Aumentar as restrições de circulação de pessoas em Ribeirão Preto foi uma das mais difíceis decisões que tive de tomar desde que entrei na vida pública. Só a tomei em defesa da manutenção da vida e da saúde. Também porque o gestor tem o dever de decidir. Não cabe qualquer omissão, principalmente em um momento como o que estamos vivendo, em que nos resta dizer sim ou não à preservação de vidas preciosas para a humanidade. Estamos em um pré-colapso em nosso sistema de saúde. É preferível optar pelas restrições a empurrar a situação para uma decisão ainda mais difícil: escolher quem terá ou não acesso ao atendimento de saúde.
Quem acompanhou minimamente as notícias divulgadas pela imprensa e redes sociais sabe que a medida tomada nesta terça-feira, dia 16, era inadiável. Que não havia mais como permitir a livre circulação de pessoas, que também representa a circulação sistemática do vírus e o contágio constante pelo coronavírus, com aumento inevitável do número de casos de covid e a consequente ampliação de internações para casos moderados ou graves da doença. Não era mais possível continuar a estrangular os sistemas de saúde e a sacrificar ao extremo os profissionais de saúde que já estão há muito tempo com trabalho em excesso.
Com muito esforço, chegamos ontem, quarta-feira, 17, a 248 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) apenas para tratamento de covid-19. É o maior número desde o início da pandemia, em março do ano passado. Em julho de 2020 o número chegou a 240 leitos, foi quando tivemos o pico de 192 internados em UTI, percentual de 80% de ocupação. E agora chegamos a 248, mas com 232 pessoas internadas, um percentual de 93,55% de ocupação. Em um mês, passamos de 154 internados para 232, aumento de 51,65%.
Os números apontam que, se nada fizermos, quanto mais leitos abrimos, mais ocorre ocupação. E precisamos respeitar os nossos limites. Não há possibilidade de aumentar infinitamente os leitos para atendimento da população. A outra (e melhor) alternativa é diminuir a transmissão, com a redução da circulação de pessoas. Os números estão divulgados, para quem quiser ver e entender que são muitas as vidas em risco. E contra números, os argumentos ficam frágeis, perecem. Diante dos riscos à saúde e à vida, tornou-se imperioso modificar a situação.
Entendo que tomamos medidas drásticas. Que o remédio é amargo. Mas não vejo nenhuma possibilidade de agir de forma diferente. Chegamos a um volume de ocupação de leitos extremamente perigoso. A ponto de corrermos o risco de não conseguir atender nem mesmo no sistema privado de saúde. E desde o início da pandemia eu assumi o compromisso de primeiro defender a saúde, a vida. Porque a vida é irrecuperável. Tudo o mais, com vida e saúde, é possível recuperar.
Entendo que as restrições vão implicar em dificuldades para grande parte da população. Haverá redução de emprego e renda. Será, no entanto, uma situação temporária, com possibilidade de melhoria após a passagem pelo período mais crítico. Porque a produção sempre será necessária à sobrevivência das pessoas. Assim como a comercialização de produtos e a prestação de serviços. E sei que vamos vencer esta etapa com a união de todos.
No último ano, principalmente em função da pandemia, tive que tomar decisões difíceis. E o aumento das restrições foi a principal delas. Com acertos e, possivelmente, erros. Mas sempre decidi. E se errei foi com a intenção de acertar e preservar a saúde da população. E seguirei sempre com este propósito, mesmo sob o risco da incompreensão e das críticas que sempre existirão. Pelo bem maior, que é a vida de qualquer pessoa.