Exercendo seu primeiro mandato como vereador na Câmara de Ribeirão Preto, Sérgio Zerbinato (PSB) decidiu romper o silêncio para se defender das acusações feitas pela sua ex-assessora Ivanilde Rodrigues.
Ela o acusou de comandar, entre janeiro e agosto de 2021, um esquema de ‘rachadinha’ dentro de seu gabinete. Segundo a denunciante, a beneficiária do suposto esquema seria a irmã do parlamentar, Dalila Zerbinato. A irmã do parlamentar teria ficado com parte do salário dela.
Morador do Complexo Ribeirão Verde, na Zona Leste da cidade, onde teve a maioria dos seus 1.913 votos, Zerbinato afirma que as denúncias foram arquitetadas pelo primeiro suplente do seu partido, o PSB, com o objetivo de caçá-lo para assumir seu lugar no Legislativo Municipal.
O vereador é investigado pela Justiça e alvo de pedido de cassação protocolado na Câmara por dois munícipes em função das denúncias. O Conselho de Ética do Legislativo também investiga o caso.
Tribuna Ribeirão – O senhor está sendo acusado pela ex-assessora lvanilde Ribeiro Rodrigues de fazer ‘rachadinha’ em seu gabinete para beneficiar sua irmã. O que o senhor tem a dizer?
Sérgio Zerbinato – Trata-se de acusação sem qualquer verdade e embasada em uma articulação política que tem interesses diretos em uma eventual cassação do meu mandato, com a diplomação do Giomário [referindo–se ao primeiro suplente pelo PSB]. Esses fatos já foram apontados em minha defesa junto à Câmara, e demonstram uma clara articulação política com esse fim.
Tribuna Ribeirão – Sua ex-assessora apresentou ao Ministério Público gravação de conversa que teria sido feita com o senhor para evidenciar o esquema de ‘rachadinha’. A gravação feita por ela é verídica? Aconteceu?
Sérgio Zerbinato – Não, não aconteceu, não reconheço o áudio, tão pouco aquela conversa. Ela não apresentou nem ao Ministério Público ou à Câmara os supostos áudios. Nem eu, nem o promotor e qualquer vereador conhece estes áudios. O que existe é um fragmento de áudio, que não me reconheço como interlocutor, aparentemente editado ou montado de forma amadora. O avanço da tecnologia permite, por exemplo, que até vídeos hoje sejam manipulados facilmente em qualquer programa disponível na rede, como vemos muitos casos por aí. Por exemplo, vídeos com rostos alterados, vozes de artistas em rostos comuns e etc. Fundamentar qualquer acusação em fragmento de áudio é algo que não faz sentido algum, senão, político, como é o caso.
Tribuna Ribeirão – Na denúncia ela também anexou um comprovante de depósito bancário no valor de R$ 1.200,00, feito no dia 22 de março do ano passado para Jorge Luiz de Andrade. Quem é este senhor?
Sérgio Zerbinato – Jorge é esposo da minha irmã. Porém, eu não tive acesso a essa informação na época em que o depósito foi feito. Justamente por eu não ter ligação alguma com este pagamento. Tratava- se de uma relação comercial entre as duas.
Tribuna Ribeirão – O senhor tinha conhecimento deste depósito e o motivo dele ter sido feito?
Sérgio Zerbinato – Não, não tinha conhecimento. Como disse, eu vim ter acesso a essa informação recentemente. Esse pagamento refere-se a um serviço prestado pela minha irmã para a Ivanilde. A Ivanilde havia aberto espaço de recreação infantil no Complexo Ribeirão Verde, e como não tinha muita experiência com a parte administrativa, convidou minha irmã para ajudá-la com a parte burocrática. Inclusive, existem conversas de WhatsApp da minha irmã com pais de alunos do espaço de recreação infantil. Isso comprova o vínculo profissional entre as duas. Veja, a denúncia alega que os pagamentos do suposto esquema eram frequentes, no valor de R$ 3 mil mensais, e foi anexado um depósito de R$1,2 mil nada mais. Claramente, resgataram este legítimo pagamento para validar uma falsa acusação sobre mim. Desafio, assim, como ocorre com a íntegra do suposto áudio, que como dito, não tive acesso, tão pouco o promotor, que seja apresentado qualquer depósito para mim ou para a minha irmã de R$ 3 mil mensais.
