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Vinho e arte

Na minha última vista a Dresden, na Alemanha, ano passado, tive a oportunidade de conhecer o Weingut Zim­merling, pequena vinícola de propriedade do simpático casal Klaus Zimmerling e sua mulher, a escultora Malgorzata Chodakoweka, localizada a meio caminho entre a capital e a antiga vila de Pillnitz, hoje um bairro da cidade, onde existe um pequeno e charmoso castelo às margens do rio Elba, pre­sente do Rei a uma de suas amantes.

Esta construção é bem mais simples do que o Palácio Real da cidade, mas tem um esplêndido jardim, com árvores mul­ticentenárias, gramados e canteiros floridos, bem como um grande pé de camélia chinesa, plantado no começo do século XVIII. Para preservá-la até hoje foi construída uma grande estrutura cheia de terra, com rodas e um prédio de ferro e vidro que a abriga. No inverno, a camélia fica dentro da pro­teção e, no verão, é puxada para fora e se cobre de flores, uma grande atração.

A vinícola Zimmerling compreende a face sol de uma montanha de 150 metros de altura, antiga propriedade real, onde, em tabuleiros são plantadas as uvas. Uma longa escada de pedra, a Escada do Céu, é o caminho onde Klaus e um auxiliar sobem diariamente para cuidar de suas vinhas, pois sabem que cuidar bem do vinhedo é condição fundamental para a qualidade de seus vinhos. Ele é um pequeno produ­tor, como muitos existentes na Europa e só produz brancos. Entusiasmado pela sua profissão, dedica-se à qualidade e não à quantidade. Tudo na vinícola é feito por ele e pelo auxiliar, equipe que aumenta só no período da vindima, quando agre­ga estudantes da região para colher os frutos de seu trabalho.

A vinícola em si fica no sopé do morro, uma pequena instalação com dois tonéis de aço inoxidável, onde as uvas Riesling, Pinot Gris, Traminer e Gewurstraminer se trans­formam em vinhos deliciosos, degustados na sombreada varanda fronteiriça. Os rótulos mudam a cada ano e são da lavra da esposa artista. Malgorzata nasceu na Polônia, onde fez seus estudos iniciais de arte, aperfeiçoou-se em escultura na Academia de Belas Artes de Viena e, desde 1992, mora em Dresden.

Seu ateliê é anexo à vinícola, ao lado da residência do casal, dando um ar diferente e sofisticado ao conjunto. Além da produção anual dos rótulos, ela trabalha com dois materiais: os enormes e centenários troncos existentes na região e derrubados pelas tempestades e o bronze. Especia­lizou-se e é conhecida por sua preferência por fontes, onde a água entra como elemento básico da composição artística. Assim, temos uma bailarina, cujo saiote é desenhado pelo finos jatos; uma fada, cujas asas são também feitas de água, uma graciosa moça, onde os esguichos se transformam em cabelos e por aí afora.

É uma experiência muito gratificante visitar as duas ati­vidades artísticas, a mágica transformação da uva em vinho e a criação de sílfides de bronze com o elemento básico da natureza complementando a ideia criativa, tudo envelopado pela carinhosa acolhida do casal.

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