora francesa. Eles, ajudados por uma sobrinha adolescente, tocam todas as atividades da produção de vinhos: cuidam do pequeno vinhedo, colhem as uvas, que são processadas na garagem da centenária e bela casa de 16 cômodos, onde moram.
Depois de espremidas as uvas, aquecem a garagem, permitindo que os fermentos que vivem no ar possam alcançar o mosto nos dois pequenos tanques de aço inox, realizando assim uma fermentação natural. Produzem somente 10.000 garrafas anualmente, mas de um vinho de excepcional qualidade e sabor.
Degustamos os três tipos ali produzidos na sombra de uma árvore centenária, com a proprietária nos contando as características de cada um dos vinhos, todos. brancos, de uva Chinon Blanc. Como a vinícola é muito pequena, para atender à determinação legal de que os vinhos sejam engarrafados na propriedade, na época certa, uma grande carreta engarrafadora é contratada. Ela liga suas mangueiras aos reservatórios e coloca o vinho nas garrafas e os etiqueta.
A região vinícola de Bordeaux, a maior e mais emblemática da França, estende seus vinhedos a perder de vista. Nesta época do ano, os cachos pretos pendem das videiras, dando uma visão do que será o néctar delas produzido.
Concentramos nossas visitas a vinícolas na margem direita do rio Garonne, onde predominam os vinhos de uva Merlot e Cabernet Franc.
Começamos pelo Chateau La Fleur de Bouard, do mesmo proprietário do Chateau Angelus, enólogo renomado na França. Trata-se de uma instalação moderna, onde o vinho é produzido pelo sistema de gravidade, ou seja, uma obra de três andares. As uvas são levadas ao terceiro andar e depois de escolhidas são esmagadas por máquinas, o mosto colocado em toneis de aço, cujas bocas ficam neste mesmo andar. Neles, processa-se o período de fermentação e depois o vinho é encaminhado para o último andar, onde é colocado em barris de carvalho, todos com 225 litros, onde amadurece pelo menos por seis meses. Quando se chega ao local dos barris, as luzes se apagam e um audiovisual moderno e vibrante nos apresenta a história da vinícola.
Na sub-região de Pomerol, no ChateauFerrand, nossa anfitriã nos deu a melhor aula de vitivinicultura que tivemos, enquanto passeávamos pelos vinhedos, pelas cavernas, pelas salas de amadurecimento, terminando com excelente degustação.
O Chateau Cantenac e Le Cordelliers, este um convento de Saint Emilion, onde se produz somente vinho espumante, com suas cavernas esculpidas montanha a dentro, completaram nosso conhecimento e prazer pelo vinho, prazer este que se renovou não somente nas visitas, mas, nas refeições que fizemos na França.
* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e Secretário-Geral da Academia Ribeirãopretana de Letras