Por Adalberto Luque
Uma pessoa perdeu a vida no trânsito de Ribeirão Preto em 2023 a cada quatro dias. Foram 82 mortos no ano. E, a contar pelos resultados obtidos nos primeiros três meses de 2024, a situação continua alarmante: 21 pessoas morreram nas ruas e rodovias de Ribeirão Preto.
Os números são do Movimento Paulista de Segurança no Trânsito (Infosiga-SP). Após registrar sete óbitos em janeiro e oito em fevereiro, o número de vítimas fatais caiu para seis em março, duas a menos e queda de 25%. Mas a média é a mesma do ano anterior.
As mortes, todavia, não são o único problema no caos do trânsito. Os dados mostram que o número de acidentes com vítimas não fatais continua crescendo. Em 2023, as ruas e rodovias que cortam Ribeirão Preto registraram 1.021 acidentes no primeiro trimestre e 5.289 no total daquele ano.
Ou seja, a cidade contabilizou quase 15 acidentes com vítimas leves, moderadas ou graves a cada dia de 2023. Nos primeiros três meses de 2024 foram 1.021 acidentes com vítimas não fatais, uma redução de 4,2% em relação ao mesmo período do ano passado, pelos números do Infosiga-SP.
Apesar de haver registros de menos acidentes, o número de vítimas em 2024 foi 17,5% maior que no mesmo período do ano anterior. Em 2023 foram 263 vítimas, enquanto 309 pessoas sofreram algum tipo de ferimento neste ano. A falha humana é a responsável pela grande maioria dos acidentes.
Impacto
Segundo o Portal do Trânsito, um relatório sobre custo da violência no trânsito, produzido pelo Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), somente em 2015 os acidentes foram responsáveis pelo custo de R$ 52,2 bilhões aos cofres públicos no Brasil.
Considerando que os custos integram o orçamento público, estima-se que o valor corresponde a um gasto de R$ 255,69 por brasileiro. Recursos que poderiam ser investidos no melhoramento do atendimento público de saúde, educação e mobilidade.
Além de impedir investimentos em setores fundamentais para o País, os acidentes de trânsito causam sérias consequências na saúde pública, com reflexos na redução da disponibilidade de leitos para atendimento de pacientes com outras necessidades patológicas; uso de medicamentos, bolsas de sangue e outros insumos que acabam tendo escassez e gerando custos de reposição; elevada taxa de ocupação de UTIs e sobrecarga das equipes de atendimento dos hospitais.
“Reconheço a gravidade dos acidentes de trânsito como um problema de saúde pública. O aumento no número de ocorrências em Ribeirão Preto e os danos resultantes podem ser comparáveis a uma epidemia em termos de impacto na saúde da população, porém é importante ressaltar que a definição de epidemia se refere a uma doença específica de caráter transitório em uma dada população ou região”, explica Gustavo Pelinson, chefe do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Santa Casa de Ribeirão Preto.
Segundo o médico, o hospital atende cerca de 70% das emergências em Ribeirão Preto. “Dentro desse universo, uma parcela significativa corresponde a acidentes de trânsito que demandam atendimento médico prioritário”, acrescenta Pelinson.
Ele explica que esse cenário impacta, por exemplo, na logística do centro cirúrgico, principalmente em relação a procedimentos eletivos, resultando e mais tempo do que o previsto para que os pacientes com cirurgias programadas sejam convocados.
“Não só a Santa Casa de Ribeirão Preto, mas outras instituições de saúde também enfrentam desafios significativos ao lidar com o aumento do número de acidentes de trânsito. A sobrecarga nos serviços de emergência e recursos médicos resulta em tempos de espera prolongados, pressionando a capacidade de atendimento e a rotatividade de leitos”, conclui.
Mortes e feridos
Os dados coletados pelo Infosiga-SP apontam que, dos mortos em 2024, 76,19% eram do sexo masculino e 23,81% do sexo feminino. O número indica que o total de mulheres mortas no trânsito aumentou. Em 2023, o índice foi de 84,15% de homens mortos, contra 15,85% de mulheres.
Os motociclistas são os que mais morrem no trânsito. Em 2023, das 82 mortes registradas, 35 foram de pessoas acidentadas sobre motos. No primeiro trimestre deste ano, das 21 mortes, 13 foram de motociclistas. Pedestres e condutores de veículos vêm em seguida.
