Em maio, as vendas nas lojas ribeirão-pretanas recuaram 3,5% na comparação com o mesmo período do ano passado, mas para os comerciantes da região Central de Ribeirão Preto a queda foi ainda mais drástica, segundo levantamento realizado pelo Centro de Pesquisas do Varejo (CPV) junto aos empresários do bairro e adjacências. Os negócios despencaram 39%.
A base de comparação é maio do ano passado, quando começaram as obras de mobilidade no Centro – intervalo de aproximadamente um ano. Entre os empreendedores pesquisados, 98% apontaram redução nas vendas. Sobre o movimento de clientes, a queda apurada foi de 41%, em média, sendo que 100% dos lojistas entrevistados apontaram redução no movimento.
O CPV já divulgou, em junho, pesquisa indicando que as vendas caíram 45% na avenida Dom Pedro I, no Ipiranga, Zona Norte, desde a implantação do corredor de ônibus na via, em outubro de 2022– passará a ser preferencial a partir de 1º de agosto, deixando de ser exclusivo para o transporte coletivo urbano. O movimento de clientes recuou 42%.
Também já informou que as obras de revitalização, restauro e implantação de corredor de ônibus na avenida Nove de Julho geraram retração de 60% nas vendas desde o início das intervenções do Programa Ribeirão Mobilidade, em 20 de junho de 2023. O movimento de clientes despencou 59%.
Porém, no geral, o comércio varejista da cidade registrou crescimento médio de 0,72% no acumulado do ano passado, em comparação com 2022. As vendas nas lojas ribeirão-pretanas dispararam 7,3% em janeiro, desaceleraram a 3,1% em fevereiro, encerraram março com alta tímida de 1,5% e emplacaram a primeira queda do ano em abril, de 2%.
O CPV é mantido por Sindicato do Comércio Varejista de Ribeirão Preto e Região (Sincovarp) e Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL RP). A região Central da cidade é considerada o “coração” do setor lojista, representando especialmente o varejo tradicional. Entre os empreendedores pesquisados no Centro, 98% apontaram redução nas vendas.
Entre as empresas pesquisadas, 16% são microempreendedores individuais (MEis), 60% micro, 18% são de pequeno porte), 3% são médias e 3% são grandes. O levantamento também apurou que, desde o início das obras, houve uma redução média de 35% nos quadros de funcionários dos estabelecimentos varejistas pesquisados.
De acordo com a pesquisa, 75% dos empreendedores tiveram de demitir, 23% conseguiram manter o número de colaboradores e apenas 2% contrataram nesse período. Também foi perguntado o que os empreendedores esperam do futuro do Centro de Ribeirão Preto em médio e longo prazos, dentro de uma escala de 1 a 5, em que 1 significa “muito pessimista” e 5 “muito otimista”.
Na perspectiva de médio prazo, considerando até o final do segundo semestre de 2024 (até o Natal), o nível de confiança ficou em 2,3 pontos, no limite entre pessimista e regular. Na perspectiva de longo prazo, considerando os próximos doze meses (até o final do primeiro semestre de 2025), o nível de confiança ficou em 2,4 pontos, também no limite entre pessimista e regular.
Segundo Diego Galli Alberto, pesquisador e coordenador do CPV, “claramente os lojistas enxergam uma sucessão de fatores: a tendência de esvaziamento do centro, percebida há muitos anos; os prejuízos da pandemia, que ainda ecoam; os impactos e prejuízos causados pelas obras de mobilidade; e o temor de que, após os corredores implantados, as vendas não se recuperem”, analisa.
Ainda segundo o pesquisador, “Varejo precisa de fluxo de consumidores e, também, que estes tenham facilidade de chegar aos estabelecimentos. Tudo que dificulta esse processo faz as vendas caírem e, com menos vendas, o Comércio desaba. E, como uma coisa puxa a outra, também caem as vagas de emprego, os investimentos e o otimismo dos empreendedores que, em sua grande maioria, estão a frente de pequenos negócios”, finaliza.
Em nota, a prefeitura de Ribeirão Preto diz que “o Plano Municipal de Mobilidade, que inclui diversas obras, entre elas, os corredores de ônibus, é essencial para o desenvolvimento urbano do município, já que permiti que a cidade atenda às necessidades dos moradores de forma eficiente e sustentável. As obras na avenida Nove de Julho devem ser entregues no próximo ano. Estão adiantadas, e um dos trechos entre as ruas São José e Garibaldi já foi concluído e aberto para o trânsito.”
Livre manifestação dos comerciantes
O levantamento do Centro de Pesquisas do Varejo (CPV) também deixou um campo de preenchimento para que os empreendedores apontassem/justificassem livremente os fatores que teriam influência no nível de otimismo/pessimismo manifestado e para que fizessem seus apontamentos.
Entre as principais colocações está o temor de que as obras demorem mais para terminar.
Dizem que o Centro está “abandonado”, “esvaziado” e “com muitos transtornos por causa das obras”, afastando os consumidores. “Se as obras acabarem, o trânsito poderá fluir melhor e talvez melhore”. Destacam a necessidade de ações para trazer de volta o consumidor
Demonstram preocupação de que a queda nas vendas continue mesmo depois dos corredores de ônibus funcionando, assim como ocorreu em outros eixos comerciais da cidade, e com a saída do centro administrativo da prefeitura do Centro.
Existe a preocupação com os impactos das obras nas próximas datas sazonais do calendário varejista, em 2024. Sugerem que não haja corredores nas ruas Visconde de Inhaúma e Barão do Amazonas, são ruas estritamente comerciais. Há o temor de que o impacto das obras intensifique o esvaziamento de imóveis comerciais.
Há preocupação com vagas de estacionamento e com a largura das ruas que recebem os corredores, considerando que já são vias estreitas, deixando pouco espaço para a circulação de veículos comuns. Citam ainda a insegurança devido a invasões, furtos e vandalismo.
Pedem ações relativas ás pessoas em situação de rua e demonstram expectativa de que o sistema de corredores de ônibus no Centro de Ribeirão Preto seja reavaliado a partir de janeiro de 2025, com a busca de soluções alternativas.