Tribuna Ribeirão
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Usina de Belo Monte – Laudo corrobora delação de Palocci

CELSO JUNIOR

A Polícia Federal (PF) ane­xou ao inquérito que investiga propinas em Belo Monte, no Pará, a maior obra do setor elé­trico dos governos petistas de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, um laudo pericial so­bre corrupção da Odebrecht na obra que corrobora as denún­cias feitas pelo ribeirão-pretano Antônio Palocci Filho em sua delação premiada. O ex-minis­tro da Fazenda e da Casa Civil incriminou os dois ex-presiden­tes, ao relacioná-los aos supostos acertos de propinas para o PT e o MDB no negócio.

Pelo menos R$ 135 milhões foram cobrados das empresas envolvidas no leilão de con­cessão e obra da maior usina hidrelétrica 100% brasileira, inicialmente orçada em R$ 13 bilhões e que custará mais de R$ 30 bilhões ao governo. O laudo conclui que há registros de que “Italiano”, “Esquálido” e “Professor” estão relacionados a valores do centro de custo “Belo Monte” nos arquivos do setor de propinas da Odebrecht. Os codi­nomes eram usados para identi­ficar, respectivamente, Palocci, Edison Lobão (ex-ministro de Minas e Energia do MDB) e Delfim Netto, o ministro do “milagre econômico”.

“Foram constatados, a partir de exames periciais em arqui­vos disponíveis no material (…), registros de transações monetá­rias entre a empresa Odebrecht e os beneficiários de codinomes ‘Italiano’, ‘Esqualido’ e ‘Professor’ com débito na Obra/Centro de Custo ‘UHE Belo Monte’”, regis­tra conclusão do laudo contábil-financeiro, assinado pelo perito criminal federal Ivan Roberto Ferreira Pinto. O laudo anexado na quinta-feira, 17 de janeiro, ao inquérito da PF em Curitiba que apura corrupção em Belo Monte é de 30 de outubro do ano passa­do – um mês antes de Palocci ter os benefícios de seu acordo de colaboração reconhecidos pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), e ir para casa depois de dois anos preso.

O objetivo da perícia foi “aprofundar investigações de crimes cometidos e/ou relata­dos por Antônio Palocci Filho”, primeiro delator do núcleo po­lítico de comando do esquema de corrupção na Petrobras. Ele contou sobre sua atuação direta no acerto de R$ 135 milhões em propinas em Belo Monte – equivalente a 1% do contrato de R$ 13,5 bilhões. O valor teria sido dividido de for­ma igualitária, 50% cada, entre o PT e o MDB. Essa frente de investigação junto com a dos negócios das sondas brasileiras para exploração do pré-sal são focos da Lava Jato em Curitiba esse ano e encurralarão ainda Lula e trarão Dilma para o cen­tro do escândalo.

Outros depoimentos adi­cionais foram tomados e tam­bém foram anexados ao inqué­rito da PF, junto com o laudo. O ex-ministro dos governos do PT conta que houve acerto de 1% de propinas. Inicialmente – o leilão é de 2010, último ano do governo Lula –, só o MDB foi beneficiado na divisão de valores. Segundo ele, Dilma teria determinado em um pri­meiro momento que não fosse recolhido a parte petista, mas sabia e autorizou os pagamen­tos ao partido. “Deu ciência a Dilma Rousseff dos vultuosos pagamentos que a Andrade Gutierrez estava fazendo ao PMDB em razão da obra de Belo Monte”, registra Palocci. “A então candidata (Dilma) tomou ciência e efetivamente autorizou que se continuasse a agir daquela forma.”

Palocci narra uma disputa entre Lula e Dilma pelo controle dos valores arrecadados e uma tentativa de “ruptura” da suces­sora com seu padrinho nesses acertos. Ele detalha que em 2012 foi cobrado pelo ex-presidente dos valores a serem recebidos das empreiteiras por Belo Mon­te e sobre pagamentos a Delfim e o amigo José Carlos Bumlai – pecuarista com acesso liberado ao Planalto em seu governo – e colaboração com o então tesou­reiro do PT, João Vaccari Neto, preso e condenado na Lava Jato.

