Tribuna Ribeirão
Esportes

Um bom negócio, mas pode melhorar

As finanças dos quatro times de São Paulo que disputam o Campeonato Brasileiro, de ma­neira geral, continuam a crescer. A crise econômica enfrentada pelo País não impactou muito no caixa de Corinthians, Pal­meiras, São Paulo e Santos. Mas se quiser pensar grande e vis­lumbrar um dia concorrer com o mercado europeu, por exem­plo, os clubes terão de mudar a forma como veem o futebol.

As conclusões são a partir de estudo produzido com exclu­sividade para o Estado da con­sultora EY, que presta serviços no futebol para grandes equipes da Europa como Real Madrid e Barcelona, da Espanha, e tem como clientes 12 dos 20 times do Brasileirão. A empresa anali­sou as finanças da última década de Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos.

Ao olhar para os números divulgados de maneira macro, os quatro grandes faturam cada vez mais, ano após ano. O salto total das receitas foi de R$ 549 milhões em 2009 para R$ 1,76 bilhão na última temporada, aumento de quase 70% em 10 anos. O impacto positivo é cau­sado especialmente pelas cotas de TV, aliás, uma briga antiga em relação aos valores pagos para Corinthians e Palmeiras. A cada renegociação de contrato (as duas mais recentes aconte­ceram em 2012 e em 2016, por exemplo) é possível ver o gráfico das quatro equipes aumentar. O Corinthians lidera com arreca­dação de R$ 1,2 bilhão.

“O Corinthians e o Santos deram um bom salto na últi­ma década e que de certa for­ma estimulou o Palmeiras a abrir negociação para discutir o assunto com a Globo”, disse Pedro Daniel, líder de esportes da EY. Nesse quesito, o Palmei­ras ocupa a terceira colocação, com arrecadação de R$ 850 milhões de 2009 a 2018.

O Palmeiras, em compen­sação, é o clube que apresenta maior equilíbrio das receitas e é disparado o que mais faturou no último ano: R$ 653 milhões contra R$ 469 milhões do Co­rinthians, o segundo colocado. “É um clube que diversificou as formas de faturamento e pro­porciona vantagens, como não ficar dependente de uma única fonte de receita. Com isso, au­menta a barganha de negocia­ção”, afirmou Pedro Daniel.

Isso ficou claro neste ano na renegociação dos direitos de televisão com a Globo. O Pal­meiras não chegou ainda a um acordo para a transmissão de seus jogos na TV aberta. O clu­be alviverde quer ganhar com transmissão o mesmo que Co­rinthians e Flamengo, os dois mais bem pagos. No ano passa­do, o time do presidente Andrés Sanchez faturou R$ 197 milhões contra R$ 135 milhões do rival do Allianz Parque.

O Santos é a equipe que tem menor poder para nego­ciar, pois depende claramente do dinheiro dos direitos te­levisivos, conforme aponta o estudo. O clube também não fatura tanto com transferências quanto a fama que carrega com seus “Meninos da Vila”. O San­tos anda na rabeira em relação aos outros três na maioria dos quesitos analisados. Se quiser enxergar, no entanto, de outra forma, é um dos times que têm maior potencial para crescer.

Quem ganhou mais nesses últimos dez anos com transfe­rência de jogadores foi o São Paulo: R$ 867 milhões diante de R$ 398 milhões do Santos. Se­gundo Pedro Daniel, a diretoria do Morumbi conseguiu fazer com que o mercado assimilas­se o rótulo de clube revelador e pagasse mais pelas promessas da base de Cotia, enquanto que o Santos é visto como equipe que revela de maneira extraordiná­ria. Basta olhar para Robinho, Neymar e Rodrygo, já vendido ao Real Madrid.

Dívidas
A evolução do faturamento dos clubes de São Paulo, com sua maior capacidade de gerar receita, também gera, por conse­quência, maior endividamento. Por isso a dívida desses times saltaram de R$ 465 milhões em 2009 para R$ 1,6 bilhão em 2018. Mas esse número não é preocu­pante, de acordo com a EY, por­que os times, cada vez mais, têm conseguido honrar com seus compromissos. É o que mostra o levantamento dos empréstimos feitos nas últimas temporadas. Desde 2015, os clubes têm recor­rido menos a pedir dinheiro no mercado. São Paulo e Palmeiras chegaram a se endividar muito entre 2014 e 2015, cerca de R$ 150 milhões cada um somente em empréstimo. No ano passa­do, o time de Maurício Galiotte registrou empréstimo de R$ 142 milhões via patrocinadora Crefi­sa (dinheiro usado para comprar alguns jogadores). E o São Paulo, R$ 86 milhões.

