O prenome do autor é difícil de se pronunciar, mas seu livro é delicioso. Acabo de ler “Um Bárbaro no Jardim”, de autoria de Zbigniew Herbert, poeta e ensaísta polonês e grande conhecedor da arte pré-renascença e renascentista, que viveu entre 1924 e 1998, engrandecendo as letras de seu país. Em 1962, lançou, a obra que coroou sua carreira de escritor e que acaba de ser traduzida no Brasil. É um livro de viagens, onde o escritor descreve várias atrações turísticas, vestindo-as com seu vasto conhecimento de história, recriando todo o passado que se contém nelas.
O autor adverte de que não é historiador, mas um contador de histórias. E as conta de maneira fascinante. Somente lendo o livro se poderá usufruir da magia da narrativa. Os temas me são familiares, pois já visitei ou conheço a maioria das atrações e fatos descritos, mas, agora os vejo muito mais engrandecidos. Embora eu pesquise sempre antes da visita ou leitura (o melhor da festa é esperar por ela…), Herbert me permitiu um refinamento e uma nova dimensão para fatos históricos narrados.
Qualquer que seja o capítulo escolhido, o tema encanta pela descrição das obras de arte da cidade, monumentos ou igrejas e pelo posicionamento original da história que reveste a curiosidade.
Pinço a parte dedicada a Siena, cidade que muito me impressiona a cada vez que a visito. Duas são, na minha opinião, os destaques da cidade toscana: Il Campo, a praça central, uma concha em seu lado convexo, depositada do alto para baixo, onde se encontra o palácio comunal, ao lado de belas casas antigas e onde se realiza o bianual Palio de Siena, peleja entre os seus bairros, com cavaleiros buscando a vitória que lhes permitirá levar para casa o famoso estandarte.
Herbert nos conta sobre a grandeza, declínio, ressurgir da cidade, sempre pressionada pela gigantesca Florença.
A outra atração é sua catedral de arquitetura românica-gótica, cuja fachada, no entender do autor, é uma ou a mais bonita da Europa (opinião que eu modestamente partilho).
Iniciada no século XIII, seu piso é um tesouro oculto a maior parte do ano, construído durante cinco séculos, com ladrilhos que compõem 56 painéis. Durante onze meses do ano, estes painéis são protegidos por madeiras que não permitem ao público vislumbrar a maravilha.
Na minha última visita, era outubro, tive duas surpresas: o piso estava descoberto, permitindo que se caminhasse em passarelas de madeira e se visse a belíssima obra de arte. Durante a longa permanência, observei um senhor bem idoso, ajoelhado num canto, fazendo a restauração de um pedaço do piso. Ajoelhei-me a seu lado, puxei conversa e fiquei sabendo que ele trabalha para a catedral há mais de 50 anos e que levaria de três a quatro dias para recuperar o pequeno quadro de 10 x 10. Percebi como ele sentia orgulho de preservar obra tão importante.
Na última noite que passei em Siena, uma lua cheia surgiu por detrás da torre do palácio da comuna (seria a mesma que também encantou o poeta?) e seguiu-se um silêncio entre as centenas de turistas que ali estávamos observando o disco amarelo que se destacava no céu escuro.
É pena que o espaço não me permita discorrer sobre os outros temas do livro, obra que nos permite vislumbrar os sonhos, as vitórias e derrotas que se ocultam nos monumentos e temas visitados e que representam a vitória do homem na construção de monumentos imorredoures. Recomendo fortemente a leitura do livro.