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Vereadores divididos sobre o Orçamento Impositivo

JF PIMENTA/ARQUIVO

A ideia do vereador e presidente da Comissão de Orçamento e Finanças da Câmara de Ribeirão Preto, Renato Zucoloto (PP), de discutir a possibilidade de implantação do Orçamento Impositivo na cidade não é unanimidade no Legislativo municipal. Pelo menos até o momento. Levantamento feito pelo Tribuna Ribeirão junto aos 22 parlamentares locais revelou que onze são favoráveis à ideia, três são contrários, cinco ainda não decidiram sobre o assunto e três não se manifestaram.

A criação do chamado “Orçamento Impositivo” te­ria como objetivo garantir que parte das emendas feitas pelos parlamentares – todos os anos -, no projeto de lei que define a destinação do Orçamento Municipal, não sejam vetadas pelo prefei­to e sejam obrigatoriamente cumpridas por ele.

Segundo Renato Zucolo­to, a sua ideia não é nova e outros vereadores já tenta­ram implantar as emendas impositivas. Mas na época, até por falta de informações, houve resistência por parte de alguns setores da socie­dade civil o que fez com que eles abortassem a proposta.

“Mas a partir do ano passado, quando fui eleito presidente da Comissão Per­manente de Orçamento e Fi­nanças, passei a lidar mais de perto com as leis orçamentá­rias e percebi a falta de gestão democrática sobre o orça­mento público, fazendo com que os vereadores, legitima­mente eleitos para apontar onde devem ser direcionados os recursos auferidos com o pagamento de impostos, não tenham nenhuma gestão so­bre a aplicação desses recur­sos”, afirma.

De acordo com Zucolo­to, a partir do momento em que lançou a ideia, passou a ser alvo de muitas críticas, algumas respeitosas, outras nem tanto, de alguns setores que não compreendem como funcionam as emendas im­positivas. Por isso, ele tem se dedicado a estudar o projeto e debatê-lo com setores da sociedade civil.

“Ainda que haja alguma resistência, tive o cuidado e de forma democrática e repu­blicana de expor os meus ar­gumentos, que conseguiram, se não convencer todos os que se opunham, pelo menos fazê-los entender que é uma proposta lídima e justa para permitir uma maior partici­pação do Legislativo sobre a gestão do orçamento público, além de apenas fiscalizar a sua aplicação”, argumenta.

Proposta ainda não foi formalizada, mas vereadores estão divididos sobre a ideia

O vereador afirma que a proposta ainda não saiu do papel, não há nenhum pro­jeto protocolado, mas a dis­cussão com certos grupos já foi suficiente para colher ideias e que se o projeto for adiante, elas serão acatadas e acolhidas. Para ele, o que acontece é que há uma visão equivocada das emendas im­positivas, muito em razão do mau uso que se fez delas no passado ou ainda no Con­gresso Nacional, onde elas são a gênese de práticas de­turpadas e que muitas vezes retroalimentam um sistema de corrupção.

“Mas se levarmos em con­ta que todas as pessoas são desonestas, não avançaremos em nenhum cenário. O que deve ser feito é que, diagnos­ticada qualquer fonte de des­vio ou de corrupção, sejam identificados os responsáveis e punidos de forma exem­plar”, finaliza.

Recentemente a Câma­ra Municipal de Campinas aprovou a emenda à Lei Or­gânica, permitindo a adoção dessas emendas, no limite percentual de 1,2% da Receita Corrente Líquida do exercí­cio anterior. Bebedouro, Jar­dinópolis, Franca e São Paulo também são municípios que possuem as chamadas emen­das impositivas.

Para que o Orçamento Impositivo seja implemen­tado em Ribeirão Preto é preciso inseri-lo na Lei Or­gânica do Município (LOM), considerada a Constituição Municipal. É através dela que as cidades se organizam e está para o município como a Constituição Federal está para a União. A proposta está em fase embrionária e não se tem estimativa de valor ou percentual sobre o Orça­mento Municipal a que cada parlamentar teria direito por ano, caso ela siga adiante.

A posição de cada vereador
A reportagem do Tribuna Ribeirão entrou em contato com todos os vereadores ribeirão-pretanos por telefone ou por meio de mensagens. Confira a posição de cada parlamentar e quem não respondeu ao questionamento até o fechamento desta reportagem.

Vereadores favoráveis à proposta
Renato Zucoloto (PP) – Autor da ideia

Bertinho Scandiuzzi (PSDB) – É favorável porque seria uma for­ma do Legislativo efetivamente participar da elaboração do orçamento, já que quando das elaborações das emendas, em sua maioria são vetadas.

Franco Ferro (PRTB) – Vê com bons olhos a aplicação do Orça­mento Impositivo. Segundo ele, existe um significativo contraste entre o Executivo Municipal, que controla o orçamento público, e o Legislativo Municipal, que tem muitas vezes suas ativida­des limitadas pela ausência de influência na aplicação dessas verbas. Diante desse contexto, afirma que a execução obriga­tória de emendas de vereadores contidas nos projetos de leis orçamentárias poderá fortalecer as ações da Câmara Municipal e incentivar a participação popular no planejamento do orçamento do Município.

André Rodini (Novo) – É favorá­vel, pois os vereadores teriam contato mais próximo com en­tidades e as suas necessidades que às vezes passam desperce­bidas pelo Executivo. Diz que os parlamentares devem colaborar com a formatação do Orçamen­to Municipal.

Igor Oliveira – (MDB) – É favorá­vel desde que todas elas sejam acompanhadas e fiscalizadas com muita transparência para que o dinheiro seja aplicado corretamente e, de fato, chegue ao seu destino. Argumenta que as emendas impositivas são amparadas pelas Constituições Federal e Estadual e podem ser um instrumento muito impor­tante para a cidade.

