Fernando Reis chega ao Esporte Clube Pinheiros, em São Paulo, para mais um dia de treinos. No aquecimento dá uma atenção especial à perna esquerda. Em dezembro do ano passado, o melhor atleta do Brasil no levantamento de peso precisou operar o joelho antes que o rompimento de um tendão evoluísse de parcial para total, o que poderia comprometer o maior objetivo da carreira, subir ao pódio na Olimpíada de Tóquio.
“Foi um pouco atípico. A primeira cirurgia da minha carreira. Tive seis meses de reabilitação, três de fisioterapia e três muito fortes para chegar nos Jogos Pan-Americanos”, conta Fernando em entrevista à Agência Brasil
O empenho rendeu a Fernando o tricampeonato no Pan de Lima, mesmo em fase de recuperação física e 10 quilos atrás das melhores marcas. A prova da modalidade consiste em dois exercícios: arranco (quando o atleta ergue o halter de uma vez) e arremesso (quando há duas etapas no levantamento). No Peru ele atingiu 190 kg no arranco e 230 kg no arremesso.
Quatro semanas depois o paulistano de 29 anos evoluiu dois quilos em cada série e ficou em oitavo no Campeonato Mundial, disputado na Tailândia. Em 2018, no Turcomenistão, ele alcançou o quarto lugar, melhor posição de um brasileiro na competição. Apesar disso, considera que o desempenho na edição deste ano foi positivo.
“Eu não tive tempo hábil, uma janela grande para fazer uma outra preparação e chegar bem ao Mundial. Então, para mim, foi mais uma reabilitação. Consegui pegar a vaga para os Jogos Olímpicos. E para o ano que vem, vamos melhorar o resultado”, garante.
A vaga olímpica está encaminhada. Com a conquista do Pan e a manutenção entre os 10 melhores do mundo na Tailândia, basta participar de mais duas competições pré-determinadas (um torneio na Argentina, em 8 de dezembro, e o Campeonato Pan-Americano, no ano que vem) para assegurar de vez a classificação.
A medalha de ouro em Lima e o top 10 no Mundial também renderam ao paulista o Prêmio Brasil Olímpico de 2019 no levantamento de peso. É a décima vez (sétima consecutiva) que ele é o escolhido como o melhor do país na modalidade.
“Venho desempenhando sempre da maneira mais profissional possível, ganhando os campeonatos mais importantes. Procuro trabalhar mais que todo mundo”, diz Fernando, reconhecendo que a condição para a prática da modalidade no país, de forma geral, precisa evoluir.
“Eu sou muito afortunado. Sou nascido e criado no Pinheiros, então, em termos de logística e respaldo, sempre tive o melhor possível. Mas em termos de Brasil tem de melhorar muito para que outros atletas tenham a mesma estrutura. Quando comecei, poucas pessoas tinham conhecimento e domínio necessários para aplicar a modalidade. Hoje em dia há um número maior, mas muito pequeno ainda se você fala de um país continental. Se não tiver uma estrutura profissional, esquece, não tem a menor possibilidade de medalha”, afirma.
Medalha que passou perto em 2016. O quinto lugar de Fernando nos Jogos do Rio de Janeiro foi o melhor desempenho de um halterofilista do país na história olímpica da modalidade. Para ir além em Tóquio, o brasileiro (que caminha para a terceira Olimpíada da carreira) se divide entre São Paulo e os Estados Unidos, onde passa a maior parte do ano.
“Estou muito confiante. No próximo dia 20 de dezembro vai completar um ano da cirurgia no joelho. Agora estou 100% para brigar por essa medalha”, encerra.