André Luiz da Silva *
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No último domingo, a capital do Azerbaijão, Baku, amanheceu carregada de expectativa. O mundo voltava os olhos para o encerramento da COP29, uma conferência que, ano após ano, carrega o peso de salvar o planeta – ou ao menos tentar. Após intensos debates, foi anunciado um acordo sobre a Nova Meta Quantificada Coletiva. Por trás do nome técnico e pomposo, estava a tentativa de converter promessas em ações concretas.
O compromisso firmado pelos países desenvolvidos foi claro: liderar o financiamento climático com um aporte anual de US$ 300 bilhões até 2035. Esses recursos visam apoiar as nações em desenvolvimento no enfrentamento das mudanças climáticas, uma ameaça global que ignora fronteiras. O financiamento deverá vir de múltiplas fontes – governos, empresas, parcerias – e, quem sabe, de iniciativas mais inovadoras. Essa medida reflete o reconhecimento de que o mundo tem uma dívida com o futuro.
Nesse mesmo dia, uma emocionante reportagem exibida por Luciano Huck trouxe à tona a história de José Aparecido de Macedo, um herói anônimo de Cáceres, Mato Grosso. Há 40 anos, ele dedica sua vida a plantar árvores nas nascentes dos rios do Pantanal, alcançando a impressionante marca de um milhão de mudas plantadas. Como reconhecimento por sua dedicação, José foi convidado a visitar Tuvalu, um pequeno país insular na Oceania, com apenas 12 mil habitantes, que enfrenta a ameaça iminente de desaparecer devido ao aumento do nível do mar.
A população de Tuvalu vive realidades distintas diante desse caos iminente. Alguns preferem o silêncio e a resignação, enquanto outros se empenham em medidas para mitigar os impactos ambientais. Há ainda aqueles que buscam migrar para a Austrália, que, em um acordo recente, comprometeu-se a receber 280 imigrantes por ano. Embora essa saída represente um alívio imediato, ela também simboliza o abandono de histórias e raízes em troca de um novo começo.
No Brasil, muitas vezes nos acomodamos com a ideia de que somos “abençoados por Deus”, esquecendo ou negligenciando nossas próprias tragédias climáticas. O país está entre os mais vulneráveis às mudanças climáticas, com projeções alarmantes de perdas materiais e humanas caso medidas de mitigação e adaptação não sejam rapidamente implementadas.
Os eventos extremos dos últimos meses servem como prova incontestável dessa fragilidade. No Rio Grande do Sul, as chuvas e enchentes de abril atingiram 478 dos 497 municípios do estado, enquanto São Paulo registrou o maior número de incêndios em toda a série histórica monitorada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Esses acontecimentos expõem nossa vulnerabilidade, enquanto as ações para evitar recorrências ainda parecem tímidas.
Diante da inércia governamental, cabe ao cidadão adotar medidas práticas que contribuam para a preservação do meio ambiente. Evitar produtos que contenham CFCs, reduzir o consumo de combustíveis fósseis, não soltar balões ou queimar lixo, denunciar desmatamentos e queimadas, e plantar árvores nos locais adequados são ações que fazem a diferença. Pequenos atos, somados, podem representar grandes mudanças positivas sejam em nossa cidade ou em outro canto do planeta.
Talvez jamais visitemos Tuvalu, mas podemos imaginar um futuro em que seus moradores não sejam condenados a se juntar aos milhões de migrantes climáticos, vítimas de enchentes, ciclones, secas e outros eventos extremos causados pelo aquecimento global. É urgente que reconheçamos a gravidade do problema e ajamos coletivamente para proteger não apenas o presente, mas também as gerações futuras.
* Servidor municipal, advogado, escritor e radialista