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Um basta ao desgoverno Bolsonaro

O início de 2021 acendeu uma luz para que a vida em sociedade vol­te, devagar, à normalidade. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso emergencial das vacinas Coronavac (parceria de uma empresa chinesa com o Instituto Butantan) e a de Oxford (parceria com a Fiocruz). Profissionais de saúde começaram a ser vacinados em todos os estados da Federação. Mas, infelizmente, o que deveria ser mo­tivo de comemoração se transforma em preocupação. E a culpa integral disso é do governo Bolsonaro.

Paralelamente ao anúncio do uso emergencial das vacinas, a so­ciedade brasileira acompanha, atônita, ao drama vivenciado na capital amazonense. Hospitais ainda estão (até o fechamento deste artigo) sem oxigênio para atender ao aumento de novos casos graves de Covid-19. Familiares buscam cilindros de oxigênio diretamente com fornecedores.

O sistema de saúde de Manaus entrou em colapso e as cenas de pessoas tentando salvar seus entes queridos são desesperadoras. Como médico e dirigente setorial confesso que nunca imaginei assistir a algo semelhante no Brasil. Novamente a culpa desse estado de calamidade pública e descaso com os semelhantes é do governo Bolsonaro.

A Força Nacional do SUS, que existe desde 2011 e atua em casos extremos, foi convocada pelo Ministério da Saúde no início do ano para analisar a realidade de Manaus, que já vinha registrando aumento de casos de Covid-19 desde dezembro. Em relatórios “oficiais” enviados ao ministro Pazuello a partir de 8 de janeiro, a escassez de oxigênio na cidade foi relatada, inclusive com previsão exata da data de colapso no atendimento, ou seja, 14 de janeiro.

Mesmo assim, o Ministério da Saúde, em desrespeito à vida e aos cida­dãos amazonenses, enviou quantidade insuficiente de oxigênio a Manaus. Pessoas morreram asfixiadas e profissionais da linha de frente da assistên­cia postaram vídeos comoventes nas redes sociais. Uma barbárie!

A White Martins, empresa fornecedora de oxigênio em Manaus, também comunicou Pazuello dias antes do colapso na assistência que não tinha como suprir ao aumento da demanda por oxigênio. O Governo do Estado do Amazonas também pediu socorro. Todos os alertas foram em vão. Diz o relatório da Força Nacional do SUS de 13 de janeiro e divulgado pela imprensa (que Bolsonaro tanto combate): “O colapso vai acontecer na madrugada de hoje. Não existe O2 (oxigênio) para repor durante a madrugada. Todas as médias de projeção foram quebradas hoje durante o dia”. E foi o que aconteceu na madrugada de 14 de janeiro.

Quando as mortes começaram a ser mostradas em rede nacional, Bolsonaro declarou que tinha “feito o que podia”. Paralelamente, seu ministro da Saúde tentava encontrar um “culpado” para a situação de Manaus e chegou a cogitar que a responsabilidade era da empresa for­necedora de oxigênio. Mentiu descaradamente. Não seria este um bom exemplo de “coisa de marica?” Mas, claro, a tentativa não colou.

Agora, nos deparamos com a falta de matéria-prima para a produção das vacinas aprovadas em uso emergencial pela Anvisa por culpa do de­sastre da nossa diplomacia, que em governos anteriores sempre foi mo­tivo de orgulho nacional. Esses insumos vêm da Índia e da China, dois países colocados à margem pelo governo Bolsonaro. A Índia apresentou à Organização Mundial do Comércio, em outubro, pedido para quebra de patentes temporária para produtos de combate à pandemia.

O Brasil preferiu se aliar aos EUA e votou contra o pedido. Isso nos afastou dos indianos. Já com a China, o governo Bolsonaro sempre teve uma relação conturbada. Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do presidente, deflagrou uma crise diplomática ao postar, em redes sociais, que a China era a responsável pela pandemia. O Ministério das Relações Exteriores nunca se retratou por isso.

O Brasil está à deriva. Bolsonaro sempre negou a pandemia, a vacina e ainda insiste na cloroquina como “remédio” para o tratamento da Co­vid-19, quando todas as evidências científicas mostram que não há me­dicamento eficaz para tratar o vírus. Se o Brasil dependesse dos esforços de seu governo não teríamos vacina para a população. Agora mente ao dizer que foi o governo federal que investiu na pesquisa da Coronavac. É revoltante. Por menos, dois presidentes sofreram impeachment em nosso país. Já passou da hora de a população e a classe política dar um basta a esse desgoverno.

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