A Esplanada e o Theatro Pedro II estavam lotados na noite da última segunda-feira, 22 de maio, por causa da 18ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto e a participação do famoso escritor e filósofo Mario Sergio Cortella. Todas as cadeiras do teatro foram ocupadas e um telão teve de ser armado do lado de fora para contemplar aqueles que não conseguiram o disputado convite.
Mas, outro público, não menos interessado, ocupava as cadeiras do Auditório Meira Júnior, no subsolo do Pedro II. No mesmo horário da palestra de Cortella, a jornalista Daniela Penha lançava seu livro “História do dia – um olhar sobre o cotidiano pela trajetória de 50 pessoas”. Entre esses olhares atentos estava o do gari Amaro Silva, de 70 anos, um dos personagens reais da obra.
Conhecido como “Seo” Amaro, estava acompanhado das filhas e foi elegante ao evento. Contou ao Tribuna que estava afastado do serviço, mas que gostava de trabalhar na limpeza urbana, ocupação dele há mais de 25 anos, os últimos 18 somente na varrição. Mas não foi o trabalho que despertou o interesse de Daniela Penha. E sim sua trajetória de vida.
Amaro chegou em Ribeirão Preto em 1968. Veio do Recife, capital de Pernambuco. Já havia visitado o Estado de São Paulo, mas de trem, passando pela capital, Campinas e Ribeirão Preto, mas voltou para o Nordeste. Decidiu porém, que a metrópole seria sua cidade para viver, trabalhar e constituir família. Ai começa a história. Percorreu 2.540 quilômetros de Recife para cá, a pé, em quase um ano e meio de caminhada. “Era muito difícil. A seca judiou muito, deu sede. Parava nas cidades, trabalhava, comia e seguia em frente”, lembra.
Homem de fé, “Seo” Amaro fez uma promessa no caminho. Se conseguisse emprego e comprar uma casa, iria de bicicleta a Aparecida do Norte, no Vale do Paraíba (SP), hoje só Aparecida. Conseguiu e pagou a promessa 30 vezes, fazendo o percurso de quase 500 quilômetros em três dias.
Sua determinação e luta foram reconhecidos durante o período das Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016. Homenageado, foi escolhido para carregar a tocha e acender a pira olímpica em Ribeirão Preto. “Isso foi emocionante. Quem iria imaginar que eu fosse escolhido?”, brinca.
A trajetória de “Seo” Amaro com mais riqueza de detalhes e de outras 49 personagens podem ser lidas no livro de Daniela Penha, resultado do primeiro ano do site “História do Dia”. Até dezembro do ano passado, ela contou 192 histórias. Para o livro publicado pela Editora Outras Palavras, foram selecionadas 50.