Por Júlia Corrêa
Uma exposição em homenagem a Chiquinha Gonzaga (1847-1935) pode ser vista no Itaú Cultural até 23 de maio. Sob curadoria dos núcleos de comunicação e música do instituto, cocuradoria da cantora Juçara Marçal e consultoria da biógrafa Edinha Diniz, uma seleção de documentos, partituras, objetos, fotos e conteúdos musicais resgata a trajetória e o legado da compositora e maestrina. Imortalizada pela criação de marchinhas clássicas como Ó Abre Alas, Chiquinha teve uma vida marcada por ousadias tanto em sua carreira quanto em suas relações privadas. Tudo isso em um momento em que o Brasil passava por intensas transformações.
Como em todas as edições das “ocupações” em homenagem a artistas e outras personalidades promovidas pelo Itaú Cultural, esta dedicada a Chiquinha traz recursos que promovem a imersão do público e a interatividade. O som transmitido no ambiente, por exemplo, remete o visitante às ruas do Rio de Janeiro do século 19, onde a maestrina e compositora viveu. Gravuras pertencentes à coleção Brasiliana ajudam nessa ambientação, com ilustrações de pontos como a Praça do Comércio.
Composições de sua autoria podem ser ativadas por recursos interativos, como pedais que acionam o som dos instrumentos de Ó Abre Alas, e um piano de chão cujas teclas, ao serem pisadas, fazem exibir em uma tela interpretações de canções de Chiquinha por artistas como Di Ganzá e Maíra Freitas.
Chiquinha não apenas atravessou episódios históricos importantes, como a assinatura da Lei Áurea e a Proclamação da República. Sua própria vida refletia a complexidade daquele momento. Ela era filha de um militar branco com uma “parda liberta” e sentiu na pele as consequências de transgredir as restrições sociais impostas então às mulheres. Nesse sentido, a exposição busca resgatar a sua afrodescendência e exibe itens reveladores da conturbada separação do marido, em um momento no qual o divórcio não era uma possibilidade.
Indo viver com outro homem, Chiquinha foi acusada de “abandono do lar” e precisou anunciar o seu trabalho como professora de música para garantir o sustento dos filhos. Como será possível conferir na mostra, foi nesse meio-tempo que sua carreira deslanchou. Aprendeu a instrumentar de forma autodidata e, poucos anos depois, em 1885, se tornou a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil, com a estreia de A Corte na Roça.
A recepção de sua obra nem sempre foi favorável. Em 1914, por exemplo, Rui Barbosa fez um discurso (exibido na mostra) condenando a execução, em uma recepção presidencial, de uma composição da artista. Em sua última década de vida, Chiquinha ganhou, porém, o devido reconhecimento, sendo homenageada, em 1925, pela Sociedade Brasileira de Autores Teatrais – da qual foi uma das fundadoras – como “heroína maior da música brasileira”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.