Nos países com um alto IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), a convivência entre seus cidadãos é pacifica e todos pensam no bem comum. Mas isso não caiu do céu, essa construção é oriunda de uma opção de nação que elegeu a educação básica, de qualidade e para todos, como sua principal bandeira, e com isso criaram mais igualdade e altos índices de desenvolvimento humano. Enquanto isso, no Brasil, aquela ideia que nunca se materializou de uma educação básica de qualidade e para todos vai ficando pelo caminho, esmagada pelo tradicionalismo e o preconceito que volta com força total.
A situação de trevas que vivemos atualmente em nosso País é fruto de uma educação confinadora, seletiva, preconceituosa e desigual, que privilegia os conteúdos técnicos em detrimento de uma educação que forme para a cidadania – e cidadania é civilidade. Os maiores teóricos do mundo em educação básica são brasileiros, mas são renegados em seu próprio País – vejo gente sem o mínimo de conhecimento falando em expulsar Paulo Freire das escolas. Acontece que ele nunca entrou na maioria delas, pois se tivesse entrando, seriamos uma nação.
Estudos recentes mostram a importância do bom atendimento na primeira infância (0 a 6 a anos de idade), que é a fase mais importante do desenvolvimento humano, e neste contexto a educação infantil, principalmente as creches, se tornam fundamentais e imprescindíveis para que as crianças se desenvolvam; é preciso um atendimento holístico, que abarque todas as suas necessidades físicas, lúdicas e cognitivas, que vão contribuir para a formação de um ser humano melhor e cônscio de suas responsabilidades e direitos, independente de sua classe social. Mas nas terras tupiniquins, por conta dessa politicanalha envolvendo a educação básica, ainda navegamos em águas poluídas.
Os estudos também mostram que há grandes prejuízos para as crianças que frequentam creches fora dos padrões de qualidade exigidos. O cuidado holístico da primeira infância nunca foi prioridade nos governos brasileiros, mesmo tendo o Estatuto da Infância e Adolescência em vigor desde 1990, nossas crianças ainda sofrem com o descaso e o abandono. As vagas no sistema público são sempre insuficientes, e a qualidade também deixa a desejar. O sistema de confinamento de crianças atinge tanto públicas, quanto privadas, e isso é um problema para o aprendizado e as relações humanas.
Como na maioria dos municípios brasileiros, Ribeirão Preto também não planejou o atendimento nas creches adequadamente. Até 1998 as creches eram responsabilidade da Secretaria do Bem Estar Social, e funcionava em prédios sem estruturas adequadas para esse atendimento – eram verdadeiros depósitos de crianças, com pessoas despreparadas para atender dignamente; o pedagógico, não existia. Com a transferência para a Secretaria da Educação esperava-se uma adequação dos prédios de acordo com as leis que regem a educação brasileira, mas isso não aconteceu.
Crianças que frequentam creches que tenham um ambiente harmônico, holístico, que cuide de todas as suas necessidades física, lúdicas e cognitivas, se desenvolvem melhor, e não encontram dificuldades na sua vida escolar e acadêmica, mas estamos longe desse modelo. Temos creches num ambiente totalmente insalubre atendendo normalmente nossas crianças, o sistema de confinamento continua a todo o vapor, e os entendidos esperam resultados diferentes. Como disse Albert Einstein: “Insanidade é fazer sempre a mesma coisa, e esperar um resultado diferente”. Um pouco de luz, por favor!