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Uma santa entre nós

Os cristãos católicos estão em festa com a canonização da primeira santa nascida no Brasil. Para receber o título foi necessária a comprovação de dois milagres, após um processo longo e cuidadoso, mas mesmo antes de ganhar a devoção dos altares, Irmã Dulce já era reconhecida como santa e cha­mada de “O Anjo Bom da Bahia”.

Acostumados a cultuar personalidades que viveram em séculos e realidades distantes,os católicos experimentam agora a sensação de ver reconhecida a santidade de uma con­temporânea. Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes nasceu em 26 de maio de 1914 e faleceu em 13 de março de 1992. A capital Salvador foi seu universo, mas sua fama se espalhou por todo o mundo.

Milhares de pessoas que tiveram a oportunidade de conhecê-la dão testemunhos de sua vida irretocável e inspira­dora e da felicidade de ter uma santa entre nós. Neste período de intolerância suas palavras ecoam como um sinal de alerta: “Procuremos viver em união, em espírito de caridade, per­doando uns aos outros as nossas pequenas faltas e defeitos. É necessário saber desculpar para viver em paz e união”.

Tendo abraçado a vida religiosamuito nova, Dulce soube como poucos enxergar e viver as dimensões do amor ao pró­ximo. Aos 22 anos fundava, com Frei Hildebrando Kruthanp, a União Operária São Francisco, primeiro movimento cristão operário da Bahia. Já no ano seguinte, ambos criavam o Círculo Operário da Bahia com a visão de difundir o coope­rativismo, a promoção social e cultural e a defesa dos direitos. Em 1939 inaugurou o Colégio Santo Antônio voltado para os operários e seus filhos.

Um dos fatos mais conhecidos de sua missão foi a invasão de casas abandonadas para abrigar doentes recolhidos pelas ruas. Logo transformaria o galinheiro do convento em Alber­gue e posteriormente no Hospital Santo Antônio. Atualmente as Obras Sociais da Irmã Dulce estão entre as maiores insti­tuições filantrópicas do Brasil, com cerca de quatro milhões de atendimentos ambulatoriais por ano a usuários SUS.

Irmã Dulce tinha uma capacidade invejável de articulação com empresários e políticos e sua preocupação exclusiva com os assistidos, impedia que fosse rotulada pelos grupos rivais. Aliás, são suas duas frases célebres: “A minha política é a do amor ao próximo” e “Não entro na área política, não tenho tempo para me inteirar das implicações partidárias. Meu partido é a pobreza”.

Historicamente a pobreza foi utilizada por aqueles que buscam ascender politicamente e pelos que buscam pousar como filantropos com interesses pessoais. Em uma sociedade excludente e que amplia a desigualdade e a miséria, combater a pobreza sem qualquer tipo de interesse que não seja a pro­moção da justiça social é uma tarefa para poucos.

Certamente, mais do que ser cultuada através de uma foto, uma imagem ou escultura, Irmã Dulce dos Pobres deseja­ria que os fiéis praticassem o exercício do amor e do servir. Certa feita em uma entrevista ela declarou: “A religiosa por si mesma deve ser um exemplo. Não somos anjos nem santos, porém devemos fazer o máximo para que a nossa vida seja um exemplo”.

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