Tribuna Ribeirão
Cultura

Um poema para Deborah Colker

A Cia. Deborah Colker vai voltar a Ribeirão Preto no Dia dos Namorados. Em 12 de junho, a premiada coreógrafa e sua trupe de bailarinos estarão no Theatro Pedro II com o espetáculo “Cão sem plumas, baseado no poema homônimo de João Cabral de Melo Neto (1920-1999) e que estreou em junho do ano passado, em Recife (PE). Esta é sua primeira produção com temática explicitamente brasileira.  
 
A apresentação de “Cão sem plumas” será às 20 horas de 12 de junho, terça-feira, no Theatro Pedro II. Os ingressos custam R$ 120 (plateia e frisa), R$ 100 (balcão nobre), R$ 80 (balcão simples) e R$ 70 (galeria). A meia-entrada só vale para estudantes com carteirinha da instituição de ensino, professores da rede pública (municipal e estadual) com apresentação de holerite ou documentação e aposentados e idosos acima de 60 anos com documento comprobatório (cédula de identidade, RG).  
 
Essas pessoas têm 50% de desconto e vão pagar R$ 60, R$ 50, R$ 40 e R$ 35, respectivamente. Crianças de até dois anos não pagam. Os ingressos estão à venda na bilheteria do teatro e no site especializado Ingresso Rápido (www.ingressorapido.com.br). Não será permitida a entrada após o início do espetáculo. Quem tem o Cartão Petrobras e Força de Trabalho também paga meia. 
 
Quem chegar atrasado também não poderá trocar o ingresso e não haverá devolução de dinheiro. A Fundação Pedro II também proíbe o consumo de comidas e bebidas no local. O teatro fica na rua Álvares Cabral nº 370, no Quarteirão Paulista, Centro Histórico de Ribeirão Preto. O local tem capacidade para 1.588 pessoas, mas parte foi interditada por segurança. Atualmente conta com 1,3 mil lugaresTelefone par
a mais informações: (16) 3977-8111. 
O espetáculo não é recomendado para menores de 12 anos devido ao horário.  
 
Publicado em 1950, o poema acompanha o percurso do rio Capibaribe, que corta boa parte do estado de Pernambuco. Mostra a pobreza da população ribeirinha, o descaso das elites, a vida no mangue, de “força invencível e anônima”. A imagem do “cão sem plumas” serve para o rio e para as pessoas que vivem no seu entorno.  
 
“O espetáculo é sobre coisas inconcebíveis, que não deveriam ser permitidas. É contra a ignorância humana. Destruir a natureza, as crianças, o que é cheio de vida”, diz Deborah Colker, que assina a criação, coreografia e a direção. A dança se mistura com o cinema. Cenas de um filme realizado pela coreógrafa e pelo pernambucano Cláudio Assis – diretor de longas-metragens como Amarelo mangaFebre do rato e Big Jato – são projetadas no fundo do palco e dialogam com os corpos dos 13 bailarinos.  
 
As imagens foram registradas em novembro de 2016, quando coreógrafa, cineasta e toda a companhia viajaram durante 24 dias do limite entre sertão e agreste até Recife. A jornada também foi documentada pelo fotógrafo Cafi, nascido em Pernambuco. Na trilha sonora original estão mais dois pernambucanos: Jorge  Peixe, da banda Nação Zumbi e um dos expoentes do movimento mangue beat, e Lirinha (cantor do Cordel do Fogo Encantado, poeta e ator), além do carioca Berna Ceppas, que acompanha Deborah desde o trabalho de estreiaVulcão (1994).  
 
Outros antigos parceiros estão em cenografia e direção de arte (Gringo Cardia) e na iluminação (Jorginho de Carvalho). Os figurinos são de Claudia Kopke. A direção executiva é de João Elias, fundador da companhia. Os bailarinos se cobrem de lama, alusão às paisagens que o poema descreve, e seus passos evocam os caranguejos. O animal que vive no mangue está nas ideias do geógrafo Josué de Castro (1908-1973), autor de Geografia da fome e Homens e caranguejos, e do cantor e compositor Chico Science (1966-1997), principal nome do mangue beat. O movimento mesclava regional e universal, tradição e tecnologia. Como Deborah faz. 
 
Para construir um bicho-homem, conceito que é base de toda a coreografia, a artista não se baseou apenas em manifestações que são fortes em Pernambuco, como maracatu e coco. Também se valeu de samba, jongo, kuduro e outras danças populares. “Minha história é uma história de misturas”, afirma ela.  
 
Tendo a Petrobras como mantenedora desde 1995, seu grupo se firmou como fenômeno pop em Velox (1995), Rota (1997) e Casa (1999). Os espetáculos  (2005), Cruel (2008), Tatyana (2011) e Belle (2014) trataram de temas existenciais, como os afetos, e a maioria passou pelo Theatro Pedro II. Em Cão sem plumas, Deborah Colker reúne aspectos de toda a sua carreira. “Cabem a elegância do clássico, a lama das raízes e o olhar contemporâneo. O nome disso é João Cabral”, diz ela. 
 
Reconhecida internacionalmente, Deborah Colker recebeu em 2001 o Laurence Olivier Award na categoria Oustanding Achievement in Dance (realização mais notável em dança no mundo). Em 2009, criou um espetáculo para o Cirque de SoleilOvo. Em 2016, foi a diretora de movimento da cerimônia de abertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro 
 
João Cabral vivia em Barcelona, como diplomata, quando leu numa revista que a expectativa de vida no Recife era menor do que na Índia. A notícia foi o impulso para fazer O cão sem plumas. Publicou em 1953 O rio ou relação da viagem que faz o Capibaribe de sua nascente à cidade do Recife e, três anos depois, sua obra mais conhecida, Morte e vida Severina”. Sua poesia, das mais importantes do Brasil, é marcada pelo rigor e pela rejeição a sentimentalismos.

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