Maurílio Biagi Filho*
Se alguém dissesse que as decisões do presidente Donald Trump, o primeiro Oscar do Brasil, o Carnaval e as recentes notícias políticas do governo Lula poderiam estar no mesmo balaio, muita gente duvidaria. Mas o Brasil é essa mistura exótica de samba, política e produções cinematográficas dignas de um roteiro que oscila entre comédia pastelão e tragédia grega.
Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, já demonstrou ao mundo que, se fosse um personagem do Carnaval brasileiro, seria aquele folião que tropeça na própria fantasia e leva o estandarte da escola junto. De discursos desencontrados a confusões diplomáticas, o homem conseguiu transformar a política internacional em uma série de episódios que só o tempo vai nos mostrar como adjetivá-los, pois eles podem mudar radicalmente a geopolítica e as relações comerciais em todo o mundo.
Enquanto Trump ensaia sambar sem cair, o Brasil fez história ao conquistar seu primeiro Oscar de melhor filme internacional, com direito a torcida em clima de Copa do Mundo e em meio à folia carnavalesca. Finalmente erguemos a cobiçada estatueta dourada e mostramos ao mundo a qualidade do nosso cinema, mas isso não foi suficiente para unir o País, aliás, ao contrário. Foi faísca para um novo surto de discórdia.
“Ainda estou aqui”, do diretor Walter Salles, com protagonismo da atriz Fernanda Torres, trouxe para a ficção um tema que mexeu muito com a realidade. Por esse motivo, a vitória do cinema nacional, embora aclamada pelos brasileiros, refletiu a polarização que impregna o nosso Brasil e que, infelizmente, também ainda está aqui. Até a arte virou motivo para a guerra de narrativas e debates acalorados nas redes sociais, como se Oscar fosse um palanque e Hollywood a Marquês de Sapucaí. Parece ser só mais um capítulo da nossa realidade surrealista.
Falando em surrealismo, enquanto o Oscar era disputado, o Brasil estava naquele momento do ano em que a política para e o país entra no transe coletivo da Festa do Momo. Mas, depois da folia, o governo Lula voltou ao palco com decisões políticas que estão dividindo opiniões mais do que disputa de escola de samba no Grupo Especial. Com reformas econômicas, trocas polêmicas de equipe, embates com o Congresso e ajustes na diplomacia, o governo tenta equilibrar a bateria e evitar o rebaixamento no quesito popularidade. Vamos torcer para que o nosso mestre-sala consiga cortejar e proteger a bandeira brasileira da forma que merece, sem deixar o nosso pavilhão enrolar no mastro.
No fim das contas, me resta concluir que nosso país é um roteiro vivo que mistura comédia, drama, ação e até ficção científica (vide certas promessas políticas). Com Trump nos ameaçando no vai e vem das taxações, com uns comemorando um Oscar inédito e outros criticando por politizarem a arte, o Carnaval inebriando a nação e Lula tentando manter a harmonia no desfile governamental, seguimos firmes na avenida da vida almejando a tão sonhada nota 10 de evolução.
Agora, se essa história vai terminar como um drama ou uma comédia, só o tempo dirá. Até lá, seguimos sambando e rodando a baiana, porque brasileiro, no final das contas, nunca perde o ritmo. Como bem escreveu a economista Elena Landau, em artigo publicado no dia 14 de fevereiro, no Jornal o Estado de S. Paulo: “O Brasil é dos brasileiros. Peço desculpas se exagerei na ironia, mas esse país virou uma piada pronta”.
* Empresário