José Antônio Lages *
No evento do 1º de maio, em Itaquera, o presidente Lula afirmou: “Voltei para provar às elites que o metalúrgico vai consertar os estragos que eles fizeram”. Mas o que são as elites? A teoria das elites é uma teoria sociológica que se concentra nas relações de poder e influência entre grupos sociais. Segundo esta teoria, as elites são grupos de indivíduos ou organizações que detêm o poder econômico e político de uma sociedade e exercem uma influência significativa sobre a tomada de decisão e a direção da sociedade. Essa teoria tem como uma das suas grandes referências o sociólogo alemão Max Weber.
Lula foi direito ao ponto. Ele colocou o dedo na ferida que as elites brasileiras impuseram ao país, a partir do golpe contra a presidente Dilma. Elas rasgaram a Constituição de 1988, decretaram o fim da Nova República e dos seus partidos tradicionais, impuseram duríssimas reformas contra a classe trabalhadora. E por fim? Abriram as portas do Brasil para o fascismo. Essas elites devem ser, sim, responsabilizadas por todos os ataques praticados contra o Estado Democrático de Direito e contra os trabalhadores. Sem falar nas mais de 600 mil mortes da pandemia, verdadeiro genocídio que só vereadores de Ribeirão Preto parece que não viram.
Essas elites saíram, agora, com uma verdadeira pérola: “precisamos de um bolsonarismo moderado”. Hilário! Já querem repaginar a destruição que promoveram. Antes de mais nada, todos aqueles que tentaram o golpe de Estado têm que ser responsabilizados, para que nunca mais repitam os erros que cometeram contra a democracia. Não só os que estavam em Brasília. Os que estavam aqui também, na porta da 5ª CSM gritando por golpe de Estado. Quem os organizou? Quem os financiou? Depois, não existe fascismo “light” ou “moderado”. Fascistas são fascistas e promovem atos bárbaros contra os avanços da civilização. Por isso não podem ser tolerados ou anistiados.
As elites brasileiras sempre se colocaram contra qualquer projeto de construção de uma nação brasileira soberana e desenvolvida. Estas forjaram um patrimonialismo nocivo ao povo e permitiram os saques colonialistas promovidos contra as riquezas do país. O venerável Leonel Brizola tem discursos brilhantes contra essa verdadeira sangria. Ele também punha o dedo na ferida. Darcy Ribeiro responderia hoje, com todas as letras, à política de destruição da educação pública paulista promovida por Tarcísio e Feder: “a crise na educação não é uma crise, é um projeto”. E isso tudo de comum acordo com as elites.
Os juristas Vitor Nunes Leal e Raymundo Faoro foram os primeiros intérpretes do patrimonialismo brasileiro. Ambos lançaram as primeiras luzes sobre o funcionamento e a organização do poder no Brasil, mostrando que este sempre foi exercido por uma elite sem nenhum compromisso com o desenvolvimento da nação. Verdadeiros sanguessugas. Independentemente das diversas críticas a essas duas interpretações, como as de Jessé de Souza, pode-se afirmar que o pensamento dos dois juristas continua atual no Brasil de hoje. Nossa história recente demonstrou até onde vai o apetite voraz desses verdadeiros abutres.
Com efeito, de 2016 a 2022, os trabalhadores brasileiros foram castigados pelos governos neoliberais com a retirada de direitos fundamentais, decorrentes do corte dos investimentos em saúde, educação, direitos trabalhistas e previdenciários. Empresários nacionais também tiveram que fechar lojas, empresas e estabelecimentos diversos. As elites brasileiras não possuem a capacidade de compreender que o projeto político e econômico que lançaram contra o país a partir de 2013 retirou de si mesma a capacidade de comando político, construída ao longo de séculos, como observado por Nunes Leal e Faoro.
Assim, por culpa exclusiva de suas elites suicidas, ao Brasil e ao povo brasileiro está sendo importa a mais dura subserviência colonial. Porém, como disse o Presidente Lula, no Primeiro de maio, sua volta ao governo é a tentativa de tornar o Brasil um país soberano, desenvolvido, onde a riqueza seja utilizada para o bem-estar e a prosperidade de todos os brasileiros. Em outras palavras, aquilo que as elites brasileiras jamais foram capazes de fazer, um metalúrgico retirante nordestino se apresenta para realizar. É urgente barrarmos este projeto de destruição perpetrado pelas elites!
* Consultor técnico-legislativo e ex-vereador em Ribeirão Preto (Legislatura 2001-2004)