O delator aponta Vaccari como o responsável pela co­brança de valores de Belo Monte à partir de 2012 e vincula o caso a pagamentos da campanha de prefeito de São Paulo, do então candidato Fernando Haddad (PT). Lula teria afirmado que ordenou a “formação do con­sórcio alternativo” para vencer o leilão de Belo Monte e que Del­fim e Bumlai deveriam ser “ser pagos em virtude” de suas atua­ções. Palocci diz que a presença de Bumlai “significava que havia interesses também de Lula no recebimento dos valores”. Isso porque, “trabalhos de Bumlai era feitos, muitas das vezes, para a sustentação da família de Lula”.

A Lava Jato considera ter evidências de que governo fede­ral atuou de forma indevida para que o leilão fosse vencido pelo Consórcio Norte Energia, que posteriormente deu origem à SPE Norte Energia S.A. O laudo faz parte da fase de produção de provas do inquérito com base no que revelou Palocci. Além dos registros do setor de propinas da Odebrecht – sistemas de conta­bilidade e comunicação secreta MyWebDay e Drousys –, foram analisados e anexados e-mails dos executivos do grupo, entre eles Marcelo Odebrecht.

A defesas dos citados no caso
O criminalista Luiz Flávio Borges D’urso, defensor de João Vaccari Neto, afirmou que seu cliente “jamais foi tesoureiro de campanha e nunca solici­tou qualquer recurso para campanha de quem quer que seja. O sr. Vaccari foi tesoureiro do PT e, dessa forma, solicitava doações legais somente para o partido, as quais eram realizadas por depósito em conta bancária do partido, com recibo e com prestação de contas às autoridades. Quem eventualmente o acusa é um delator, que nada prova, pois tratam-se de mentiras para obter diminuição de pena”, sustenta o criminalista.

Os advogados Ricardo Tosto e Jorge Nemr, que defendem Delfim Netto, também divulgaram nota. “Todos os esclarecimentos e as in­formações sobre esse tema já foram prestados às autoridades. A de­fesa esclarece que “o professor Delfim Netto não ocupa cargo público desde 2006 e não cometeu nenhum ato ilícito em qualquer tempo. Os valores que recebeu foram honorários por consultoria prestada”.

A propósito das supostas novas declarações do senhor Antônio Palocci, a assessoria de imprensa da ex-presidente de Dilma Rou­sseff registra: “mais uma vez, o senhor Antônio Palocci mente em delação premiada, tentando criar uma cortina de fumaça porque não tem provas que comprometam a idoneidade e a honra da presidenta Dilma. É fantasiosa a versão de que ela teria ‘dado corda’ para a Lava Jato ‘implicar’ Lula. Isso não passa de uma tentativa vazia de intrigá-la com o presidente Lula. Na verdade, a delação implorada de Palocci se constitui num dos momentos mais vexaminosos da políti­ca brasileira, porque revela o seu verdadeiro caráter”, diz o texto.

A assessoria de imprensa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em nota, que a “Lava Jato tem quase 200 delatores beneficiados por reduções de pena. Para todos perguntaram do ex-presidente Lula. Nenhum apresentou prova nenhuma contra o ex -presidente ou disse ter entregue dinheiro para ele”. “Antônio Palocci, preso, tentou fechar um acordo com o Ministério Público inventando histórias sobre Lula. Até o Ministério Público da Lava Jato rejeitou o acordo por falta de provas e chamou de ‘fim da picada’”, diz a nota.

“Mas o TRF-4 decidiu validar as falas sem provas de Palocci, que saiu da prisão e foi para a casa, com boa parte de seu patrimônio mantido em troca de mentiras sem provas contra o ex-presidente. O que sobra são historinhas para gerar manchetes caluniosas. Todos os sigilos fiscais de Lula e sua família foram quebrados sem terem sido encontrados valores irregulares. Curiosa a divulgação dessa delação sem provas justo hoje quando outro motorista ocupa o noticiário.”

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