Rosemeire Soares Talamone
Na próxima quarta-feira, 24 de janeiro, duas reinaugurações marcam resgate de prédios históricos do campus Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). Às 14 horas tem a reinauguração do “Restaurante do Campus”, em prédio onde morou o administrador da Fazenda Monte Alegre que deu origem ao campus.
O evento contará com descerramento de placa, exposição de fotos – registro das várias fases de vida do prédio – e apresentação do Coral da USP Ribeirão – Grupo Zênite. Já às 16h30, com descerramento de placa e apresentação da USP-Filarmônica, será realizada a reinauguração do Teatro do Campus, onde por muito tempo funcionou a “Capela da USP”.
“Restaurante do Campus”
Construída em 1902, para Jacob Schmidt, administrador da Fazenda Monte Alegre e filho de Francisco Schmidt, dono da propriedade que hoje abriga o campus da USP em Ribeirão Preto, a construção é típica das moradias rurais paulistas do início do século XX. Segundo dados históricos, tratava-se de uma ampliação de edícula da casa grande, cujo provável responsável teria sido o francês Edouard Le Maçon, o construtor da maioria dos empreendimentos de Francisco Schmidt.
De 1984 a 1989, a edificação passou por obras de recuperação e reciclagem e até 2002 foi sede do “Clube dos Docentes”. O local funcionava como restaurante no almoço e american bar às sextas-feiras no final da tarde. O fechamento ocorreu em função de restrições orçamentárias e de funcionários.
“Teatro do Campus”
O prédio do “Teatro do Campus” foi construído na década de 1960 para abrigar, num primeiro momento, um Centro Ecumênico e ganhou o nome de “Capela São Lucas”. Tem projeto arrojado para a época, sem informação de sua autoria. O prédio possui linhas modernistas com paredes flutuantes penduradas em balanço por colunas e vigas que criam um pé direito de sete metros e 547 metros quadrados de vão livre. Os vitrais são do artista Bassano Vaccarini.
Desde a década de 1970, começou a ser utilizado para atividades artísticas e culturais, como espaço de concertos da Sociedade Pró-Música e do Madrigal Revivis. Em 1983, o Coral da USP-Ribeirão adotou o local para seus ensaios, seguido alguns anos depois pelo Teatro Ribeirão -pretano da USP (Trusp).
Em 1987 passou a receber espetáculos teatrais e o altar foi transformado em palco para abrigar a Orequestra Sinfônica da USP (Osusp). Recebeu, a partir de então, atores como Marilena Ansaldi e Celso Frateschi, Grupo Tapa, Escola de Arte Dramática da USP, Departamento de Artes Cênicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Teatro Popular União e Olho Vivo (Tuov), entre outros.
Uma das curiosidades que causou “desconforto” à comunidade foi a nudez da atriz Marilena Ansaldi (na montagem “Hamletmachine”, encenada em 1987) o que acirrou o atrito entre a comunidade católica e os organizadores do evento e culminou com o recolhimento dos aparatos litúrgicos e a proibição, por ordem do bispo local, da realização de missas na “antiga capela”.
Em 1994 começou sua adaptação para espaço cultural, o que foi concretizado em 2003 com a inauguração do “Espaço Cultural Capela”. O uso frequente do espaço mostrou necessidades que não haviam sido contempladas no projeto anterior.
Assim, em junho de 2017, iniciou a reforma para atender essas necessidades e tornar prédio mais acessível. De sanitários a telhado, todo o prédio foi adequado às novas normas de combate à incêndio e de acessibilidade, com construção de estrutura e instalação de elevador. As estruturas cênicas e forros foram trocados para melhorar a acústica e, ainda, teve o palco reformado.