Ao menos dez pessoas morreram em um ataque da Rússia na cidade de Chernihiv, na Ucrânia. Segundo a Embaixada dos Estados Unidos em Kiev, as pessoas esperavam na fila para comprar pão quando foram atingidas, nesta quarta-feira, 16 de março. A informação também foi divulgada pela Procuradoria de Justiça ucraniana.
“Soldados russos atiraram contra pessoas que faziam fila para comprar pão perto de uma mercearia em uma área residencial de Chernihiv. De acordo com um balanço inicial, dez civis foram mortos”, anunciou a Procuradoria de Justiça em comunicado. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 726 civis ucranianos já morreram na guerra, entre eles 64 crianças.
“Hoje (ontem), as forças russas atiraram e mataram dez pessoas na fila por pão em Chernihiv. Tais ataques horríveis devem parar. Estamos considerando todas as opções disponíveis para garantir a responsabilização por quaisquer crimes de atrocidade na Ucrânia”, escreveu a Embaixada dos EUA no Twitter.
Vídeo
Um vídeo localizado pela emissora americana CNN confirma que um projétil ou foguete atingiu um grupo de pessoas na manhã desta quarta-feira, enquanto um repórter local disse que pelo menos dez pessoas foram mortas no ataque. Nas redes sociais, imagens do ataque já começam a se espalhar.
“Em Chernihiv, tropas russas dispararam contra pessoas que faziam fila para comprar pão: pelo menos dez mortos”, também escreveu o Serviço de Comunicações Especiais do Estado e Agência de Proteção da Informação da Ucrânia em sua conta no Twitter. A Rússia, que chama suas ações militares na Ucrânia de “operação especial”, não comentou imediatamente a acusação. Moscou nega atacar civis na Ucrânia.
Negociações
Apesar dos ataques, Ucrânia e Rússia fizeram “progressos significativos” em um plano de paz provisório de 15 pontos, incluindo um cessar-fogo e a retirada russa se Kiev declarar neutralidade e aceitar limites para suas forças armadas, segundo três pessoas envolvidas nas negociações afirmaram ao jornal britânico Financial Times.
“O acordo proposto, que os negociadores ucranianos e russos discutiram na íntegra pela primeira vez na segunda-feira, envolveria Kiev renunciando às suas ambições de ingressar na Otan e prometendo não hospedar bases militares estrangeiras ou armamento em troca de proteção de aliados como EUA e Reino Unido e Turquia”, diz o Financial Times.
A natureza das garantias ocidentais para a segurança ucraniana – e a aceitação de Moscou – ainda pode ser um grande obstáculo para qualquer acordo, assim como o status dos territórios ucranianos tomados pela Rússia em 2014. Um acordo de 1994 que sustentava a segurança ucraniana falhou para evitar a agressão russa contra o seu vizinho.
Embora Moscou e Kiev tenham dito nesta quarta-feira que “fizeram progresso” nos termos de um acordo, autoridades ucranianas continuam céticas que o presidente russo, Vladimir Putin, está totalmente comprometido com a paz e teme que Moscou possa estar ganhando tempo para reagrupar suas forças e retomar sua ofensiva.
Mikhailo Podoliak, conselheiro do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, disse ao Financial Times que qualquer acordo envolveria “a retirada total das tropas da Federação Russa do território da Ucrânia”, ocupadas desde o início da invasão em 24 de fevereiro – ou seja, regiões do sul ao longo dos mares Azov e Negro, bem como território a leste e norte de Kiev.
A Ucrânia manteria suas Forças Armadas, mas seria obrigada a ficar fora de alianças militares como a Otan e a se abster de hospedar bases militares estrangeiras em seu território. O secretário de imprensa de Putin, Dmitri Peskov, disse a repórteres que a neutralidade para a Ucrânia com base no status da Áustria ou da Suécia é uma possibilidade.
O maior ponto de discórdia continua sendo a exigência da Rússia de que a Ucrânia reconheça sua anexação da Crimeia em 2014 e a independência de dois estados separatistas na região da fronteira oriental de Donbas. O país invadido até agora recusou, mas está disposto a compartimentar a questão, disse Podoliak.
Ataques a principais cidades continuam
Apesar do progresso nas negociações de paz, as cidades ucranianas continuam sob forte bombardeio. As forças armadas ucranianas lançaram contra-ataques contra tropas russas fora da capital, Kiev, e em Kherson, ocupada pelos russos. A informação é de um alto oficial militar ucraniano. O objetivo é causar baixas em massa aos militares russos, em vez de reconquistar o território.
A operação começou na noite de terça-feira e segue nesta quarta. Segundo o militar ucraniano, o contra-ataque envolveu ataques de artilharia, caças e tanques. Imagens de satélite de terça-feira (15) mostram uma forte fumaça negra acima do aeroporto de Kherson, local onde o oficial disse que os ucranianos atacaram aeronaves militares russas estacionadas.