Tribuna Ribeirão
Cultura

Uma viagem imersiva pela obra do pintor brasileiro Candido Portinari

Divulgação
Por Eliana Silva de Souza

Mesmo não integrando os eventos da Semana de Arte Moderno de 1922, Cândido Portinari (1903-1962) impulsionou o modernismo nacional. Mais que isso, é um dos artistas que inequivocamente retrataram o Brasil e os brasileiros. Nada mais justo que seja ele o escolhido para ter suas obras reunidas na mostra Portinari para Todos, que será inaugurada no sábado, 5, no MIS Experience, em São Paulo. Sob a curadoria de Marcello Dantas, a exposição contará com imagens de mais de 150 obras do pintor. “Ninguém retratou a identidade brasileira como Portinari, ninguém fez isso na sua escala com essa diversidade, essa técnica e essa especificidade”, explica o curador sobre a escolha do artista homenageado.

Como na mostra anterior realizada pelo MIS Experience, sobre Leonardo Da Vinci, novamente o público será levado a uma imersão nos trabalhos e na vida do pintor, primeiro artista brasileiro retratado dessa forma. Segundo o curador, a escolha de Portinari para essa imersão teve como ponto de partida, além da importância do artista no cenário nacional e internacional, o fato de ele ter produzido incansavelmente. “Para realizarmos essa exposição, usando essas tecnologias imersivas, a gente precisava ter uma base que fosse muito diversa e a de Portinari é incomparável”, avalia Marcello, que justifica não ter sido “uma questão de quem é melhor ou pior”, mas sim por ele realmente ter feito 5 mil obras, o que o coloca em outro patamar “Quantos artistas na história da humanidade fizeram cinco mil?”, questiona.

Modernismo

Mais que a quantidade de obras, Portinari foi escolhido por retratar em sua arte o povo brasileiro. E é esse ponto que o curador destaca. “Se é para falarmos a partir de um ponto de vista brasileiro, é importante a gente olhar para alguém que olhou para brasilidade, para essa identidade”, reforça, expressando sua convicção na escolha. “Portinari é o artista, é o candidato natural” para a exposição com esse perfil.

Apesar de não ter integrado a Semana de Arte Moderna de 1922, e Marcello Dantas deixa claro essa aspecto explicando que são “duas coisas que nunca se encontraram”, Portinari é um nome intrinsecamente ligado ao movimento. “Ele é um dos pilares do Modernismo brasileiro, independente de ele ter estado ou não na Semana de 22”, esclarece o curador. Para ele, o que é importante mesmo, além da Semana, são os cem anos modernos que surgiram a partir dela. “Nesse aspecto, Portinari é um protagonista de primeiríssima grandeza. Villa-Lobos, Portinari e Niemeyer fizeram os eixos principais do Modernismo no Brasil.”

Com um leque tão grande de trabalhos, o tempo despendido para estudar tudo seria demasiadamente longo. Mas, graças ao filho de Portinari, João Candido, o desenvolvimento do projeto pôde ser realizado de forma mais tranquila.

“A obra dele foi profundamente documentada e estudada pelo Projeto Portinari, o que viabiliza conseguir fazer um projeto desses”, pois alguém ficou trabalhando em cima da sua obra, explica o curador. “Fez uma bela diferença o trabalho que o João Candido Portinari realizou desde 1979.”

A exposição

Responsável pela montagem da emblemática exposição dos painéis Guerra e Paz, que rodou o País, Marcello Dantas conta que esse projeto também será tema de um dos módulos da mostra do MIS Experience. “O público vai ver também todo o simbólico que ele trabalhou sobre a infância no Brasil, criando uma identidade que é linda, muito singular, com os balões, espantalhos, futebol, café, as brincadeiras de rua.” Por outro lado, acrescenta Dantas, será o momento de apreciar um aspecto que todos esquecem: o pintor sacro.

Um dos pontos de maior admiração do curador é o dos animais na obra de Portinari. Trata-se de um recorte pouco explorado na produção do artista. “Um dos momentos mais lindos da exposição é ver a forma como ele retratou a fauna.”

Há uma sala inteira dedicada ao seu pensamento, com uma sequência de experiências, e depoimentos animados de amigos, inclusive Maria, a mulher de Portinari, personagem importantíssima em sua vida. “A gente criou uma coisa muito engraçada”, diz o curador. “Nessa era de fake news, usando a tecnologia da deepfake, a gente criou as deep reals: você pega a voz do Drummond, por exemplo, e coloca no retrato que o Portinari fez sobre o poeta, que é uma verdade, une as duas coisas e anima.”

Interatividade

A exposição tem cunho interativo, onde o público poderá se sentir um verdadeiro artista. “Você poderá pegar um pincel e passá-lo sobre os painéis do Portinari e, ao fazer isso, aparecerá o que existe por trás de cada detalhe”, explica o curador. Assim, segue ele, “em cada um dos momentos, descobrem-se os personagens que estavam ali dentro, como Tiradentes, o carrasco, Marília de Dirceu, ou cada um dos inconfidentes, e outros momentos”.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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