Rui Flávio Chúfalo Guião *
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Yountville, a mais bela cidade do Napa Valley homenageia, com seu nome, o empreendedor californiano George Calvet Yount, o primeiro a plantar, comercialmente, uvas na região, em 1839. Estimulado por ele, outros pioneiros trouxeram mudas da vitis vinífera, a espécie europeia própria para fazer vinho e a primeira vinícola surge em 1861, quando o alemão Charles Krug inaugura estabelecimento que leva seu nome. No final do século XIX, já há mais de 140 vinícolas que se estendem pelo vale.
A vitivinicultura californiana se estabelece rapidamente, porém, em 1920 se vê ameaçada pela Lei Seca, que proíbe a comercialização de bebidas. Muitos estabelecimentos se veem forçados a fechar as portas e os poucos restantes só produzem para uso próprio ou para fins religiosos.
Com a revogação da Lei Seca em 1933, a indústria volta à atividade. Os vinhateiros decidem se unir numa associação que estimula a produção de vinhos de qualidade.
Em 1968, essa associação, ampliada por novos afiliados, decide estabelecer Ato de Preservação do Napa Valley, com as mais duras regras de cuidados da natureza existente hoje em dia.
Um fato relevante para a vitivinicultura do Napa Valley deu-se em 1976, a Prova de Paris. Os vinhos californianos já mostravam elevada qualidade, mas eram desconhecidos. Neste ano, o comerciante britânico de vinhos, estabelecido em Paris, Steven Spurrier, teve a ideia de promover uma prova às cegas dos vinhos californianos, comparados com os maiores nomes de vinhos franceses de Bordeaux e da Borgonha.
Para isso, reuniu nove jurados franceses, a elite dos provadores, que degustaram os vinhos sem saber o que estavam tomando. Para surpresa de todos, o melhor vinho branco considerado foi um Chardonnay americano do Chateau Montalegre e o melhor tinto, um Cabernet Sauvignon, da Steag’sLeap. Estava aberto o mercado mundial não só para os vinhos americanos, como para todos os do Novo Mundo.
Ao contrário das vinícolas europeias e sul americanas, que franqueiam suas instalações para visitas, no Napa Valley só encontramos estabelecimentos que faziam degustação de seus vinhos. Mas, que degustações!
Duckhorn, com sua casa em estilo do vale, cercada de varandas, onde se tomam os vinhos; Beringer, a mais antiga em funcionamento contínuo, com sua belíssima casa em estilo alemão; a Beaulieu, em estilo mais moderno, em meio a jardins; a Steg’sLeap, em forma de castelo, num promontório de onde se avistam os vinhedos, todas com seus imensos jardins floridos ( afinal, é primavera no Hemisfério Norte ) e vinhos de se tomar de joelhos.
As duas últimas vinícolas visitadas marcaram a viagem: Caymus e Inglennok.
Caymus é uma belíssima e nova instalação, cercada de jardins e fontes, que expõe, num centro envidraçado, as barricas descansando e envelhecendo o vinho. A degustação é feita em meio a um jardim florido, quando pudemos provar os belíssimos vinhos ali produzidos, dos melhores que degustamos.
Inglenook é uma instalação antiga, construída em pedra e restaurada por seu proprietário atual, Francis Ford Copolla. A degustação é feita em pequenas salas, com poltronas de couro, decoradas com barris. O vinho é excelente.
O cineasta se permitiu usar quatro salas para armazenar documentos de sua vida: roteiros originais, fotos de filmagens,etc.
Foi uma grande experiência poder provar, in loco, os excelentes vinhos californianos.
* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e Secretário-Geral da Academia Ribeirãopretana de Letras