Rui Flávio Chúfalo Guião *
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Antônio Diederichsen nasceu em São Paulo, no dia 01 de agosto de 1875, filho de Bernardo Diederichsen e Ana Cândida Rocha Leão Diederichsen, que cultivavam chá e uva na Fazenda Morumbi – hoje uma das regiões mais valorizadas da capital.
Antônio faz a maior parte de seus estudos na Alemanha e retorna ao Brasil com o diploma de Engenheiro Agrônomo. Logo é convidado para recuperar a Fazenda Desengano, em Batatais, de propriedade de seu primo Arthur, totalmente degradada. Em dois anos, torna-a um modelo de propriedade. O trato com o café e o contato com os fazendeiros, concretizam em Antônio a potencialidade de Ribeirão Preto.
No ano de 1903, a filial local do Banco Construtor e Auxiliar de Santos é decretada falida e Diederichsen arremata o acervo, composto do quarteirão entre as ruas Saldanha Marinho, José Bonifácio, Américo Brasiliense e São Sebastião, onde se localizavam uma serraria, oficina mecânica e fundição.
Como tem pouco conhecimento da manipulação da madeira, convida o alemão João Hibeln, administrator da filial, para seu sócio e no dia 20 de outubro de 1903 surge a Diederichsen&Hilbeln, embrião do Grupo Santa Emília, que comemora 120 anos de existência neste mês.
Diederichsen é um trabalhador incansável. Abre seu estabelecimento às 6h e o fecha às 21h.
Menos de um ano após a constituição da firma, começa a demonstrar seu interesse pela comunidade e, à frente de vários comerciantes, funda a Associação Comercial ,no dia 08 de agosto de 1904.
Em 1911, um evento vai influenciar a vida de Antônio Diederichsen: a chegada a nossa cidade de Manoel Penna. Órfão de pai e mãe logo cedo, tendo de trabalhar para se manter, Penna decide abandonar o Vale do Paraíba paulista e dirige-se a Ribeirão Preto, onde consegue emprego na Diederichsen&Hibeln. Dono de enorme vontade de progredir, Penna faz meteórica carreira na firma, tornando-se o braço direito e sócio de Antônio Diederichsen.
No ano de 1914, com o crescimento da firma, Diederichsen compra 30 mil metros quadrados de terreno na Vila Tibério, para ali transferindo a serraria, fundição, oficina mecânica e fábrica de parafusos para madeira. É o ano em que estoura a primeira Guerra Mundial.
Como Hibeln é germanófilo declarado e passa a insultar os brasileiros, a sociedade chega ao fim e Diederichsen se torna único proprietário da firma.
Em 1922, Diederichsen e Penna decidem trazer automóveis Chevrolet para nossa cidade, criando assim a primeira concessionária do grupo e um pioneiro posto de serviços.
Em 1929, depois de a empresa se tornar o maior empreendimento comercial da cidade, ocorre a quebra da Bolsa de Nova York. Os fazendeiros dormem ricos e acordam pobres, pois não há dinheiro no mundo para comprar nosso café. No ano seguinte, a Revolução de 1930 apeia os coronéis do café de seu poder político. A cidade entra em marasmo.
Para ajudar o retorno do progresso da cidade, Diederichsen constrói, com recursos próprios, o prédio que levaria seu nome, na rua Álvares Cabral, prédio que doaria a Santa Casa, em seu testamento. Nos anos 1950, decide elevar o primeiro edifício alto da cidade, o Umuarama, especialmente construído para ser hotel.
Todas as grandes obras de Ribeirão Preto tem o apoio e financiamento de Diederichsen: a reforma para acolher a Faculdade de Medicina na antiga Escola Prática de Agricultura, a Cava do Bosque, a construção do Pavilhão Tinoco Cabral, da Santa Casa, o Abrigo Ana Diederichsen para tuberculosos.
Antônio Diederichsen morre em 01 de outubro de 1955, deixando à cidade um legado de trabalho e benemerência.
* Advogado, empresário, presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e secretário-geral da Academia Ribeirãopretana de Letras