A segregação é uma atitude humana, que contradiz o humanismo. A supremacia branca eurocêntrica, de um povo que sempre se julgou superior, e anda de mãos dadas com “Deus”, e esta proteção divina lhes deu o direito de invadir e tomar para si as terras dos habitantes locais, e promoveram o maior extermínio de seres humanos da história – isso foi a civilização carregada de crueldade que impingiram ao chamado Novo Mundo. No Brasil essa crueldade e desumanização ficou chancelada para sempre no sistema escravocrata, que começou com os indígenas e perdurou por quase quatrocentos anos com a escravidão negra, e este sistema de segregação carregou consigo o preconceito racial, que está tatuado no âmago da maioria da população brasileira.
Como a segregação e o preconceito são gêmeos siameses, foi cavado um abismo entre o topo e a base da pirâmide, e a maneira mais eficaz para perpetuar este abismo foi criar uma educação escolar para os ricos, com todas as condições para o aprendizado, e outra educação com todas as dificuldades e precariedades para os pobres, e como vivemos em um regime chamado “Topocracia” – as chances de sucessos estão todas do mesmo lado – o lado dos ricos e poderosos. E este modelo impingido no País há séculos se perpetua.
O Brasil é pródigo em produzir leis que tratam da qualidade na educação básica pública, no entanto, estas leis estão presas nos arcabouços jurídicos, e não chegam no chão das escolas públicas – não saem do papel. Desde a primeira metade do século passado é que brasileiros abnegados tentam criar uma escola pública de qualidade para todos, pois tinham a certeza de que o Brasil só se tornaria um país evoluído se a educação básica pública conseguisse abarcar todas as crianças em um espaço de igualdade, independente da classe social, mas a “Topocracia” não permite que haja evolução humana fora dos seus domínios.
O tempo passou, e a política segregadora que não permite que a escola básica pública evolua permanece no horizonte. Mas há sempre os abnegados que procuram trazer a luz para este ambiente criando programas e estratégias que permitam a eficiência no aprendizado dos educandos. A primeira LDBEN (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), que ficou tramitando por treze anos no Congresso Nacional, pois a “Topocracia” queria uma educação básica privada, mas com o dinheiro da bolsa da viúva, e a escola pública seria um complemento para os desvalidos – perderam, mas até hoje não desistiram desta ideia.
Para dificultar a evolução da educação básica pública, e manter a segregação criaram duas redes – uma estadual e outra municipal, com estruturas díspares e modelos pedagógicos distintos, no entanto, a população é a mesma, a única diferença é a questão social, pois em bairros de remediados, que são chamados de classe média, a escola funciona um pouco melhor, já nos bairros paupérrimos é uma “fartura” – falta tudo. E para tentar mensurar esta desigualdade, e tentar solucionar as discrepâncias existentes foi criado em 2007 o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que avalia os educandos em português e matemática e o fluxo escolar. Acontece que o modelo de escola, com selas de aulas, não faz mais sentido, a as avaliações do Ideb mostram que após dezesseis anos de avaliação, a maioria das escolas não evoluíram, mostrando que o modelo escolar cauçado no século 19, não tem mais serventia no século 21.
O ser humano foi criado para evoluir, mas esta evolução passa indubitavelmente por uma escola básica pública que ensine o educando a ser um ser humano melhor, livre das amarras do preconceito, que veja no seu semelhante um irmão, só uma escola onde impere a fraternidade, nos trará um futuro melhor – ainda há tempo!