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Uma vida sem lixo

A designer catarinense Cristal Muniz, de apenas 27 anos, é uma das brasileiras preocupadas com a excessiva produção de resíduo sólido. No Brasil, cada pessoa produz um quilo do que se convencionou chamar “lixo” a cada dia. Convencionou-se chamar, porque muito pouca coisa é aquilo que não tem serventia. Quase tudo tem utilidade e só a ignorância é que deixa de descobrir que o descarte pode ser algo bastante rentável.

Pois a jovem não apenas criou um blog – umanosemli­xo.com – mas escreveu um livro, exatamente o título deste artigo: “Uma vida sem lixo”. Não é fácil converter-se à causa, porque estamos todos imersos na imensa e escura caverna de Platão (não exatamente a da Tailândia, onde se aventuraram os “Javalis Selvagens”), mas aquele mito-verdade da mais profunda ignorância. Achamos que tudo está bem quando poluímos o solo, a atmosfera, a água e tudo o mais, com o fruto de nossa sujeira.

Cristal, desde 2015, conseguiu reduzir em 80% a sua própria geração de resíduos. Trocou absorventes descar­táveis por coletores menstruais, copos de silicone que armazenam o sangue. Formou uma composteira, que gera adubo para as ervas que cultiva em sua casa. Elabora suas próprias versões de xampu ou desinfetante. Reduziu o uso de materiais recicláveis. Não defende tenazmente a reci­clagem, pois além de nem tudo ser reciclável, o processo brasileiro é muito falível.

Tem na bolsa um kit com marmita de aço inox, copo de silicone dobrável, guardanapos de pano, talheres de bambu e canudo reutilizável. Compra alimentos a granel e leva sacolas para carrega-los, dispensando o infame saco plástico. Compra menos e usa roupas adquiridas em bre­chós, confeccionadas com tecidos naturais como algodão orgânico e liocel, feito com fibras de madeira. Também não é dependente de marcas, nem precisa trocar cada eletrônico assim que um modelo mais recente o impuser, nesta era de obsolescência programada e predeterminada a nos fazer de servos do consumo.

O livro editado pela Alaúde traz outras dicas. Assim surgissem outras “Cristais”, cujo nome é metáfora insti­gante: transparência brilhante, para afastar a nódoa de uma civilização do descarte que acabará descartando qualquer possibilidade de vida neste sofrido planeta.

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