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Tudo como sempre foi

A evolução do processo de votação e apuração nas eleições brasileiras nas últimas décadas colocou o Brasil no topo do ranque mundial. No entanto as campanhas dos concorrentes a cargos políticas transitaram no sentido contrário. Mesmo com contestação das viúvas do sistema anterior, ficou com­provada a eficácia das urnas eletrônicas.

Os poderosos sempre manipularam o sistema eleitoral, de acordo com os seus interesses, a ideia dos currais eleitorais era o ápice do coronelismo, tanto no campo como na cida­de. No campo e em cidades pequenas, o coronel recolhia os títulos eleitorais de seus empregados, e votava em nome deles, quando essa prática foi proibida, os jagunços armados ocupa­vam os locais de votação, para intimidar o eleitor. Nas cidades médias e grandes, os cabos eleitorais ligados aos contraven­tores, principalmente do jogo do bicho, comandavam como maestros a votação das periferias pobres.

Esse sistema eficiente, que amarrava o voto do pobre a algum beneficio material se popularizou. Entregar um par de botinas no campo, ou um par de tênis na cidade era muito eficaz. A tática usada por com eficiência por muito tempo, con­sistia em entregar apenas um pé do calçado antes da eleição, e o outro após, se tiver os votos combinado se materializassem. No momento do acordo tácito, o suposto beneficiário entregava seu título de eleitor ao candidato, que anotava a zona, e a seção de votação, para depois conferir se o combinado foi cumprido, e se 90% dos votos comprados fossem entregues, o eleitor rece­bia o outro pé do calçado, caso isso não ocorresse não entrega­va o outro pé, pois para ele este tipo de voto é muito barato.

Por mais que existam leis que combatam estas práticas antidemocráticas, elas continuam passeando pelas periferias pobres em todas as eleições. Prefeitos que são candidatos à reeleição, que abandonaram as periferias pobres nos três primeiros anos de governo, aparecem às vésperas das eleições, para renovar as promessas que não foram cumpridas, e de maneira fraudulenta colocar nas ruas os programas sociais que estavam na gaveta, e de maneira canalha distribuem cestas básicas em plena semana da eleição – contrariando totalmente a legislação.

Já o modus operandi dos candidatos ao Legislativo é mais persuasivo. Dar um pé de tênis antes das eleições parece coisa da velha política nos rincões do Brasil. Ribeirão Preto, em 1992, teve um candidato a vereador oriundo das alagoas, do mesmo partido ex-presidente Fernando Collor (PRN), que usou a estratégia de entregar um pé de tênis antes da eleição e o outro após– foi eleito.

Em uma democracia plena ter eleições livres e limpas é im­prescindível, no entanto a democracia brasileira não consegue sair do lugar. A corrupção têm raízes profundas e, apesar de termos os equipamentos, não temos mão de obra especializada para poder extirpá-la. Presentear com um par de tênis se tor­nou obsoleto, agora é dinheiro vivo na mão no dia da eleição. Em um determinado bairro corria um boato que determinado candidato estava pagando R$ 20,00 por voto.

Ninguém denunciou, pois para eles era uma coisa natural da política. Mas um fato chamou atenção. Havia um cabo eleitoral do candidato posicionado estrategicamente no canto de fora do vitrô da sala de votação fazendo anotações, aí um curioso se aproximou e viu que o sujeito conseguia ver em quem o eleitor havia votado – após a denúncia, a urna foi posicionada corretamente. O candidato foi eleito.

Os perpetuadores desta política canalha, agora querem o voto impresso para poder conferir o voto do eleitor, e pagar a pequena propina. Como disse o saudoso Cazuza: “Foram todos vendidos tão barato que eu nem acredito, eu nem acredito”.

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