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Trânsito matou 30% menos em Ribeirão Preto 

Por Adalberto Luque 

Manhã de segunda-feira (02/10), cruzamento da Avenida Francisco Junqueira e Rua Nilo Peçanha, na região central de Ribeirão Preto. Pela avenida vinha a motocicleta Honda CG 160 conduzida por um homem de 48 anos. Pela Nilo Peçanha vinha um carro de aplicativo conduzido por um homem, que levava uma passageira. 

No cruzamento havia um semáforo que, certamente, estava fechado para um dos dois veículos envolvidos. Houve a colisão e o motociclista foi ao solo, após um forte impacto. Os danos materiais foram mínimos. No carro, motorista e passageira saíram ilesos. 

O homem de 48 anos, pai de uma criança, que seguia em sua moto, todavia, morreu antes mesmo que o socorro pudesse chegar. A morte de Leandro Azevedo ainda não consta nas estatísticas divulgadas recentemente pelo Infosiga SP, sistema do Governo do Estado gerenciado pelo programa Respeito à Vida e Detran-SP.  

Mas pelos números atuais, de janeiro a agosto de 2023 foram 27 mortes nas vias urbanas e outras 15 nas rodovias que cortam a cidade, 42 no total. Desses, 20 eram motociclistas, que lideram o ranking de mortes na triste estatística. 

Ainda assim, o Infosiga – SP apresentou números que trazem esperança. Se entre janeiro e agosto de 2022, o trânsito de Ribeirão Preto matou 64 pessoas – foram oito mortes a cada mês -, em 2023, no mesmo período, a redução foi de 34%.  

Economia de tempo e dinheiro 

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019 Ribeirão Preto tinha uma frota de 305.357 automóveis e 111.249 motocicletas. Em 2022 a frota local cresceu para 308.643 automóveis e 115.479 motocicletas.  

 Os carros cresceram 1,6% no período. Já as motos tiveram um crescimento bem maior, 4,77%. Foram vendidas e emplacadas muito mais motos do que carros na cidade. 

Fernando Antônio Mendonça tem habilitação de moto há 34 anos e chegou a ter algumas motos. Depois ficou só no carro. Há 10 meses, optou por comprar nova moto. “De minha casa até onde trabalho são 14 km. Ida e volta são 28 km todos os dias. De moto é uma economia de tempo e dinheiro. Gasto 10 minutos no trajeto. De carro gasto pelo menos 25. Além disso, de carro gasto um tanque a cada dois dias. Já de moto é um tanque a cada duas semanas”, explica.

Mas Mendonça admite que nem tudo são flores na vida de um motociclista. “Por diversas vezes passei por situações de risco no trânsito. Motoristas que não dão seta, avanço de parada obrigatória. Motoristas não respeitam motociclistas, principalmente os com motos de baixa cilindrada. Mas muitos ‘motoqueiros’ abusam no trânsito, andando em alta velocidade. Sabendo usar, a motocicleta é um veículo excelente”, pontua. Com mais motos e carros circulando, o risco de acidentes aumenta.

Fernando Mendonça economiza 15 minutos indo ao trabalho de moto e só abastece a cada 15 dias; se fosse de carro, gastaria meio tanque a cada dois dias (Foto: Alfredo Risk)

Mais acidentes 

O quantitativo de sinistros sem acidentes fatais registrados no acumulado do ano (janeiro a agosto) apresentou um aumento de 27,1%, em comparação com o mesmo período do ano passado, nas vias urbanas de Ribeirão Preto. Foram contabilizadas 3.009 ocorrências neste período de 2023, contra 2.368 em 2022. Nas rodovias também houve aumento de 12,3% em comparação ao ano passado.  

Mas acidentes sem fatalidades não significa ter havido somente danos nos veículos envolvidos. Também são computados os gastos com vítimas leves, moderadas e graves, mas que não evoluíram para óbito.  

Vítimas estas que podem ter sofrido mutilação, internação, tratamento prolongado, ter que passar por fisioterapia e até invalidez. Vítimas que aumentam o custo social de um acidente de trânsito. 

Só em 2023, a cidade registrou a média de 14 acidentes por dia. Praticamente uma colisão a cada duas horas. Isso mobiliza Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, Polícia Militar Rodoviária, concessionárias de rodovias (quando ocorrem nas rodovias), guinchos, oficinas mecânicas, hospitais e ambulatórios e muito mais. 

Pedindo a Deus 

Giuliano de Marco tirou sua habilitação para conduzir moto em 1988. Já teve mais de 10 motos. Inicialmente utilizava para trabalhar, só tirando o carro da garagem nos dias de chuva e aos finais de semana. Mas chegou a ficar sem moto por vários anos. 

“Em uma ocasião um caminhão iniciou uma conversão a esquerda e eu já tinha iniciado a ultrapassagem. Consegui virar a moto na mesma direção do caminhão, mas bati o ombro na carroceria, machucando. Porém não houve queda. Depois dessa, vendi a moto e fiquei uns quatro anos sem. Em outra situação, uma linha com cerol quase me derrubou. Ainda bem que tinha colocado a antena, que cortou antes que isso atingisse meu pescoço”, conta de Marco.

