Edwaldo Arantes *
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Desde criança aprendemos que o azul é a cor preferida, os motivos são diversos: os tons do Firmamento, o Manto Celestial, o “Céu de Brigadeiro”, Sangue Azul, a amplidão do Universo e expressões que a idolatram, o azul do mar é um reflexo do céu, embora, em dias nublados, as tonalidades turquesas continuam presentes.
Eu que não sou cientista, apenas um curioso leigo, busquei abrigo na ciência:
“O mar aparece azul porque a água absorve as cores vermelho, laranja e amarelo (comprimentos de onda longos) deixando visíveis os azuis (comprimentos de onda curtos). Mesmo assim, a maioria dos mares e oceanos são negros . O mar é azul porque ele funciona com um filtro da luz solar”.
Yuri Gagarin, cosmonauta soviético, o primeiro ser humano a viajar pela Órbita da Terra, em um instante de arrebatamento e surpresa, exclamou na sua total solidão! “A terra é azul!”
Abandonando o preâmbulo, esqueço o azul e revelo minha cor predileta, VERDE.
A cor foi agraciada com muitos significados: esperança, liberdade, saúde, vitalidade, natureza, juventude, frescor e equilíbrio.
Quando viajamos, olhos fixos nas paisagens, assistimos maravilhados, a diversidade e as inúmeras alterações de tonalidades do mundo verdejante.
Os olhos percebem o verde surgindo, campos, árvores, relva, galhos, plantas, folhas, desfilando em múltiplas alterações que o olhar acompanha parcialmente, pois as mudanças são múltiplas.
Desfilam: verde musgo, verde água, verde menta, verde esmeralda, verde quartzo, verde oliva e todas as combinações em uma equação infinita.
Minha paixão pela cor está intimamente ligada a um olhar feminino, privilegiado por recebê-la, desenhando dois lumes translúcidos, deslumbrantes e enigmáticos.
Este olhar raro me fez novamente buscar a sabedoria da cátedra:
“Pouquíssimas pessoas no mundo possuem olhos verdes, os escolhidos e ungidos pelos Deuses. São os mais raros, apenas 2% da população mundial, recebem a dádiva desta coloração”.
O verde é a cor da esperança, os olhos verdes adquirem um magnetismo único, não só pela sua raridade, mas pelas nuances que apresentam de uma pessoa para outra, gerando uma aura de desejo e mistério.
Além de raros e enigmáticos, exercem um forte poder de atração, uma singularidade de perfeição geométrica e o charme que atinge como uma flecha certeira, atirada pelo mais competente arqueiro, o alvo localizado ao lado esquerdo do peito, que é vermelho e bate descompassado.
Bem, voltemos aos meus tenros anos, que o poeta tão bem definiu como: “aurora da minha vida”, pois um par deles, marcou definitivamente a infância e adolescência, sendo o meu primeiro alumbramento.
Fui atingido pelo raio esverdeado, que guardo até hoje como uma das mais lindas visões projetadas nas lembranças da minha vida.
Nunca tive a chance ou a felicidade de sequer trocar uma palavra com a dona da cor, apenas a observava ao longe, muitas vezes, chegava a trocar de calçada para vislumbrar, um pouco mais perto.
Quase sempre na “Missa das Nove”, quando prestava mais atenção a ela do que nos procedimentos sacerdotais, inclusive a homilia.
Na praça com as amigas, nos carnavais, bailes eternos ou jogando vôlei.
Seguindo o destino traçado, deixei minhas terras mineiras, virei adulto, homem feito e anos depois alcancei a maturidade da idade avançada.
Passei longos anos conhecendo e visitando olhos; cinzas, castanhos, avelãs, âmbares, azuis celestiais ou negros como as noites sem luar.
Mesmo com o peso dos anos e os caminhos cada vez mais estreitos, nunca os esqueci, fecho os olhos e penso neles, também os vislumbro em meus sonhos, antigamente multicores, hoje, quase sem tons, apenas os devaneios das noites negras da existência.
Johann Goethe pronunciou-se:
“Todas as especulações são pardas, certamente, mas eternamente verde é a árvore de ouro da vida”.
* Agente cultural