Maurício Vila Abranches (PSDB) – É favorável porque tornaria o orçamento mais democrático. Os vereadores têm mais acesso à população, assim convivem com as dificuldades dos muníci­pes no dia a dia. Acredita que a participação dos vereadores no orçamento anual do município, possibilitará atender as deman­das da população de todas as regiões do município de maneira mais igualitária.

Paulo Modas (União Brasil) – Afirma que em 2015 tentou implantar este instrumento na cidade. Na época, ele apresentou à Mesa diretora da Câmara pro­posta de emenda à Lei Orgânica para que o Orçamento Impositivo fosse viabilizado a partir de 2016. Segundo Modas, o vereador está mais próximo da população e muitas demandas chegam primei­ro ao Legislativo. Para ele, não adianta fugir dessa responsabi­lidade, que seria uma tendência que está sendo implementada em outros municípios do país.

Maurício Gasparini (União Bra­sil) – De acordo com o vereador, o Orçamento Impositivo já é uma realidade nas esferas esta­dual e federal. Portanto, não vê motivo para que ele não possa existir a nível municipal. Porém, afirma que este tema tem que ser melhor debatido e discutido com a população e as entidades civis organizadas. Argumenta ainda que ouvirá atentamen­te todos os envolvidos neste processo para que possa decidir até o momento da votação e um possível projeto de lei.

Alessandro Maraca (MDB) – Para o presidente da Câmara, entre as funções do Legislativo está a análise e indicação de emendas ao Orçamento do município. Os vereadores são agentes políticos mais próximos da população e, por isso, capazes de entender e detectar as necessidades enfrentadas por cada região da cidade. A proposta do Orçamen­to Impositivo garante que parte do recurso do município seja de­finida pelo parlamento municipal como já ocorre na Assembleia e na Câmara Federal, a partir de critérios definidos para garantir o bom uso desses recursos nas áreas da saúde, educação e assistência social. Maraca lem­bra que este tipo de orçamento também já é realidade em outras Câmaras municipais e têm obti­do êxito por meio da democracia participativa.

Jean Corauci (PSB) – Disse ser favorável.

Matheus Moreno (MDB) – Disse ser favorável.

Vereadores contrários à proposta
Duda Hidalgo (PT) – A parla­mentar vê a proposta de emenda impositiva como uma forma de sanar um problema já antigo que é a falta de participação popular no debate orçamentário. Entretanto, diz que é contra o Orçamento Impositivo, porque acredita que ele pode desvir­tuar e servir mais como “curral eleitoral” do que atendimento das necessidades da população. Por isso defende que o ideal é a implementação de Orçamento Participativo, em que as deci­sões envolvam a população de forma direta.

Luiz França (PSB) – Afirma que é contra, pois criaria curral eleitoral e não traria benefício nenhum para a população. Diz que é favorável à ideia de um Orçamento Participativo em que, segundo o parlamentar, a sociedade organizada tem conhecimento do orçamento e decide aonde serão aplicados os recursos.
Lincoln Fernandes (PDT) – É contrário à proposta.

Vereadores que estão analisando
Marcos Papa (Podemos) – Afirma que em toda discussão que se faz em torno de Orça­mento Impositivo há o receio da corrupção. Esse receio faz todo sentido. Ocorre que pode haver corrupção tanto quando o Executivo executa o orçamento quanto quando o Legislativo executa o orçamento. O que precisa ter é uma ampla fiscali­zação. O assunto do orçamento impositivo precisa ser melhor discutido e a população precisa participar dessa discussão.

Ramon (PSOL) Coletivo Todas as Vozes – O Coletivo entende que esse é um debate delicado e com ambiguidades, que a nível municipal pode ter pontos positivos e negativos. Afirma que, enquanto mandato, precisa ponderar melhor e pensar nos efeitos práticos. Ainda não tem uma posição a respeito.

Judeti Zilli (PT) Coletivo Popular – Defende a defesa intransigente do envolvimento da população na gestão dos recursos públicos através de Orçamento Participa­tivo. A centralidade do orçamen­to no Executivo é péssima para a cidade. No entanto, a Câmara de Vereadores deve estimular políticas públicas que garantam a participação popular com in­dicações de prioridades através dos instrumentos legais.

Elizeu Rocha (PP) – Disse que está analisando o assunto.

Gláucia Berenice (Republicanos) – Disse que está avaliando o assunto.

Vereadores que não se manifestaram
Sérgio Zerbinato (PSB)
Isaac Antunes (PL)
Brando Veiga (Republicanos)
Debate na Câmara: para que o Orçamento Impositivo seja implementado em Ribeirão Preto é preciso inseri-lo na Lei Orgânica do Município (LOM), considerada a Constituição Municipal

Acirp é contra a proposta
A Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp) é contra a proposta de Orçamento Impositivo. Em 2018, quando uma proposta de emenda à Lei Orgânica do Município nº 09 foi apresentada a um grupo de entidades de classe, associações e sindicatos, a entidade também se posicionou contra a matéria. Para a Acirp, na prática, a proposta reserva cotas para os vere­adores dentro do orçamento do município, forçando a prefeitura de Ribeirão Preto a atender as sugestões feitas por vereadores.

A entidade afirma que entende a importância do aprimoramento das leis e da discussão de propostas que venham melhorar a governança pública, desde que estejam de acordo com a capa­cidade de investimento do poder público. Por isso, mantém o monitoramento Legislativo, com acompanhamento de projetos em tramitação na Câmara Municipal que possam ter impacto nos negócios de seus associados.

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