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USP inicia teste contra o câncer 

Neste primeiro momento, quatro pacientes serão tratados no HC e terão os dados submetidos à Anvisa para avaliação da segurança (Guilherme Sircili)

Com informações de Carlos Fioravanti  
(Revista Fapesp) 
 
Começa na próxima sexta-feira, 15 de março, o estudo clínico com o uso de terapia CAR-T conduzido pelo Hemocentro de Ribeirão Preto, em parceria com o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP) e o Instituto Butantan. 
 
Neste primeiro momento, quatro pacientes serão tratados no HCFMRP-USP e terão os dados submetidos à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para avaliação da segurança. Ao todo, 81 pessoas com leucemia linfoide aguda de células B e linfoma não Hodgkin de células B participarão da iniciativa, em cinco hospitais do Estado de São Paulo. 
 
As células serão processadas no Núcleo de Terapia Avançada (Nutera) Ribeirão Preto. A “fábrica de células”, localizada no Hemocentro, permite ampliar as operações, atendendo à crescente demanda e mantendo um rigoroso controle de qualidade, operando em conformidade com as Boas Práticas de Fabricação (BPF).  
 
O objetivo é desenvolver um produto nacional e disponível para o Sistema Único de Saúde (SUS). O paciente que acredita preencher os requisitos deve conversar com o seu médico e solicitar contato pelo e-mail [email protected], anexando o relatório de saúde do voluntário.  
 
O e-mail será avaliado pela equipe médica das instituições participantes e, caso se enquadre, o médico responsável será avisado. Para mais informações, acesse https://www.hemocentro.fmrp.usp.br/terapia/. Será um teste de avaliação de segurança e eficácia de uma das formas de terapia celular chamada de CAR-T (sigla de receptor quimérico de antígeno; o T se refere aos linfócitos T, um grupo de células brancas do sangue). 
 
Desenvolvida nos Estados Unidos em 2017, e, no Brasil, desde 2019, pelo Hemocentro do HCFMRP-USP em colaboração com o Instituto Butantan e apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), essa técnica consiste na retirada de linfócitos do próprio paciente, que são
manipulados em laboratório e reaplicados no organismo.
 
 
O objetivo é preparar os linfócitos para identificar e eliminar células tumorais que não foram detidas por outras terapias medicamentosas. O médico hematologista Diego Clé, da FMRP-USP, anunciou o teste e expôs suas expectativas com essa forma de terapia celular na última quinta-feira (7). 
 
Com apoio da Fapesp e do Ministério da Saúde (MS), deverão participar da terapia CAR-T 81 pessoas com leucemia e leucemia linfoide aguda que não responderam a outras formas de tratamento. Clé comentou que 20 pessoas já foram tratadas previamente com as células preparadas no Nutera-RP, em alguns casos com bons resultados.  
 
“Essa forma de terapia celular pode mudar a forma de tratamento de leucemias resistentes, mas o custo é quase proibitivo para um país como o nosso”, comentou. O tratamento por paciente pode chegar a R$ 2 milhões, com medicamentos importados ‒ a Anvisa já aprovou três para uso no Brasil. 
 
“O produto nacional vai custar um sexto do importado”, estima o médico infectologista Esper Kallás, diretor do Butantan. Isso deverá ocorrer porque os custos de produção serão menores. “Sem esse tipo de solução, o SUS [Sistema Único de Saúde] quebra.”  
 
Kallás enfatizou a necessidade de expandir a produção de vacinas, medicamentos e insumos farmacêuticos no Brasil. “Temos infraestrutura e boas cabeças, mas ainda muitas travas burocráticas e dificuldade de dar continuidade aos investimentos”, afirmou.  

Um avanço no tratamento contra câncer no sangue 
A pesquisa é considerada mais um avanço no tratamento contra o câncer hematológico (no sangue). Os 81 voluntários são pacientes com leucemia linfoide aguda de células B e linfoma não Hodgkin de células B, com o produto de células CAR-T desenvolvido no Hemocentro de Ribeirão Preto.  
 
Essa nova terapia usa células de defesa do próprio corpo, modificadas em laboratório, para atacar linfomas e leucemia. “Tanto a tecnologia de transferência de genes, por meio de vetor viral, quanto a tecnologia de produção das células são avanços em desenvolvimento pelos pesquisadores nacionais”, diz a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 
 
Remissão Em maio do ano passado, um paciente teve remissão completa de um linfoma não Hodgkin (tipo de câncer que se origina no sistema linfático) em apenas um mês. A evolução foi celebrada por pesquisadores, pois ele foi um dos 14 pacientes que participaram de estudo com a terapia CAR-T Cell desenvolvido pelas Faculdades de Medicina da USP na capital e da USP de Ribeirão Preto, em parceria com o Hemocentro ribeirão-pretano e pelo Instituto Butantan. 
 
O escritor e publicitário Paulo Peregrino, de 61 anos, foi diagnosticado com seu primeiro linfoma não Hodgkin em 2018. Ele já havia tentado de tudo para acabar com a doença: passou por quimioterapia e transplante autólogo quando as células-tronco hematopoiéticas do próprio paciente são removidas antes da administração da quimio de alta dose e infundidas novamente após o tratamento. Mas nada disso adiantou. O paciente estava em seu terceiro linfoma. 
 
Dos 14 participantes, nove tiveram remissão completa. Comparando a imagem de exames antes e depois do tratamento, é possível ver a remissão dos linfomas no corpo do paciente. O processo de tratamento de Peregrino com a terapia CAR-T Cell começou em dezembro de 2022, quando ele foi internado no Hospital das Clínicas para ter suas células de defesa colhidas. Ele precisou ficar um mês sem fazer quimioterapia para os médicos conseguirem colher as células nas condições recomendadas 
 
Na época, a equipe entrou com pedido de aprovação e autorização pela Anvisa e pelo Comitê Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para participação do paciente no estudo e, assim que aceito, foram colhidas as células de defesa do organismo de Peregrino e enviadas ao Hemocentro de Ribeirão Preto, onde foram colocadas em cultura. 
 
Em 2019, o servidor público aposentado Vamberto Luiz de Castro, de 62 anos, lutava contra um linfoma quando buscou o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Em um quadro terminal, aceitou participar do tratamento experimental de células CAR-T pela USP. Foi o primeiro da América Latina a passar pelo tratamento. Menos de 20 dias depois, apresentou remissão da doença.  O desfecho do caso não pôde ser acompanhado porque o homem morreu em um acidente doméstico. 
 
Desde 2020, a Anvisa registrou três produtos de terapia gênica, do tipo CAR-T, para tratamento de leucemias, linfomas e mielomas, e dois produtos de terapia gênica para doenças genéticas raras, desenvolvidos por empresas farmacêuticas biotecnológicas internacionais. 
 
A tecnologia chamada CAR-T Cell (sigla para receptor quimérico de antígeno, em português) é um tipo de imunoterapia. Ela utiliza linfócitos T, células do sistema imunológico do organismo. O tratamento consiste em retirar, isolar e reprogramar os linfócitos T para conseguirem identificar células do câncer. 
 
A terapia celular inovadora já se mostrou altamente eficaz no tratamento de alguns tipos de câncer de sangue, como linfoma e leucemia linfoide aguda. No Brasil, o estudo vem sendo desenvolvido em parceria entre Instituto Butantan, Universidade de São Paulo e Hemocentro de Ribeirão Preto.  
 

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