Giuliano reza a Deus antes de sair de moto para fazer entregas aos clientes de sua empresa familiar (Foto: Alfredo Risk)

Ele voltou a ter moto. “Atualmente temos um negócio de produtos naturais e faço as entregas de moto, visando rapidez e economia no frete”, adianta. Com a moto, além da facilidade de deslocamento e estacionamento, a economia é diferencial. Sua moto faz 40 quilômetros por litro. Mas o medo de acidente reforça os cuidados. “Tenho medo a todo momento, e rezo a Deus para me proteger e me levar com segurança de volta para minha família”, admite de Marco. 

E motivos para preocupação não faltam. De acordo com o Infosiga, os homens respondem por 74,07% dos óbitos ocorridos em Ribeirão Preto, enquanto as mulheres são 25,93%.  

O condutor corresponde a 74,08% das mortes em acidentes fatais, enquanto passageiros mortos representam apenas 3,7%. Os pedestres são 22,22% dos mortos no trânsito pelas ruas da cidade.  

Em 2023, 51,85% das mortes ocorreram no hospital, enquanto 44,44% morreram no local do acidente. A faixa etária que mais morre é de 18 a 24 anos, seguido pela faixa dos 35 a 39 anos. 

Apesar da redução no número de mortes no trânsito, o Infosiga – SP demonstra que ainda há muito a ser feito. Até porque o total de acidentes aumentou muito. Prudência, respeito às leis de trânsito e atenção constante acabam sendo sempre requisitos necessários. E nunca é demais fazer como de Marco, pedindo proteção a Deus. 

Morte evitada é ganho absurdo 

Mestre em Engenharia de Transportes e especialista em trânsito, o engenheiro Fernando Velázquez, avaliou os resultados do Infosiga SP.  

Velázquez: “A gente precisa pensar muita atenção sobre como estamos tratando o pedestre e o ciclista”(Alfredo Risk)

“Temos uma queda no número de óbitos e isso, de certa forma, é um valor positivo, porque dentro dos estudos que envolvem segurança viária, faz parte de um plano maior de zerar as mortes no trânsito reduzindo a celeridade nos acidentes. Precisamos adotar medidas de segurança viária para que estes números caiam cada vez mais. Qualquer morte que a gente evite, já é um ganho absurdo. A engenharia tem que trabalhar com isso. Essa redução no número de óbitos pode ir de encontro às melhorias que os dispositivos das rodovias tratam os principais acidentes. A gente ainda tem muito que caminhar, mas isso passa prioritariamente pelas ações de engenharia para minimizar o número de óbitos nas estradas e também em áreas urbanas”, diz.  

“Em relação às motocicletas, temos um problema grave. É um modo de transporte muito exposto e associado ao fator socioeconômico. É um bem que tem valor mais baixo e acaba desenvolvendo as mesmas velocidades que um automóvel, mas tem dispersão mais rápida no tráfico. [Mas num acidente] a absorção de um impacto vai no corpo da pessoa. O impacto é muito grande. Vem gerando muitas mortes por conta da grande exposição por esse modo de transporte. [Além disso] temos o conceito de que a maior causa dos acidentes é o fator humano. Não podemos deixar essa constatação simplesmente nas costas do usuário. Temos que trabalhar com engenharia para minimizar um erro humano. Se aquela pessoa acabou tendo um acidente por uma distração, o dispositivo de segurança viário deve estar ali para minimizar esse erro humano”, completa. 

Segundo Velázquez, as cidades precisam ser remodeladas, repensadas, pensando no pedestre e no ciclista, que são os elos mais frágeis no trânsito. “São incompatíveis no compartilhamento do espaço totalmente predatório que o carro ocupa na cidade. A gente precisa pensar muita atenção sobre como estamos tratando o pedestre e o ciclista. As calçadas, por exemplo, são parte de um sistema de trânsito, assim como a rua e a avenida são para um automóvel, um caminhão, um ônibus. Muitos investimentos foram destinados para atendimento do modal rodoviário. Mas isso não caminhou na mesma direção do pedestre”, avalia. 

O engenheiro ressalta que os gastos por conta do excesso de acidentes são ruins. “A gente precisa destinar cada vez mais esforços para garantir uma segurança viária mais efetiva tanto em áreas urbanas como em áreas rurais, para que esse cenário se reverta e a gente não tenha tantos gastos com as mortes. Se a gente for pegar em leito de hospital, de 10 ocupações, seis são por conta de acidente de trânsito. É muita coisa. Já passou da hora de nós, que trabalhamos com essa parte de planejamento e engenharia, ter o aporte ainda mais firme em ações efetivas de engenharia, mas também ações de efeito moral, maior e melhor capacitação de nossos condutores. Questionar como é feita a formação dos condutores. Tudo isso passa por uma análise mais ampla”, finaliza 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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