Um ponto preocupante no levantamento da EY, de acordo com Daniel, está nos patro­cínios. “O faturamento com publicidade caiu em 2018 de­pois de anos de crescimento. Deu uma boa recuada. É uma sinalização que preocupa. Os clubes, sob o ponto de vista das empresas, já não estão mais tão atrativos”, comentou.

Arenas
Por outro lado, times que investiram na modernização de seus estádios aumentaram satisfatoriamente o faturamento com bilheteria. O Palmeiras sal­tou de R$ 23 milhões em 2014 para R$ 87 milhões em 2015, quando ficou pronto o Allianz Parque. O Corinthians, nos três primeiros anos de sua arena, em Itaquera, não revelou quanto ganhou com venda de ingres­sos, mas saltou de R$ 32 mi­lhões em 2013 para R$ 63 mi­lhões em 2017, no primeiro ano em que informou o resultado de sua bilheteria em Itaquera.

Para Pedro Daniel, o Pal­meiras “entrou em um círculo virtuoso e tem geração de caixa muito alta”. O Corinthians teve queda de patrocínio grande, de R$ 78 milhões em 2017 para R$ 42 milhões no último ano. “Por isso precisou vender atletas, pro­blema semelhante ao do Santos”.
O time da Vila, no entanto, ainda não contabilizou a venda de Rodrygo, cerca de R$ 100 milhões, e por isso “está econo­micamente estável”. O São Pau­lo mostra que “historicamente” é um clube superavitário. Tem despesas parecidas com recei­tas. Teve oscilação entre 2014 e 2015 porque investiu muito e não teve retorno. Mas agora está pagando os empréstimos com sua realidade”.

Comparação com a Europa
Segundo Pedro Daniel, o futebol brasileiro está ainda dis­tante de ser um centro como o da Europa porque não olha seu produto como um todo. Cada clube senta individualmente para negociar seus contratos e isso enfraquece a competição. “Você não vê isso em lugar ne­nhum do mundo. Para ter um produto forte tem de ter união”, disse. “Seria necessário todos sentarem juntos na mesa e pen­sarem juntos a competição, co­locarem questionamentos: será que os horários são adequados para exportar o produto? Será que não seria mais vantajoso fechar contratos do campeona­to em si?”

O especialista estudou por anos a Premier League (Campe­onato Inglês), na Inglaterra, e a La Liga (Campeonato Espanhol), da Espanha. Lá, a competição é vendida como a Fórmula 1 ou a NBA. Não importa em que está­dio aconteça a partida, as placas de publicidade terão os mesmos anunciantes. E para exemplificar a maneira de pensar em conjun­to, ele relembrou uma conversa que teve com o presidente da La Liga, Javier Tebas.

“Disse para ele que no Bra­sil a população ridicularizava o Campeonato Espanhol porque era previsível. Ele concordou que era previsível. E me disse: ‘a Premier fatura 5 bilhões de eu­ros. A gente fatura 3,3 bilhões de euros. Se fizer igual e distribuir igual o dinheiro, vou chegar nos campeonatos europeus e vou perder. Nós temos duas marcas globais. Essas marcas valorizam a Liga, atraem patrocinadores, público… E você pega os últimos dez anos, esses dois clubes ga­nharam tudo na Europa. O fute­bol espanhol dominou o merca­do europeu e mundial’”.

No Brasil, o problema se­gundo o consultor, é que o fu­tebol é discutido sob o ponto de vista de torcedores e não de um negócio lucrativo. “Se o conte­údo é discutido isolado, o bolo não cresce. E então vemos voos de galinha como foi o salto do Corinthians entre 2008 e 2012 e agora o do Flamengo nos úl­timos três, quatro anos. O clube se destaca, mas tem um teto. O produto limita.”

Outro fator limitador é o pouco interesse de multina­cionais de investir no futebol brasileiro. Segundo Pedro Da­niel, isso acontece por causa do curto período de gestão dos clubes. “Pense de maneira fria como um investidor. Os clubes têm períodos de mandato de três anos em média. No quarto ano, pode mudar toda a filoso­fia. A multinacional não con­segue pensar em longo prazo. Não vai querer fazer contrato de dez anos porque isso pode pegar quatro gestões diferentes”, explica. Portanto, embora os nú­meros sejam interessantes para Palmeiras, Corinthians, Santos e São Paulo, ainda há um cami­nho a ser percorrido.

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