Fabiano Ribeiro
Um sebo musical, mas também pode ser considerado um pequeno museu da música ou no mínimo um ponto de encontro para os nostálgicos. Estamos falando da The Pelvis Discos, uma loja no Centro de Ribeirão Preto, que muitas vezes não chama a atenção da maioria das pessoas que passa pela rua Duque de Caxias, por conta da fachada simples e humilde.
Há um público fiel e constante, os amantes do vinil, de raridades. Mas quem entra pela primeira vez e que viveu o auge dos discos, se impressiona e pode ter lembranças de várias épocas. Os vinis são a maioria, mas há CDs, DVDs e fitas K7. O local tem decoração com pôsteres e cartazes de discos, filmes e artistas dos Anos 90, 80, 70 e até anteriores. Uma viagem no tempo. Impossível ficar apenas alguns minutinhos. Garimpar esses produtos é quase que obrigatório.
Um dos diferenciais da loja é o proprietário, o ex-bancário Antônio Fernandes Batista, de 68 anos. Falar esse nome em Ribeirão Preto é sinal de anonimato, mas se o chamarem de Tony Elvis, a história muda.
Tony Elvis é um dos personagens na história recente do Centro de Ribeirão Preto. Um pouco pela humildade, pelo seu carisma e talvez muito pelo seu conhecimento musical e amor ao Rei do Rock, Elvis Presley. Daí surgiu o apelido.
“Você veio aqui para falar sobre o Elvis? Hoje (8 de janeiro, dia da entrevista) ele completaria 85 anos”. Explico que foi uma feliz coincidência. Tony conta a sua história, que praticamente é relacionada ao amor pela música. Conhece muito de artistas e músicas.
“Desde pequeno gostava de música, de ver os artistas que se apresentavam em circo, de ouvir rádio. Nasceu comigo”.
A paixão pelos discos foi consequência. “Eu trabalhei 17 anos no Itaú (banco) e quando tinha que ir para São Paulo, eu deixava de comer para comprar discos. Os amigos esperavam e eu sempre trazia algo. Sempre colecionei também”.
A ideia de montar o sebo surgiu com a saída do banco. “Um amigo que já morreu, o Cesar Henrique Tomazini, me ajudou muito. Ele me incentivou em tudo. Disse que eu gostava e conhecia música, que deveria montar o sebo. Eu topei na hora. Depois ajudou com o nome, eu pensava em nomes que lembrassem a Jovem Guarda, como splish splash, mas ele me orientou a usar meu nome, que já era conhecido. Mais uma vez ele estava certo”, relembra.
O sebo foi montado em 1996, na rua Barão do Amazonas. Hoje o estabelecimento ainda vende roupas e artigos voltados ao rock, mas é administrado por um dos filhos. Posteriormente, em 2004, mudou-se para a Duque de Caxias.
A loja praticamente nunca está vazia. Amigos dele aparecem para conversar, tomar café. “Fiz até um balcão para recebê-los. Aqui o tempo passa rápido”, diz.
Tony conta que sempre tem novidades e raridades. “A gente compra os discos em lotes e sempre aparecem coisas diferentes”. Ele fala que só se arrepende de uma venda. Um disco do Elvis, de 1956. “Esse eu me arrependo mesmo, mas o cara fez uma oferta irrecusável. Mas se pudesse voltar ao tempo, não venderia”, ri.
Elvis, Beatles, Iron Maiden, Rolling Stones e discos sertanejos, os chamados raiz, são os que mais vendem. “Mas temos discos de muita gente. É só olhar”.
No tempo em que ficamos conversando e garimpando discos, muitos clientes apareceram e colocaram os LPs em uma vitrola. Um atrativo para quem sente saudades dos ruídos, do pegar o braço da agulha e colocar na faixa desejada, de trocar o lado A pelo B.
Além dele, o irmão Luiz e o filho Daniel Elvis (nome em homenagem a Elvis Presley), o ajudam na loja, orientado e conversando com os clientes. “Aqui é assim o dia inteiro. Eu não me vejo fazendo outra coisa. Fico feliz quando abro a loja e vou ficando triste quando tenho que fechar. Meu mundo é aqui”, finaliza.