A vereadora Gláucia Berenice (PSDB) está em seu terceiro mandato na Câmara de Ribeirão Preto. Com formação universitária em Assistência Social e forte atuação na elaboração de políticas públicas, com ênfase participativa, ela é a única mulher vereadora da cidade.
Nos dois mandatos anteriores, Gláucia teve outras duas companheiras no parlamento. A ex-vereadora Silvana Resende (PSDB), que deixou a vida pública eletiva no final de 2008 e a ex-vereadora Viviane Abreu (PPS), que ocupou uma cadeira no Legislativo entre 2013 e 2016. Viviane não se reelegeu nas últimas eleições para o Legislativo.
Nesta entrevista, Gláucia, que ao longo de seus mandatos coordenou a implementação de vários fóruns permanentes para discutir e fomentar ações em setores, como o da Assistência Social, Saúde Mental, Transparência e Direitos da Mulher, afirma que caminha normalmente por locais em que o PSDB pouco vai.
Tribuna Ribeirão – A senhora é a única mulher na atual legislatura municipal. Como avalia o fato das mulheres terem dificuldades para se eleger ao Legislativo?
Gláucia Berenice – Eu avalio que ainda é cultural. Apesar da nossa presença em quase todos os setores, ainda há uma cultura machista em que a mulher não é considerada competente. Ainda faltam mais candidatas mulheres. Normalmente, os partidos têm dificuldades de preencher a cota mínima de candidatas e não mobilizam o protagonismo feminino na entressafra (fora das eleições). É preciso incentivar as mulheres a participar da política, temos muito a contribuir neste processo.
Tribuna Ribeirão – A senhora enfrenta algum tipo de problema ou preconceito pelo fato de ser a única mulher vereadora?
Gláucia Berenice – A dificuldade está ligada à pouca representação feminina. Somos mais da metade do eleitorado e temos dificuldades em eleger mulheres. Acho que, a partir do momento em que tivermos uma presença maior, nossas demandas terão mais força.
Tribuna Ribeirão – Hoje, passados dois anos do inicio da Operação Sevandija, se pudesse voltar no tempo, a senhora assumiria o comando da Prefeitura como fez no passado?
Gláucia Berenice – Com certeza, faria da mesma forma. A cidade se desorganizou política e administrativamente. Havia compromissos a serem devidamente atendidos, principalmente relacionados ao pagamento de funcionários e aposentados, crises setorizadas na saúde, transporte, limpeza urbana. A cidade estava em vias de parar. Eu tinha a responsabilidade de impedir que a população sofresse mais os efeitos da paralisia do setor público e ainda havia o orçamento para 2017 para publicar. A possibilidade dos problemas extrapolarem o ano era muito grande.
Tribuna Ribeirão – Apesar de ser do mesmo partido do prefeito, PSDB, a senhora não aparenta proximidade com o governo. Por quê?
Gláucia Berenice – Os poderes são independentes. O governo tem a sua própria agenda e demandas e tem uma grave crise para resolver. Eu vejo que os vereadores trabalham no mesmo sentido, buscando soluções e as respostas que a população precisa. Cada um direciona seus esforços em determinada direção, mas, no final, estamos trabalhando na mesma causa.
Tribuna Ribeirão – Sendo extremamente direto, a senhora é o patinho feio do PSDB em Ribeirão?
Gláucia Berenice – O PSDB não tem muito o perfil popular. Sou uma liderança nova, evangélica, mulher, negra, da periferia. Caminho, normalmente, onde o partido pouco vai. Acho que não chego a ser um patinho feio, estou mais para uma estranha no ninho. No máximo.
Tribuna Ribeirão – A senhora é a favor da discussão da política de gênero na sala de aula?
Gláucia Berenice – A sala de aula é espaço para formação de cidadãos, profissionais do futuro e, como presidente da Comissão Permanente de Educação da Câmara Municipal, vejo que temos muito a avançar, principalmente em questões inerentes ao ensino. Outras questões cabem à família encaminhar. Não acho que é prioridade. O combate ao bullying, à intolerância, que deve ser um programa permanente, envolve a todos indistintamente. Mas não se combate uma violação de direitos praticando outra violação e afirmar e educar pela neutralidade é negar o direito à natureza biológica de toda criança. Mas a escola não deve assumir o protagonismo em questões específicas como essa. Não é o seu papel. Não há fundamentos científicos para embasar esta abordagem, trata-se de uma ideologia e a escola deve transmitir conhecimentos respaldados pelas ciências biológicas ou humanas.
Tribuna Ribeirão – Que avaliação a senhora faz da escolha do colombiano Ricardo Vélez Rodriguez, para ministro da Educação, no governo do presidente Jair Bolsonaro?
Gláucia Berenice – Não o conheço. Pelas ideias divulgadas pela imprensa, ele tem visão mais voltada ao papel tradicional da escola, para a formação acadêmica do aluno, incluindo sua cidadania. Acredito que foi uma boa escolha.
Tribuna Ribeirão – A senhora tem uma atuação centrada no setor social. Quais são seus principais projetos?
Gláucia Berenice – Atuo na prevenção da violência contra a mulher, criança e idoso, ao combate à dependência química, no reforço das políticas de proteção social. Dentro dessas áreas, tenho batalhado muito para a implantação da Vara Especializada contra a violência doméstica, a ampliação de vagas para educação infantil e uma política pública sustentável para crianças de rua. Atualmente também tenho atuado pela regulamentação do uso do Calçadão, pela regulamentação dos trenzinhos e de empreendedorismo social (economia solidária).
Tribuna Ribeirão – Por que o PSDB não lançou nenhum candidato à presidência da Câmara de vereadores para o exercício de 2019?
Gláucia Berenice – Não é prioridade do partido. Ele não tem a pretensão de ser hegemônico e comandar ambos os poderes. A ideia é convergir os ideais de trabalho pela cidade com as demais correntes políticas. A finalidade é sempre a união.