Tribuna Ribeirão – Em sua avaliação, porque sua ex-assessora está lhe acusando da prática de ‘rachadinha’?
Sérgio Zerbinato – Trata-se de uma articulação política que está sendo capitaneada pelo meu suplente direto na Câmara, o senhor Giomário. Existem vários relatos de encontros entre os dois assim que ela foi afastada do meu gabinete. Inclusive dizendo que queria se encontrar com ela para conversar, por que ele seria o maior interessado em uma possível cassação do meu mandato. O Giomário nunca aceitou o fato de não ter ganhado pelo voto popular. Tentou em outros momentos fazer acusações infundadas, foi atrás de outras pessoas ligadas a mim com o mesmo objetivo, mas não teve sucesso. Agora, que ela, antes de ser assessora ganhava R$1 mil por mês, e, quando era minha assessora recebeu nestes meses mais de R$6 mil mensais, acredito que motivada por vingança, e, talvez pela promessa de retornar ao cargo que exercia comigo ou, ainda, receber algum benefício, ela aceitou se juntar. Isso tudo com o apoio da mídia que publicou a matéria veiculada por ela com um teor parcial. A situação fica ainda mais complexa, pelo fato da própria Ivanilde ter entrado em contato com minha assessoria dias antes de tal matéria, alegando que eu não deveria ir para uma entrevista (e aqui abro um parêntese, que ninguém sabia que estava marcada, mas ela por motivos óbvios, sabia) porque segundo ela, eles estavam querendo me prejudicar. Todos esses fatos apontam diretamente para uma articulação de gente interessada politicamente e de veículos de impressa para viabilizar esse processo de cassação e de improbidade.
Tribuna Ribeirão – O senhor conhece Ivanilde há quanto tempo? Quanto tempo ela trabalhou para o senhor e por que foi mandada embora?
Sérgio Zerbinato – Conheci Ivanilde em meados de 2017, em projetos sociais voltados para o Ribeirão Verde. Depois ela me ajudou na campanha de 2020, para vereador. Por algumas vezes tentei remanejar suas tarefas até acabar decidindo por dispensá-la, em julho de 2021, pois o mandato precisa estar à disposição dos munícipes de Ribeirão Preto. A minha preocupação é e sempre foi trabalhar por essa cidade da melhor forma possível, não podendo manter em minha equipe alguém que não estivesse comprometida, naquele momento, com esse objetivo.
Tribuna Ribeirão – Outra ex-assessora da Câmara, Renata Benedicto – foi assessora do então vereador Luciano Mega – também afirma que o senhor teria oferecido emprego em troca dela devolver parte do salário. Como o senhor analisa esta acusação?
Sérgio Zerbinato – Como bem dito, a referida pessoa foi assessora do vereador Luciano Mega, não minha. Em momento algum foi feito qualquer convite para que ela viesse trabalhar comigo, justamente por conhecê-la e entender que não estava dentro do perfil que eu buscava. Analiso essa acusação como algo infundado. Ela não apresentou sequer uma evidência desse convite ou conversa. Não existe uma ligação telefônica, uma mensagem, um e-mail. Nada, absolutamente nada. O que causa mais espanto é um post no Facebook feito por ela, sem apresentar nada, ser o suficiente para embasar uma acusação contra mim. Ela sabe que está mentindo, e quem conhece a conduta dela sabe também. Outra evidência que aponta a farsa é que a Renata apoiou outro candidato na eleição de 2020, não eu.
Tribuna Ribeirão – O senhor conhece a ex-assessora Renata Benedicto?
Sérgio Zerbinato – Conheci a Renata através do Dr. Luciano Mega. Ela trabalhava com ele e por eu estar sempre próximo ao mandato, quando ele então era vereador, acabei me aproximando dela, mas jamais fomos amigos próximos. A chateação dela deve ser por que em um dado momento, ela sabia que o vereador Luciano Mega não seria candidato à reeleição, e então comentou comigo, que caso eu fosse eleito, se poderia chamá-la para trabalhar comigo. No entanto, jamais houve qualquer sinal da viabilidade.