Em relação a acidentes com vítimas não fatais, 86,78% deles ocorreram nas ruas urbanas e 13,22% nas rodovias que passam por Ribeirão Preto. Número semelhante ao apurado no ano passado, com 88,9% dos acidentes em áreas urbanas e 11,1% em rodovias.
A média de mortes no trânsito foi de uma pessoa a cada quatro dias em 2023, número que se manteve em 2024. A maioria das mortes ocorre no hospital (61,9% em 2024 e 53,66% em 2023), mas uma boa parte das vítimas morre no local do acidente, antes mesmo de serem levadas a um hospital.
Maio Amarelo
De acordo com o ONSV, em maio de 2011 a Organização das Nações Unidas (ONU) decretou a Década de Ação para Segurança no Trânsito e o mês tornou-se referência mundial para ações. O amarelo simboliza atenção no trânsito. No Brasil, o Maio Amarelo é uma campanha de conscientização sobre segurança no trânsito e sua primeira edição ocorreu em 2014.
As ações têm crescido, com o objetivo de conscientizar a população para um tema tão preocupante: a violência no trânsito. Uma das ações conseguiu chamar a atenção de quem passou pelo local.
Ocorreu na segunda-feira (6 de maio), na Praça Hélio Smidt, confluência das avenidas Portugal, Nove de Julho e Antônio Diederichsen, na Vila Seixas. A RP Mobi utilizou um veículo e uma motocicleta, simulando um acidente, utilizando um volume coberto, representando uma vítima fatal. A cena chocou.
“Nossa intenção é chamar atenção da população e essa ação foi realizada com o apoio do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Atualmente, 94% dos sinistros de trânsito acontecem por imprudência e isso é o que gera maior preocupação, porque significa que estas ocorrências poderiam ser evitadas”, afirma Thainá Diniz, chefe da Escola Pública de Trânsito da RP Mobi.
“O trânsito é uma responsabilidade de todos e para isso a gente pede a conscientização da população, principalmente, com atitudes prudentes no trânsito”, emenda. Ao todo, serão realizadas mais de 20 atividades ao longo deste mês.
Concessionárias
As duas concessionárias que administram rodovias na região de Ribeirão Preto, Arteris ViaPaulista e Entrevias, também desenvolveram ações de conscientização.
A Entrevias realiza, ao longo do mês, ações com focos específicos em motociclistas, pedestres, ciclistas, motoristas, caminhoneiros e até mesmo com os colaboradores da concessionária.
“A segurança do usuário de rodovia está diretamente ligada ao comportamento dele no seu trajeto, por isso essas ações de orientação são importantes, apesar de comemorarmos o mês, a consciência no trânsito deve acontecer o ano todo”, afirma o especialista de segurança viária da Entrevias, Ariel Garavine.
Estatísticas
A Arteris ViaPaulista também tem realizado ações específicas, como o “Acorda Motorista” (tendo como foco os condutores de veículos pesados) e o Viva Motociclista, entre outras.
De acordo com a concessionária, na área sob sua gestão, o sono foi a causa provável de 5% dos acidentes registrados em 2023. Os dados foram analisados pelo Centro de controle Operacional (CCO) da empresa.
“Uma situação de sonolência pode ocasionar acidentes graves, como invasão de faixa contrária, colisões traseiras e, ainda, choque contra elementos de segurança nas vias. É tão perigoso quanto dirigir alcoolizado e mexendo no celular”, reforça a gerente de Operações da Arteris ViaPaulista, Ana Caetano.
A Arteris ViaPaulista observou, no primeiro trimestre de 2024, um aumento de ocorrências com vítimas envolvendo motocicletas. Em 2024, de janeiro a março, foram 101 acidentes com vítimas, um aumento de 22% em relação à média dos últimos quatro trimestres desde 2020.
A concessionária constatou aumento em outros tipos de acidentes, entre janeiro e maio, no comparativo de 2023 com 2024, como é o caso de saída de pista (+61%), capotamento/tombamento (+14%) e choque (+12%). Por isso vai intensificar as diversas ações de conscientização.
Os números do Infosiga-SP e da SSP mostram que a “epidemia” do trânsito precisa ser cuidada. Caso contrário, o já caótico quadro da saúde pública vai piorar ainda mais. Sem contar nas pessoas queridas que terão suas vidas abreviadas por um acidente de trânsito.
FOTO 04:
Segundo Thainá Diniz, muitas ocorrências poderiam ser evitadas
(Foto: Alfredo Risk)
FOTO 05:
Ação realizada pela RP Mobi teve por objetivo chamar a atenção da população
(Foto: Alfredo Risk)