Rui Flávio Chúfalo Guião *
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Do observatório privilegiado, no promontório do Condomínio, vejo a noite ribeirão-pretana se encher de fogos de artifícios: são explosões de verde, vermelho e branco, cascatas, linhas pontilhadas coloridas, enfim uma pintura rápida e efêmera no fundo negro, em comemoração ao novo ano, que marca o início do fim do primeiro quarto do século XXI.
Seguem-se os beijos e abraços, os cumprimentos, a taça de champagne, o punhado de castanhas portuguesas, numa alegria que contagia a todos.
Como o tempo passa rápido!
Peguei-me pensando nisso, quando relembrei que há meros 24 anos estávamos todos na véspera do Reveillon pensando no perigo do bug do milênio, quando temíamos que a passagem de 1999 para o ano 2000 desencadearia um transtorno notável nos nossos computadores, incapazes de lidar com a grande mudança.
Grandes corporações, forças armadas, bancos, governos e mesmo empresas médias como a nossa convocaram plantão de suas equipes de Tecnologia da Informação para tentar fazer o possível para consertar o estrago mundial que, talvez viria.
A mudança do ano chegou, nada aconteceu e milhões respiraram aliviados, pois a sucessão foi percebida como normal pelas nossas máquinas e sistemas.
E isto ocorreu há 24 anos, embora pareça que foi ontem.
É curioso como enfrentamos o passar do tempo. Parece que, à medida que envelhecemos, ele corre mais apressado, talvez porque não haja mais grandes novidades, pois a vida já nos mostrou muitas coisas. Para os bem jovens, o tempo passa mais devagar, porque tudo é novidade, são novas experiências, novas vivências, um descobrir de um mundo novo e desafiador.
Entretanto, ele passa na mesma velocidade, o que prevalece é nossa percepção dessa velocidade. Também é curioso pensar que o tempo corre sempre para frente: o que estamos vivenciando neste momento logo será passado.
As horas do dia avançam inexoravelmente, desde o nascer do sol até seu ocaso, na linha do horizonte. Nossa existência vai sendo vencida pelos anos acumulados. As pequenas árvores se tornam gigantes, os recém nascidos vão crescendo e se tornam adultos, nós envelhecemos, sempre num processo de ir adiante, sem retrocesso.
Parece ser um mistério não podermos rebobinar a nossa vida.
Podemos viver somente o presente. O passado passou, o futuro é incerto, o tempo cobra um desgaste natural de todos que vivem na Terra.
Pergunto-me se nossos sonhos envelhecem.
Acho que o sapiens, em seu trajeto, conseguiu estabelecer algumas salvaguardas, entre elas, a esperança. Se tudo corre para frente, se a cada momento vamos encurtando nossa vida, precisamos de algo que nos conduza e nos motive.
São nossos sonhos, as metas que justificam nossa existência, a razão de lutarmos para atingi-las.
Nosso grupo empresarial comemorou 121 anos de existência em outubro passado. Ele exibe um conjunto espetacular de realizações, aceitando desafios e enfrentado dificuldades que existem numa trajetória tão grande. Entretanto, nosso orgulho pelo que conseguimos fazer até agora não ofusca nossa certeza de que precisamos olhar para o presente, preparando-nos para o futuro.
Assim devem ser as empresas, devemos ser nós. Afinal, como diz a parábola, o bom semeador não é aquele que ao fim do dia olha para trás, a fim de ver o campo semeado, mas sim aquele que olha para o que resta semear no dia seguinte.
* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e Secretário-Geral da Academia Ribeirãopretana de Letras