Tribuna Ribeirão – Qual será sua linha de defesa à Justiça e ao Conselho de Ética da Câmara?
Sérgio Zerbinato – A minha defesa já foi entregue e está baseada nos fatos que mencionei aqui. A ligação direta de Ivanilde com meu suplente na Câmara, o interesse deste em que eu perca meu mandato, a articulação de alguns veículos de imprensa mal-intencionados e, principalmente, a falta de evidências técnicas para respaldar essa acusação. Todos esses elementos apontam para uma farsa que precisa ser desmascarada. Tenho confiança na capacidade técnica do Conselho de Ética e do Judiciário para que a justiça seja feita e que a democracia seja respeitada.
Tribuna Ribeirão – A quem interessaria sua cassação por improbidade administrativa?
Sérgio Zerbinato – Diretamente, o maior interessado é justamente o senhor Giomário, que é meu suplente no partido, e isso foi dito por ele à lvanilde em uma conversa. Então acho que não existem dúvidas. Os outros eu entendo como peças manipuladas para que chegue ao seu objetivo. Só que o fato de se permitir ser usado para uma ação tão grave como essa, não tira deles sua responsabilidade. Gostaria de deixar bem esclarecido à população de Ribeirão Preto, que foram ouvidos pelo Ministério Público todos os meus assessores, com exceção da Ivanilde, todos ofereceram a entrega dos extratos de suas contas correntes do ano de 2021, o que foi rejeitado pelo promotor, e, mais, não foi pedido pelo promotor para a senhora Ivanilde a entrega do suposto áudio na íntegra para a juntada ao processo ou na investigação, tão pouco, os extratos dela, para comprovar os R$ 3 mil mensais ditos como pagos à minha irmã. Nada, exatamente, nada, pelo contrário, a palavra da Ivanilde foi mais valiosa do que a dos outros quatro assessores, que afirmam que não aconteceu ou acontece rachadinha em meu gabinete. Como é possível não pedir o áudio do suposto crime e os extratos do suposto crime? Nunca nem me perguntaram se sou eu naquele fragmento de áudio ou não.
Tribuna Ribeirão – As denúncias mudaram a relação dos eleitores com o senhor?
Sérgio Zerbinato – Não houve mudança. A população que me elegeu, majoritariamente a da região do Ribeirão Verde, sabe que eu sempre atuei em defesa daqueles bairros que sempre foram esquecidos pelo poder público. Quem me conhece e votou em mim sabe que tenho a política como uma missão. Missão essa que às vezes é desgastante. Muitas vezes abri mão dos meus próprios interesses para estar na linha de frente das questões sociais da cidade. Eu vim de origem pobre, continuo morando na mesma casa que morava, não enriqueci, não mudei meus hábitos ou estilo de vida, e quem votou em mim sabe disso. Eu estou lá todos os dias, exatamente como estava antes de ser vereador. Nada mudou.
Tribuna Ribeirão – O senhor se considera injustiçado?
Sérgio Zerbinato – Injustiçado não, porque acredito na competência das instâncias que irão apurar essas falsas denúncias. Considero-me, sim, perseguido por gente influente, como é o caso de alguns jornalistas, que acabam utilizando a situação de uma acusação infundada para crescer em audiência. Vender publicidade, ou sei lá o que. Mas acredito na competência do Conselho de Ética. Sei que vou provar minha inocência. Então injustiçado não sou, por que ainda não foi julgado nada, o que existe é uma acusação infundada e sem provas, como já expliquei e que ainda será apurada, e posteriormente julgada.
Tribuna Ribeirão – Existe a possibilidade de o senhor renunciar ao seu mandato parlamentar para evitar eventual cassação?
Sérgio Zerbinato – Não houve mudança nenhuma. Sigo de cabeça erguida, trabalhando normalmente por quem me elegeu e por toda a cidade de Ribeirão. Sou inocente e não vejo motivo para renúncia. Vou seguir assim, me defendendo e trabalhando.