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Um presidente isolado e avesso ao diálogo

O presidente Jair Bolsonaro se isolou ainda mais na crise do coronavírus. Desde que a calamidade pública começou a assombrar o dia a dia da população, ele deu mais poder ao “gabinete do ódio”, núcleo ideológico que o incentiva a adotar um es­tilo mais beligerante, atacou governadores e a imprensa e desautorizou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Diante da pandemia, nem cogitou a possibilidade de convocar o Conselho da República. Em conversas reservadas, chegou a dizer que não vai ficar “refém” de conselhos existentes no governo. Uma foto que circula nas redes sociais sob o título “Modelo de Comunicação Institucional” mostra Bolsonaro de bermuda nos jardins do Palácio da Alvorada, em posição de “pronunciamento”.

Está na frente dos três filhos parlamentares. Sem camisa, o vereador Carlos Bol­sonaro (PSC), uma espécie de gerente do “gabinete do ódio”, e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), também de bermuda, gravam o pai pelo celular. Com as mãos no bolso, o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), filho “zero um”, acompanha a cena, mas não participa da filmagem. Na prática, o núcleo que ficou conhecido como “gabinete do ódio” virou o Conselho da República de Bolsonaro. O bunker ideológico, que já deixou digitais na queda de popularidade do presidente, é com­posto por seguidores do escritor Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo, e vive em confronto com generais do governo. São defensores da pauta de costumes e de uma estratégia de guerra.

Integrantes desse grupo trabalham no terceiro andar do Planalto, a poucos metros de Bolsonaro. Produzem “artilharia pesada” para mídias digitais, além de conteúdos para pronunciamentos do presidente, como o da noite de terça-feira (24), quando ele criticou o fechamento de escolas para combater a pandemia e o confi­namento em massa. Seus alvos preferenciais são o Congresso, o Supremo Tribunal Federal (STF), governadores e a imprensa. Enquanto isso, o Conselho da República, previsto na Constituição, continua esquecido. O colegiado de consulta do presidente já foi acionado por outros chefes do Executivo em situações de crise. O então presi­dente Michel Temer convocou o Conselho da República, em 2018.

Pediu conselhos sobre a intervenção federal na segurança pública do Rio de Ja­neiro. As atribuições desse núcleo de assessoramento do chefe do Executivo incluem manifestações sobre casos de intervenção federal, estado de defesa e de sítio e temas considerados relevantes para a estabilidade das instituições democráticas. Com­põem o colegiado o vice-presidente da República, os presidentes da Câmara e do Senado, os líderes da Maioria e da Minoria das duas Casas e o ministro da Justiça. Além disso, pela lei, seis brasileiros natos, com mais de 35 anos, devem fazer parte do Conselho da República. Bolsonaro, no entanto, nunca gostou desses grupos de aconselhamento do governo.

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