O sociólogo Tadzio Coelho, professor na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), pesquisou em seu doutorado, a relação entre a mineração e o desenvolvimento em municípios onde opera a Vale SA. Ele avalia que uma das principais mudanças entre a gestão pública e a privada da empresa foi a imposição de um modelo de mineração mais desumano e predatório.
Ele afirma que, após a privatização em 1997, pelo governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), as escalas de produção e extração da mineração da empresa aumentaram com o maior emprego de aparelhagem tecnológica nos métodos de exploração e extração minerais. “A escala da geração de rejeitos também é ampliada. E se há a ampliação da escala de produção, como subproduto da produção mineral tem o rejeito. E daí existe uma maior necessidade da expansão e loteamento das barragens de rejeito”, ele explica.
Outra mudança que veio com a privatização foi a diminuição da participação dos trabalhadores e das comunidades nos caminhos da empresa, segundo o pesquisador. “A Vale, na medida em que foi privatizada, implementou a lógica rentista e financeira. Ela começou a ser pautada pelos interesses dos seus acionistas e do mercado financeiro”, pontua. Com a privatização, a Vale passou a ser comandada pelo Bradesco, integrante do consórcio Valepar, detentor de 32% das ações, enquanto os investidores estrangeiros passaram a somar 26,7% das ações totais da empresa.
A empresa estatal também é suscetível à prática de crimes humanos e ambientais, mas a maior tendência é isso acontecer com a empresa privada, porque os trabalhadores e o interesse público, em uma empresa estatal, possuem maior preponderância e espaço para a ação.
Mesmo antes das catástrofes socioambientais de Mariana e Brumadinho, a contaminação da atividade mineradora já era objeto de denúncias. Publicado em 2014, o livro “Recursos Minerais e Comunidade: impactos humanos, socioambientais e econômicos”, organizado pelo Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), catalogou 1.500 mil documentos e relatou o estudo de caso de 105 lugares espalhados em 22 estados brasileiros que sofreram impactos negativos da mineração.
O aumento da dispersão de metais pesados, mudança da paisagem do relevo, contaminação dos cursos d’água, danos à flora e à fauna, desmatamento e erosão foram citados como os principais problemas causados ao meio ambiente. A atividade da Vale S.A. é responsável por grande parte dessas denúncias.
Em janeiro de 2012, a Vale foi eleita como a pior empresa do mundo no que se refere a direitos humanos e meio ambiente pelo Prêmio Public Eye, premiação realizada desde o ano de 2000 pelas ongs “Greenpeace” e “Declaração de Berna”. O motivo: “uma história de 70 anos manchada por repetidas violações dos direitos humanos, condições desumanas de trabalho, pilhagem do patrimônio público e pela exploração cruel da natureza”.
Além disso, a “Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale”, grupo de sindicalistas, ambientalistas e acadêmicos de oito países, produziu o “Relatório da Insustentabilidade”, que reúne as denúncias e violações cometidas pela empresa até 2015. Percebe-se que o impacto da empresa é global. Este Relatório de 2015 também apontou que, com a privatização, aumentaram os casos de assédio moral e subnotificação do aumento dos acidentes de trabalho.