De olho na história de Ribeirão Preto, o Professor Lages entrevistou Vinícius Barros, de 33 anos, formado em história, fotógrafo profissional e gestor de projetos culturais. Ele chegou ao Memorial União geral dos Trabalhadores (UGT) em 2011 para integrar a equipe de coordenação do Pontão de Cultura Sibipiruna e permanece até hoje como gestor e pesquisador. Acompanhe a entrevista exclusiva.
Professor Lages – Sabemos que a sede da antiga UGT, hoje Memorial da Classe Operária, é um prédio tombado. Qual o sentido deste tombamento para a atualidade?
Vinícius Barros – O sentido do tombamento é a preservação do bem histórico arquitetônico e com ele a preservação do seu significado cultural e político. No caso do Memorial, preservam-se valores como as lutas coletivas por direitos humanos e sociais, a visão de cultura como manifestação popular e livre, a democracia como espaço de participação política etc.
Professor Lages – Este espaço foi, desde a sua construção, a sede da antiga UGT e, posteriormente, local também de referência do movimento negro na cidade. Existe algumapreocupação com o resgate dessas antigas ocupações e tradições do espaço?
Vinícius Barros – Sim, temos um projeto intitulado “Memória em Movimento” que vem aos poucos levantando informações sobre esses períodos. Está em fase de finalização, por exemplo, o documentário do MCO-UGT, com entrevistas riquíssimas sobre essas histórias. Além disso, a Associação Amigos do Memorial da Classe Operária – UGT vem há alguns anos enviando projetos para editais com o intuito de dar mais consistência à essas pesquisas.
Professor Lages – Desde o tombamento em 2004, como o espaço tem sido ocupado?
Vinícius Barros – O espaço passou por um período de criação dessa ocupação desde o tombamento e a reforma. Até 2004 destaque para a atuação da ONG Pau Brasil e do Seminário Gramsci. Em 2011 inicia-se o trabalho do Pontão de Cultura Sibipiruna, ação cultural com apoio do Ministério da Cultura. A partir daí há um fortalecimento muito grande da AAMCO-UGT e do espaço com mais infraestrutura. Hoje muitos grupos culturais e de outros movimentos requisitam o espaço para eventos.
Professor Lages – Qual tem sido o papel da Pau Brasil e da AAMCO-UGT na preservação do espaço e dadifusão dos seus objetivos?
Vinícius Barros – Principalmente na captação de recursos para a manutenção física do espaço e na elaboração/execução de projetos, sejam eles ambientais, educacionais ou culturais. As duas entidades são muito representativas.
Professor Lages – Parece que UGT e cultura combinam bem. Por quê?
Vinícius Barros – Porque desde a sua origem esse espaço teve na cultura um ponto de convergência e aglutinação. Todos os grupos e movimentos que atuaram e atuam nesse local enxergam o papel central da cultura e fomentam esse trabalho.
Professor Lages – Quais os principais e mais recentes projetos foram desenvolvidos no espaço?
Vinícius Barros – Para destacar dois mais recentes executados pela AAMCO-UGT, cito o “Baixada Cultural”, projeto que teve apoio do Proac-Edital do Governo do Estado, seu principal objetivo foi promover difusão e formação cultural no Memorial de seu entorno; outro projeto foi o que resultou na publicação do livro “Ribeirão Preto Revisitada” sobre a história da cidade do autor Professor Lages, com apoio do PROAC-ICMS.
Professor Lages – Várias entidades e movimentos utilizam o espaço do Memorial. Quais são eles e o que explica esta identidade com o espaço?
Vinícius Barros – Diria que o que explica a identidade dos movimentos com o Memorial é a sua conduta histórica como polo articulador político, sempre ideologicamente próximo dos movimentos populares.
Professor Lages – Este espaço foi muito conhecido pelas gerações mais velhas como União e erasempre uma referência a bailes, festas e outros encontros. Estes bailes, festas eencontros continuam acontecendo? Com que sentido?
Vinícius Barros – Sim, porém não são mais conhecidos como “bailes”, agora são “baladas”. Esses eventos têm como objetivo movimentar o espaço e captar recursos para a manutenção física e pagamento de custos administrativos. São também uma forma de valorização de artistas, principalmente na música.
Professor Lages – Podemos dizer que há uma grande identidade da juventude com o Memorial da Classe Operária na atualidade? Por quê?
Vinícius Barros – Acreditamos que sim, muito por mérito da atuação do Pontão de Cultura Sibipiruna, que deu força para uma série de movimentos culturais que nasceram a partir do espaço ou com ajuda dele, como por exemplo o Se Vira Ribeirão (2012-2015). As festas e outros projetos só vem reforçando a colocação social do Memorial hoje.
Professor Lages – E daqui para frente? O que está na agenda do Memorial? Quais são os desafios e os planos?
Vinícius Barros – Temos o objetivo de aumentar a capacidade do Memorial enquanto centro de pesquisa e documentação, principalmente sobre a história dos movimentos sociais. Para isso, será necessário captar fundos a partir de editais culturais e outros. Tem sido uma de nossas principais ações essa busca.