Por João Luiz Sampaio, especial para o Estadão
Quando subiu ao palco da Sala São Paulo no final da semana passada, o violoncelista brasileiro Antonio Meneses reencontrou parceiros antigos após mais de 18 meses: os músicos da Osesp e o maestro Isaac Karabtchevsky. Na Suíça, onde ele mora, as regras de isolamento não foram rígidas, ele conta. “Mas deixar de viajar e fazer concertos para mim foi algo difícil. Era uma rotina com a qual estava acostumado e de uma hora para outra parar não foi fácil. Mas na vida tudo tem seu lado bom. Há muito tempo não conseguia ficar tanto tempo em casa, com minha mulher e minha cachorrinha Momo”, ele diz.
As apresentações da semana passada com a orquestra e Karabtchevsky marcaram a reestreia de Meneses em São Paulo. Nelas, o violoncelista interpretou o Concerto para Violoncelo nº 2 de Villa-Lobos (a récita de sexta-feira foi transmitida ao vivo e está disponível no canal do YouTube da Osesp). E, de segunda até hoje, ele esteve novamente na Sala São Paulo, agora sem a presença do público, para gravar a peça – parte de um projeto de registro de toda a obra do compositor (que era violoncelista) para violoncelo e orquestra, a ser lançada pelo selo Naxos, dentro da série Música do Brasil (ainda não há data de lançamento definida).
O Concerto nº 2 de Villa-Lobos foi escrito em 1953 e dedicado ao violoncelista Aldo Parisot, que o estreou dois anos depois em apresentação com a Filarmônica de Nova York, nos Estados Unidos. Não é a primeira vez que Meneses o grava. Em 1999, ele registrou a peça com a Orquestra Sinfônica da Galícia e o maestro Victor Pablo Pérez, em disco que tinha ainda o Concerto nº 1 e a Fantasia.
“Já faz muito tempo. E, com o passar dos anos, você incorpora novas ideias”, ele diz. “Mas, para ser bem sincero, acho que hoje gosto mais da peça. Nem sempre é fácil você se encontrar dentro dela. Às vezes, tudo parece um pouco truncado e você fica pensando: o que Villa-Lobos quis ao escrever isso, o que estava pensando nessa passagem? Hoje sinto que entendo melhor o que ele pede, em especial para a orquestra, e isso com certeza me ajuda a encontrar a música.”
Parceria
Nesse processo, Meneses afirma que a presença do maestro Karabtchevsky foi decisiva. “O Isaac conhece muito bem a música sinfônica de Villa-Lobos, vem de uma gravação de todas as sinfonias dele com a própria Osesp. Então, de cara, estou trabalhando com um grupo e com um maestro que incorporaram a linguagem do compositor. E é realmente muito interessante trabalhar com o Isaac. Ele vai modificando a peça ao longo da interpretação, quer dizer, vai encontrando coisas dentro da partitura que só ele está vendo, e isso é estimulante.”
Para Meneses, foi interessante gravar o concerto após realizar as apresentações ao vivo. “É algo que varia muito dependendo dos artistas envolvidos. Nas vezes em que gravei com o maestro Karajan, por exemplo, ele gostava de gravar as obras e somente depois interpretá-las ao vivo, para o público. Gravávamos no começo da semana e, no final de semana, tocávamos. Desta vez, foi o contrário. E confesso que eu, particularmente, prefiro assim. Pois você pode incorporar muito do que aprendeu ensaiando e depois tocando, e você tem a chance de repensar algumas coisas antes do registro. E o resultado é fantástico. Até porque o Isaac, no primeiro dia de gravações, já chegou com uma série de ideias novas, coisas interessantíssimas, que nasceram justamente da experiência ao vivo.”
Ao longo de sua carreira, Meneses já gravou Villa-Lobos algumas vezes, em especial sua obra de câmara, com parceiras como as pianistas Celina Szrvinsk e Cristina Ortiz. No ano passado, lançou pelo Selo Sesc, com o violinista Claudio Cruz, o pianista Ricardo Castro e o violista Gabriel Marin, a integral dos trios do compositor, um dos mais importantes lançamentos discográficos recentes da música brasileira.
“Tudo ajuda quando você se dedica a um compositor. Gravar os trios com piano e violino, por exemplo, te oferece alguns elementos para compreender o mundo do Villa-Lobos, como sua música vai se transformando com o tempo. É interessante porque são justamente peças que vão refletindo diferentes etapas de sua criação. E isso você carrega para a interpretação de outras obras, sempre.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.