A criação da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP) está diretamente atrelada a questões políticas e sociais que vigoraram na década de 1940. A população comemorava o fim da Segunda Guerra Mundial e clamava por melhor qualidade de vida, o que incluía cultura e educação de qualidade.
Com isso, muitas cidades do interior de São Paulo reivindicavam faculdades para oferecer aos seus jovens ensino de superior na formação de profissionais liberais e consequentemente uma melhoria na economia destas regiões.
Em Ribeirão Preto não foi diferente. Entidades da sociedade civil organizada, entre elas o Centro Médico e com protagonismo para o seu então presidente Dr. Paulo Gomes Romeo, lutavam para a instalação na cidade de uma faculdade de medicina.
O ano de 1947 foi decisivo. O projeto do deputado Miguel Petrilli que estabelecia a criação da Universidade de São Carlos (UFSCar) tramitava naquela Casa de Leis. Mais que isso, os parlamentares discutiam a interiorização do ensino superior. Foi então que o deputado Luiz Augusto Gomes de Matos incluiu um projeto que criava a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.
O governo estadual comungava da proposta de levar ensino superior ao interior, mas a implantação de uma faculdade de medicina dividia opiniões na USP. Isso porque, apesar de haver à época docentes renomados, dividi-los com o interior sugeriria uma possível perda de qualidade de ensino na capital.
Apesar dessa dúvida, prevaleceu a intenção da implantação. Foi aí que entrou em definitivo um nome importante na história da Faculdade: professor doutor Zeferino Vaz. Foi ele que coordenou uma comissão de ensino e regimentos, que estudou a implantação, com organização dos currículos e planejamento para tal.
Vaz foi rápido. A estrutura curricular foi aprovada pelo Conselho Universitário em setembro de 1951. Em dezembro do mesmo ano o funcionamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) foi autorizado pela lei Estadual 146. Vaz foi indicado para ser o primeiro diretor.
Os empresários da cidade também abraçaram a causa.
Visionário
Se a FMRP é referência hoje, grande parte disso é devida ao professor Zeferino Vaz. Além de espírito empreendedor e visionário, Vaz trazia consigo a sensibilidade de atender aos anseios da sociedade, traçando serviços de saúde que ela pleiteava. O modelo didático-pedagógico foi fundamental nesse processo e na escolha do corpo docente.
A implantação de um modelo americano (da época) garantiu características inovadoras, com ênfase na pesquisa, tecnologia e na superespecialização, assim como a separação do ensino básico do clínico e o tempo integral. A Fundação Rockfeller (criada em 1913 nos Estados Unidos da América, que define sua missão como sendo a de promover, no exterior, o estímulo à saúde pública, o ensino, a pesquisa e a filantropia) foi a principal fonte de financiamento, por conta desse modelo adotado.
Outro ponto importante e que traz enormes benefícios até o presente foi com relação à residência médica, que estava sendo considerada na ocasião e discutia-se sobre cursos de Pós-graduação “stricto sensu”. Além disso, mudanças de legislações, econômicas, e sociais, com uma modificação do sistema de saúde e valorização da prevenção, ocorriam no Brasil, que iam ao encontro de uma proposta da inclusão no projeto da FMRP de um Centro de Saúde-Escola.
A FMRP nascia com discussões que valorizaram a entidade como, por exemplo, da importância da Medicina Preventiva, da limitação do número de vagas e rigorosa seleção dos alunos, além do tempo integral para as disciplinas básicas e clínicas, criação de uma Escola de Enfermagem e a criação de um Hospital Escola, o que estava de acordo com o “modelo americano” e com as exigências da Fundação Rockfeller.
Diante dessas discussões e diretrizes o Corpo Docente inicial da FMRP foi composto por renomados professores europeus, sul americanos e brasileiros. Constavam no currículo inicial da Faculdade, disciplinas que não existiam em outras faculdades de medicina brasileiras da época.
Sede no Centro
Na fase de instalação e nos primeiros anos, a sede e alguns laboratórios da FMRP funcionaram em uma casa situada na Rua Visconde de Inhaúma, 757, Centro. O aluguel desse prédio era pago pela Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto. As aulas foram ministradas no prédio da Faculdade de Farmácia e Odontologia. A Santa Casa de Misericórdia de Ribeirão Preto propiciou o treinamento clínico e cirúrgico.
Ainda nos anos 1950 ocorreu a mudança da Faculdade para a sede da antiga Escola Agrícola, a disponibilização de moradias para docentes e funcionários (nos arredores do Prédio Central), e a criação e a implantação do Hospital das Clínicas. Com a finalização da construção de novo prédio, em 1978 e 1979 o HC mudou para o Campus. Na antiga sede foi instalada a Unidade de Emergência.
Em 02 de abril de 1963, sob a presidência do vice-diretor, professor dr. Mauro Pereira Barreto, foi instalada a Congregação da FMRP (ata histórica). Nos primeiros anos, quando necessário quórum específico, este era completado com docentes da Faculdade de Farmácia e Odontologia.
Zeferino Vaz permaneceu na Faculdade por 12 anos. Em 20 de março de 1964, a Congregação da FMRP despediu-se de seu criador, realizando sessão solene para conceder-lhe o título de “Professor Honoris Causa”, com a presença de autoridades educacionais, civis e eclesiásticas.
Ao longo das décadas, mudanças curriculares foram necessárias, decorrentes de avanços da ciência e da tecnologia, e outras, como legislação e de necessidade da população.
Nesses 60 anos ocorreram a criação do curso de Ciências Biológicas (década de 1960), a implantação da Residência Médica e da Pós-graduação stricto sensu, reestruturações departamentais, a organização do Museu Histórico, mudanças nos papéis do professor de Ciências da Saúde, mudanças nas atividades meio, elaboração de Plano Diretor, criação de fundações, lançamentos de revistas científicas e a instalação de novos cursos (Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Nutrição e Metabolismo, Fonoaudiologia, além de Informática Biomédica, compartilhado com a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – FFCLRP).
A hierarquização do sistema de saúde, assim como das novas solicitações do “paciente-cidadão” exigiram mudanças, também no Hospital das Clínicas (destinado predominantemente aos níveis terciário e quaternário), na Unidade de Emergência e nas outras unidades de apoio, com significativa ampliação dos espaços extra-muros. A FMRP passou a atuar, também, em outras vertentes da extensão universitária.
Assim, a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto busca formar profissionais de acordo com as necessidades de saúde do Brasil, com excelente nível de atenção à saúde. Os seus cursos de extensão universitária contribuem para a educação permanente de profissionais de áreas diversas. Forma mestres, doutores, pesquisadores e pós-doutores; desenvolve importantes pesquisas, contribuindo para a evolução do conhecimento científico.
É sem dúvida, um dos pilares do desenvolvimento de Ribeirão Preto.
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